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quinta-feira, 19 de setembro de 2013
A urgência da diversificação da matriz energética brasileira. Entrevista especial com Pedro Bara
“Em vez de olhar para o projeto de construção das hidrelétricas, é preciso olhar para a bacia hidrográfica onde se quer construí-las”, diz o engenheiro.
A possível construção de hidrelétricas pela Eletrobras na Guiana e no
Suriname deve ser vista como “uma potência técnica interessante” tanto
para o Brasil quanto para os países vizinhos, diz Pedro Bara à IHU
On-Line, em entrevista concedida por telefone. Segundo ele, para o
Brasil, esse “projeto tem um aspecto interessante de complementariedade
hidrológica, porque o hemisfério Norte tem uma hidrologia diferente ao
longo do ano”.
Para os demais países, as vantagens são econômicas e ambientais, porque eles ainda são dependentes de fontes energéticas não renováveis. “São países pobres que gastam muito, vivem importando petróleo, óleo. No momento a Guiana gasta algo em torno de 30% do PIB com importações de óleo”, informa.
Na entrevista a seguir, Bara assinala que, caso as hidrelétricas sejam construídas, é preciso adotar princípios ambientais que considerem a preservação futura. “Propomos o mesmo princípio que estamos aplicando para conservar a bacia do Tapajós no futuro, ou seja, perguntar o que queremos conservar da bacia dos Tapajós no futuro. Esse questionamento faz com que se tenha uma visão de futuro da região do ponto de vista ecológico”.
Pedro Bara é engenheiro, mestre em Ciências pela Universidade de Stanford, líder da estratégia de infraestrutura da Iniciativa Amazônica da Rede WWF. Participou da elaboração de planos nacionais e regionais de integração e desenvolvimento da Amazônia sob a liderança dos principais bancos de fomento da região, BNDES, BID e CAF.
Confira a entrevista.
Para os demais países, as vantagens são econômicas e ambientais, porque eles ainda são dependentes de fontes energéticas não renováveis. “São países pobres que gastam muito, vivem importando petróleo, óleo. No momento a Guiana gasta algo em torno de 30% do PIB com importações de óleo”, informa.
Na entrevista a seguir, Bara assinala que, caso as hidrelétricas sejam construídas, é preciso adotar princípios ambientais que considerem a preservação futura. “Propomos o mesmo princípio que estamos aplicando para conservar a bacia do Tapajós no futuro, ou seja, perguntar o que queremos conservar da bacia dos Tapajós no futuro. Esse questionamento faz com que se tenha uma visão de futuro da região do ponto de vista ecológico”.
Pedro Bara é engenheiro, mestre em Ciências pela Universidade de Stanford, líder da estratégia de infraestrutura da Iniciativa Amazônica da Rede WWF. Participou da elaboração de planos nacionais e regionais de integração e desenvolvimento da Amazônia sob a liderança dos principais bancos de fomento da região, BNDES, BID e CAF.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Como avalia a proposta da Eletrobras de construir hidrelétricas no Suriname e na Guiana? Esse projeto é viável?
Pedro Bara – Esse projeto tem um aspecto interessante de complementariedade hidrológica, porque o hemisfério Norte tem uma hidrologia diferente ao longo do ano. Um dos maiores problemas do sistema energético brasileiro é que ele é muito dependente de hidroeletricidade, porque têm épocas em que chove e épocas em que não chove. É por isso que o país tem um sistema interligado. No Sul, por exemplo, chove mais em julho, e em outras cidades do Brasil chove mais nos meses de janeiro e fevereiro. A metodologia do hemisfério Norte é parecida com a do Sul: chove mais em julho e agosto.
A possível construção de hidrelétricas nesses países é uma potência técnica interessante tanto para o Brasil quanto para eles, porque o Suriname e a Guiana ainda queimam bastante óleo. São países pobres, que gastam muito, vivem importando petróleo, óleo. No momento a Guiana gasta algo em torno de 30% do PIB com importações de óleo.
Portanto, esse projeto pode favorecer todos os países envolvidos, porque, se tiver uma hidrelétrica na Guiana, eles não vão mais precisar queimar óleo, terão acesso a uma energia mais limpa. O Suriname tem uma hidrelétrica, mas não dá conta de gerar a energia necessária para o país.
