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quinta-feira, 19 de setembro de 2013
Imprensa ainda ajuda a disseminar confusão sobre mudanças climáticas
O jornalismo tem um papel muito importante na conscientização da sociedade sobre as consequências das mudanças climáticas ao “traduzir” estudos científicos para que os cidadãos saibam o que já está acontecendo ao seu redor e quais serão os impactos em suas vidas caso nada seja feito para lidar com o aquecimento global.
Porém, um levantamento do Instituto Reuters para Estudo do Jornalismo da Universidade de Oxford mostrou que a imprensa ainda prefere se ater às pautas relacionadas ao conflito entre céticos versus comunidade científica e às que apenas detalham desastres, sem mencionar a necessidade de políticas climáticas.
De acordo com o trabalho, de 350 reportagens analisadas entre 2007 e 2012, 82% adotaram uma narrativa de desastre, descrevendo tragédias como o furacão Sandy, mas não abordaram que os riscos vão aumentar se não agirmos para lidar com as mudanças climáticas. As matérias em que entrevistados contestam a influência do homem no aumento das temperaturas também aparecem acima dos 80%.
Em contraste, apenas 25% das reportagens apontaram as opções políticas disponíveis para frear as emissões de gases do efeito estufa ou as oportunidades econômicas que países e empresas podem aproveitar se adotarem ações de baixo carbono.
“Existem evidências mostrando que em muitos países o público tem dificuldade para entender as incertezas científicas e as confundem com ignorância”, explicou James Painter, autor do trabalho, que está sendo publicado na forma de um livro (veja o primeiro capítulo).
“Comunicar as consequências observadas das mudanças climáticas é uma tarefa desafiadora, e que é muitas vezes feita de forma insatisfatória pela imprensa”, destacou Will Steffen, comissário climático da Austrália.
Os países abordados pelo levantamento foram Austrália, Estados Unidos, França, Índia, Noruega e Reino Unido. Em cada uma dessas nações foram analisados três jornais, entre eles Le Monde, NY Times, Wall Street Journal e The Guardian.
Austrália e Estados Unidos aparecem como os locais onde mais reportagens sobre as dúvidas da realidade das mudanças climáticas foram feitas.
A pesquisa mostrou ainda que os jornalistas citaram em 60% das suas matérias pesquisadores e estudos publicados em periódicos científicos. No entanto, mesmo nessa situação, quase metade dessas reportagens acabaram também abrindo espaço para vozes contrárias ao aquecimento global, reforçando a impressão nos leitores de que existe um “racha” na comunidade científica.
Em sua participação no programa Roda viva da TV Cultura no mês passado, Carlos Nobre, Secretário do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e membro do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) deixou claro que não existe tal divisão.
“Pesquisas mostram que dos milhares de cientistas que publicam trabalhos na área climática, 98,7% não têm dúvida da origem antrópica das mudanças climáticas”, afirmou.
De acordo com Painter, a linguagem necessária para tratar de um assunto como as mudanças climáticas ainda não é totalmente compreendida pela imprensa. Assim, os jornais interpretam as incertezas inerentes de qualquer ramo científico como fraquezas dos cientistas e oportunidades para matérias mais sensacionalistas.
“Jornalistas são normalmente atraídos por histórias de desastres ou muito dramáticas. Mas eles deverão ficar cada vez mais expostos ao conceito de riscos quando cobrirem mudanças climáticas nos próximos anos. A linguagem utilizada por cientistas sobre os ‘riscos explícitos’ está cada vez mais baseada em números e probabilidades, já que os modelos climáticos estão se tornando mais sofisticados. Para os legisladores, essa mudança deverá alterar o debate da ‘busca pela prova conclusiva’ para uma análise mais útil dos custos comparativos das diferentes opções políticas”, explicou.
Brasil
Apesar de não aparecer na pesquisa, a imprensa brasileira também merece as mesmas críticas.
A edição desta terça-feira (17) do Jornal da Band trouxe mais uma reportagem negando as mudanças climáticas e o degelo do Ártico. Até aí tudo bem, a emissora é livre para fazer qualquer tipo de matéria, mas o problema aparece quando vemos que apenas uma fonte recebeu espaço para falar – apoiando, claro, a visão da Band. Não foi ouvido nenhum dos pesquisadores brasileiros ligados ao IPCC.
Vale destacar que, ao contrário do que afirma a Band, o degelo do Ártico ainda segue acontecendo. Apesar de ter registrado um aumento em relação a 2012, a camada de gelo marinho na região está mais de um milhão de quilômetros quadrados abaixo da média dos últimos 30 anos. O gráfico ao lado mostra como é clara a tendência de queda.
Há poucos meses, a revista Veja fez algo semelhante. Citando apenas um estudo, a reportagem de seis páginas intitulada “O apocalipse terá que esperar” afirmava que o aquecimento global é uma fraude e os que defendem a teoria são “manipuladores”.
Para Carlos Nobre, a constante presença dos céticos na imprensa é um problema, já que a maioria não é membro da comunidade científica e apenas está a serviço dos lobbies dos combustíveis fósseis.
