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terça-feira, 30 de julho de 2013

As ONGs ficaram sem argumento

A bióloga que comanda a entidade de referência na defesa dos transgênicos afirma que os mitos caíram e anuncia uma nova geração de produtos geneticamente modificados na saúde e na nutrição

Por Eugênio Esber
A porto-alegrense Adriana Brondani trilhou dois caminhos distantes, quando não opostos, até chegar ao posto de diretora executiva do influente Conselho de Informações sobre Biotecnologia, CIB, em 2011. Um deles, naturalmente, foi a carreira acadêmica. Doutorou-se em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e dirigiu suas pesquisas à biologia do câncer. A outra estrada que Adriana tomou, e que costuma ser bastante íngreme para cientistas, foi a comunicação.  Pela internet, e em programas de rádio e TV, encarou a tarefa de traduzir biotecnologia para jovens – um público normalmente crítico aos experimentos que resultam em alimentos geneticamente modificados. Nesta entrevista a AMANHÃ, Adriana sustenta que o cultivo de transgênicos se impôs no Brasil – e prevê que produtos como arroz e batata deverão ganhar variedades alteradas geneticamente não apenas para reforçar o valor nutricional de alimentos como, também, para gerar medicamentos.

Que dimensão está tomando o cultivo de transgênicos no Brasil?

No ano passado, o Brasil foi o país onde a adoção de transgênicos mais cresceu. Se analisarmos a expansão mundial de transgênicos, em 2012, o Brasil foi responsável por 60% desse aumento. De 2011 para 2012, a área cultivada com variedades geneticamente modificadas no Brasil passou de 30 para 36 milhões de hectares. É um crescimento expressivo, de 21%. Hoje, o Brasil é o segundo país com o maior cultivo de transgênicos. A Argentina é o terceiro. Estados Unidos são o primeiro. Mas a diferença entre Brasil e Estados Unidos está ficando cada vez menor. Claro que a área plantada dos Estados Unidos é muito maior que o Brasil – até por uma questão de extensão territorial. Acontece, porém, que o Brasil teve um crescimento muito grande nos últimos anos, enquanto nos Estados Unidos a adoção de transgênicos já se mostra bastante estável.

Neste ritmo, que projeção é possível fazer para o Brasil?

Os transgênicos já representam 89% da nossa soja, 76% do milho e 50% do algodão. Em todos estes cultivos, o produtor vem adotando de forma intensa as variedades transgênicas. Se olharmos os gráficos ao longo dos anos, é uma crescente. Mas o que o Brasil cultiva de transgênicos é somente milho, soja e algodão.  Embora as pessoas, em geral, quando compram frutas e verduras, fiquem confusas e possam pensar que tudo é transgênico,  a realidade não é esta. O que encontramos de transgênico, no Brasil, entre alimentos naturais, não processados, é somente milho, soja e algodão. Só estes. Dentro de algum tempo vai estar no Brasil, também, o feijão transgênico. Em 2011, a Embrapa aprovou, mas ainda não está sendo comercializado. Está no estágio de desenvolvimento de sementes. É algo bastante importante para o Brasil porque se trata do primeiro feijão transgênico do mundo. A característica dele é oferecer resistência a um vírus que tem um potencial devastador nos cultivos. Para o produtor, vai ser muito importante.

No Brasil, quais são os Estados em que o produtor mais aposta em cultivo de transgênicos?

O Estado que mais adota transgênicos é o Mato Grosso. Depois, pela ordem, vêm o Paraná e o Rio Grande do Sul. 

Aliás, o sul e o centro-oeste se destacam porque são os que têm maior produção agrícola, especialmente lavouras de soja e de milho. A soja, vale lembrar, teve sua primeira soja transgênica aprovada lá em 1998, e o Rio Grande do Sul foi um dos Estados pioneiros na adoção dessa variedade. Já a aprovação do milho veio bem mais tarde, em 2007. Só que a adoção das sementes transgênicas de milho se deu de uma forma muito rápida, muito intensa.