IHU On-Line – Quais as possíveis implicações desse projeto?
Pedro Bara – O que me preocupa é o fato de que quase toda a população da Guiana vive na costa, então, para construir uma hidrelétrica na floresta, é preciso fazer uma estrada de acesso e a área também poderá ser alagada. Foi isso o que aconteceu em Brasília, e aí acabou avançando para o Norte, degradando o estado do Pará. Também há uma diversidade aquática, mas não é tão grande como as do Brasil. Não sei se existem muitas espécies migratórias nos rios da região, mas é preciso verificar.
IHU On-Line – Como o senhor vê a discussão sobre hidrelétricas de reservatório e fio d’água?
Pedro Bara – Parte do problema energético brasileiro está relacionada ao fato de que se exploraram muito os rios de planalto. Nesses rios foi possível fazer reservatórios de maiores volumes de água com menos áreas alagadas, porque se trata de rios mais encaixados. Na Amazônia estão os rios menos encaixados de todos, por isso, em períodos de cheia, alaga uma área imensa, porque o território é muito plano. Então, essa mudança para a planície amazônica é complicada, porque ela dificulta muito a criação de grandes reservatórios, por isso se constroem hidrelétricas de fio d’água.
A discussão sobre qual modelo hidrelétrico é melhor parece culpa dos ambientalistas. Isso é um pouco ridículo. A questão é geográfica. Que culpa os ambientalistas têm se o potencial do planalto está se esgotando e não é tão viável economicamente construir barragens nessas áreas? Por isso é preciso diversificar a matriz energética, investindo em eólica, solar e biomassa.
IHU On-Line – Qual desses dois projetos de reservatórios é o mais adequado para a estrutura geográfica brasileira?
Pedro Bara – O Brasil não está investindo em hidrelétricas simplesmente porque quer, mas sim porque não temos outras opções. Hoje se utiliza o modelo fio d’água porque hidrelétricas com reservatórios alagam uma área grande e comprometem muitas coisas. Além do mais, a geografia dos lugares não é a mesma.
Então, uma mudança no projeto energético requer mudanças políticas. Hoje o Estado já percebeu o crescimento da energia eólica, a qual pode complementar a hidroeletricidade. Na época de seca, quando os reservatórios estão vazios e gerando menos energia, temos de ter alternativas complementares como a solar, a biomassa, a eólica. Com isso, também economizamos a água.
IHU On-Line – Qual é o investimento em energia eólica e solar no país?
Pedro Bara - A eólica está indo bem. O mercado oferece bom preço, e as empresas têm ganhado os leilões. O ideal seria que todos pudessem gerar energia de suas casas através de placas solares e pudessem vender para uma rede. Ocorre que isso ainda não tem financiamento.
IHU On-Line – Quais são os aspectos fundamentais a serem discutidos sobre esse projeto de construção de hidrelétricas no Suriname e na Guiana?
Pedro Bara – Caso essas hidrelétricas sejam construídas, propomos o mesmo princípio que estamos aplicando para conservar a bacia do Tapajós no futuro, ou seja, perguntar o que queremos conservar da bacia dos Tapajós no futuro. Esse questionamento faz com que se tenha uma visão de futuro da região do ponto de vista ecológico.
Em vez de olhar para o projeto de construção das hidrelétricas, é preciso olhar para a bacia hidrográfica onde se quer construí-las. É importante reconhecer o que deve ser preservado. Ou seja, antes de discutir o projeto, nossa proposta é aprimorar o planejamento hidrelétrico na Amazônia.
Fonte: EcoDebate
Pedro Bara – Esse projeto tem um aspecto interessante de complementariedade hidrológica, porque o hemisfério Norte tem uma hidrologia diferente ao longo do ano. Um dos maiores problemas do sistema energético brasileiro é que ele é muito dependente de hidroeletricidade, porque têm épocas em que chove e épocas em que não chove. É por isso que o país tem um sistema interligado. No Sul, por exemplo, chove mais em julho, e em outras cidades do Brasil chove mais nos meses de janeiro e fevereiro. A metodologia do hemisfério Norte é parecida com a do Sul: chove mais em julho e agosto.