“Eles [os céticos] estão fazendo o mesmo que alguns pesquisadores da área médica fizeram nos anos 1970 sobre a questão do tabaco. Eles estão aí para confundir. Com o lobby do tabaco deu certo. A não regulamentação do cigarro durou mais dez anos. É o mesmo agora, e a estratégia está funcionando”, explicou.
Fonte: Mercado Ético
De acordo com o trabalho, de 350 reportagens analisadas entre 2007 e 2012, 82% adotaram uma narrativa de desastre, descrevendo tragédias como o furacão Sandy, mas não abordaram que os riscos vão aumentar se não agirmos para lidar com as mudanças climáticas. As matérias em que entrevistados contestam a influência do homem no aumento das temperaturas também aparecem acima dos 80%.
Em contraste, apenas 25% das reportagens apontaram as opções políticas disponíveis para frear as emissões de gases do efeito estufa ou as oportunidades econômicas que países e empresas podem aproveitar se adotarem ações de baixo carbono.
“Existem evidências mostrando que em muitos países o público tem dificuldade para entender as incertezas científicas e as confundem com ignorância”, explicou James Painter, autor do trabalho, que está sendo publicado na forma de um livro (veja o primeiro capítulo).
“Comunicar as consequências observadas das mudanças climáticas é uma tarefa desafiadora, e que é muitas vezes feita de forma insatisfatória pela imprensa”, destacou Will Steffen, comissário climático da Austrália.
Os países abordados pelo levantamento foram Austrália, Estados Unidos, França, Índia, Noruega e Reino Unido. Em cada uma dessas nações foram analisados três jornais, entre eles Le Monde, NY Times, Wall Street Journal e The Guardian.
Austrália e Estados Unidos aparecem como os locais onde mais reportagens sobre as dúvidas da realidade das mudanças climáticas foram feitas.
A pesquisa mostrou ainda que os jornalistas citaram em 60% das suas matérias pesquisadores e estudos publicados em periódicos científicos. No entanto, mesmo nessa situação, quase metade dessas reportagens acabaram também abrindo espaço para vozes contrárias ao aquecimento global, reforçando a impressão nos leitores de que existe um “racha” na comunidade científica.
Em sua participação no programa Roda viva da TV Cultura no mês passado, Carlos Nobre, Secretário do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e membro do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) deixou claro que não existe tal divisão.
“Pesquisas mostram que dos milhares de cientistas que publicam trabalhos na área climática, 98,7% não têm dúvida da origem antrópica das mudanças climáticas”, afirmou.
De acordo com Painter, a linguagem necessária para tratar de um assunto como as mudanças climáticas ainda não é totalmente compreendida pela imprensa. Assim, os jornais interpretam as incertezas inerentes de qualquer ramo científico como fraquezas dos cientistas e oportunidades para matérias mais sensacionalistas.
“Jornalistas são normalmente atraídos por histórias de desastres ou muito dramáticas. Mas eles deverão ficar cada vez mais expostos ao conceito de riscos quando cobrirem mudanças climáticas nos próximos anos. A linguagem utilizada por cientistas sobre os ‘riscos explícitos’ está cada vez mais baseada em números e probabilidades, já que os modelos climáticos estão se tornando mais sofisticados. Para os legisladores, essa mudança deverá alterar o debate da ‘busca pela prova conclusiva’ para uma análise mais útil dos custos comparativos das diferentes opções políticas”, explicou.
Brasil
Apesar de não aparecer na pesquisa, a imprensa brasileira também merece as mesmas críticas.
A edição desta terça-feira (17) do Jornal da Band trouxe mais uma reportagem negando as mudanças climáticas e o degelo do Ártico. Até aí tudo bem, a emissora é livre para fazer qualquer tipo de matéria, mas o problema aparece quando vemos que apenas uma fonte recebeu espaço para falar – apoiando, claro, a visão da Band. Não foi ouvido nenhum dos pesquisadores brasileiros ligados ao IPCC.
Vale destacar que, ao contrário do que afirma a Band, o degelo do Ártico ainda segue acontecendo. Apesar de ter registrado um aumento em relação a 2012, a camada de gelo marinho na região está mais de um milhão de quilômetros quadrados abaixo da média dos últimos 30 anos. O gráfico ao lado mostra como é clara a tendência de queda.
Há poucos meses, a revista Veja fez algo semelhante. Citando apenas um estudo, a reportagem de seis páginas intitulada “O apocalipse terá que esperar” afirmava que o aquecimento global é uma fraude e os que defendem a teoria são “manipuladores”.
Para Carlos Nobre, a constante presença dos céticos na imprensa é um problema, já que a maioria não é membro da comunidade científica e apenas está a serviço dos lobbies dos combustíveis fósseis.
“Eles [os céticos] estão fazendo o mesmo que alguns pesquisadores da área médica fizeram nos anos 1970 sobre a questão do tabaco. Eles estão aí para confundir. Com o lobby do tabaco deu certo. A não regulamentação do cigarro durou mais dez anos. É o mesmo agora, e a estratégia está funcionando”, explicou.
Fonte: Mercado Ético
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