Estas são, também, as regiões em que as ONGs ambientais dão mais combate aos transgênicos?

A resistência que ONGs como o Greenpeace opõem aos transgênicos não parece ser maior em um Estado ou outro, porque elas têm uma atuação global. O que vemos, em geral, na sociedade, é que as pessoas têm dificuldade de entender qual o benefício dos transgênicos porque até aqui os ganhos são agronômicos. É o produtor rural que ganha, diretamente, com esses produtos que apresentam tolerância ao uso de herbicida e resistência a insetos. A população também tem benefícios, claro, mas indiretamente, porque esses produtos acabam gerando uma facilidade de manejo da lavoura, o que aumenta a produção e acaba tornando os alimentos mais baratos – além do ganho ambiental, por conta do uso menor de defensivos agrícolas para controlar pragas.  O benefício maior, então, é agronômico.

Quando os transgênicos devem transcender os limites da lavoura?

O que se espera, o que está por vir, são produtos que terão uma qualidade nutricional alterada. Vão ter benefícios nutricionais, a exemplo do que já existe em desenvolvimento no mundo, como no arroz rico em betacaroteno, que é um precursor de vitamina A... Neste momento vai haver benefícios alimentares para a população. Trabalha-se muito com isso na área de pesquisa. A Embrapa tem vários estudos, tem vários produtos em pesquisa mostrando essas possibilidades de alimentos que proporcionam um ganho nutricional. Por exemplo, uma alface que é rica em ácido fólico. Outra tendência que aparece é a utilização de plantas para a produção de 

medicamentos. É um outro ganho da biotecnologia.  

Dê um exemplo prático de aplicação dessa tecnologia.

Um exemplo: no caso do diabetes, produzir insulina numa folha de tabaco, ou por meio de uma batata transgênica. 

Mas a ideia não é que o consumidor vá ingerir o alimento para absorver o medicamento. Não. 

O medicamento vai ser extraído da folha. É um processo diferente do que ocorre hoje, quando se utilizam micro-organismos, às vezes animais, em um processo muito mais complexo e caro. É possível utilizar a planta para fazer esse processo de modo mais simples e econômico. No Brasil, a Embrapa desenvolve um experimento com uma variedade de soja com microbiocida capaz de prevenir a  contaminação pelo vírus causador da Aids. Também está em pesquisa no mundo variedade de arroz modificado para produzir proteína humana albumina, utilizada contra queimaduras e cirrose, entre outros experimentos.

A agricultura, que já fornece energia, passará também a ser fonte de medicamento?

Exatamente. Será mais uma função da agricultura. E isso é consequência da intensa pesquisa na área, de se ter estudado tanto a genética das plantas. Novos produtos poderão vir aí. Serão os biofármacos, digamos assim, desenvolvidos a partir de plantas. A biotecnologia tem um papel muito importante para a saúde humana. Isso começou intensamente em 1982, com a produção da primeira insulina humana produzida por biotecnologia – antes, extraíamos de animais. Um pouco mais tarde, em 1985, passamos a produzir o hormônio do crescimento por biotecnologia. Vacinas, outro avanço muito importante. A produção de vacinas por DNA recombinante mostrou ter uma eficiência muito maior. Hoje, nós conseguimos produzir vacina de forma muito mais rápida porque estamos utilizando a biotecnologia.  Esta é a nova fronteira  na produção de vários medicamentos que conhecemos, inclusive para tratamento do câncer, que vão ser obtidos dessa forma. A biotecnologia também tem forte impacto nos diagnósticos. Comenta-se tanto a decisão da Angelina Jolie de remover os seios preventivamente. Isso foi possível pelo conhecimento das bases genéticas do câncer e pelos testes genéticos que hoje são desenvolvidos de forma muito rápida graças à biotecnologia. 

Fonte: Revista Amanhã

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