A possível construção de hidrelétricas nesses países é uma potência técnica interessante tanto para o Brasil quanto para eles, porque o Suriname e a Guiana ainda queimam bastante óleo. São países pobres, que gastam muito, vivem importando petróleo, óleo. No momento a Guiana gasta algo em torno de 30% do PIB com importações de óleo.
Portanto, esse projeto pode favorecer todos os países envolvidos, porque, se tiver uma hidrelétrica na Guiana, eles não vão mais precisar queimar óleo, terão acesso a uma energia mais limpa. O Suriname tem uma hidrelétrica, mas não dá conta de gerar a energia necessária para o país.
IHU On-Line – Quais as possíveis implicações desse projeto?
Pedro Bara – O que me preocupa é o fato de que quase toda a população da Guiana vive na costa, então, para construir uma hidrelétrica na floresta, é preciso fazer uma estrada de acesso e a área também poderá ser alagada. Foi isso o que aconteceu em Brasília, e aí acabou avançando para o Norte, degradando o estado do Pará. Também há uma diversidade aquática, mas não é tão grande como as do Brasil. Não sei se existem muitas espécies migratórias nos rios da região, mas é preciso verificar.
IHU On-Line – Como o senhor vê a discussão sobre hidrelétricas de reservatório e fio d’água?
Pedro Bara – Parte do problema energético brasileiro está relacionada ao fato de que se exploraram muito os rios de planalto. Nesses rios foi possível fazer reservatórios de maiores volumes de água com menos áreas alagadas, porque se trata de rios mais encaixados. Na Amazônia estão os rios menos encaixados de todos, por isso, em períodos de cheia, alaga uma área imensa, porque o território é muito plano. Então, essa mudança para a planície amazônica é complicada, porque ela dificulta muito a criação de grandes reservatórios, por isso se constroem hidrelétricas de fio d’água.
A discussão sobre qual modelo hidrelétrico é melhor parece culpa dos ambientalistas. Isso é um pouco ridículo. A questão é geográfica. Que culpa os ambientalistas têm se o potencial do planalto está se esgotando e não é tão viável economicamente construir barragens nessas áreas? Por isso é preciso diversificar a matriz energética, investindo em eólica, solar e biomassa.
IHU On-Line – Qual desses dois projetos de reservatórios é o mais adequado para a estrutura geográfica brasileira?
Pedro Bara – O Brasil não está investindo em hidrelétricas simplesmente porque quer, mas sim porque não temos outras opções. Hoje se utiliza o modelo fio d’água porque hidrelétricas com reservatórios alagam uma área grande e comprometem muitas coisas. Além do mais, a geografia dos lugares não é a mesma.
Então, uma mudança no projeto energético requer mudanças políticas. Hoje o Estado já percebeu o crescimento da energia eólica, a qual pode complementar a hidroeletricidade. Na época de seca, quando os reservatórios estão vazios e gerando menos energia, temos de ter alternativas complementares como a solar, a biomassa, a eólica. Com isso, também economizamos a água.
IHU On-Line – Qual é o investimento em energia eólica e solar no país?
Pedro Bara - A eólica está indo bem. O mercado oferece bom preço, e as empresas têm ganhado os leilões. O ideal seria que todos pudessem gerar energia de suas casas através de placas solares e pudessem vender para uma rede. Ocorre que isso ainda não tem financiamento.
IHU On-Line – Quais são os aspectos fundamentais a serem discutidos sobre esse projeto de construção de hidrelétricas no Suriname e na Guiana?
Pedro Bara – Caso essas hidrelétricas sejam construídas, propomos o mesmo princípio que estamos aplicando para conservar a bacia do Tapajós no futuro, ou seja, perguntar o que queremos conservar da bacia dos Tapajós no futuro. Esse questionamento faz com que se tenha uma visão de futuro da região do ponto de vista ecológico.
Em vez de olhar para o projeto de construção das hidrelétricas, é preciso olhar para a bacia hidrográfica onde se quer construí-las. É importante reconhecer o que deve ser preservado. Ou seja, antes de discutir o projeto, nossa proposta é aprimorar o planejamento hidrelétrico na Amazônia.
Fonte: EcoDebate
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