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terça-feira, 25 de junho de 2013
“A verdadeira meta é a fome zero”
Sob a liderança de seu diretor-geral, o brasileiro José Graziano da Silva, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) está imersa em um processo de profundas reformas para conseguir maior efetividade na luta contra a fome.
“Um elemento transformador na visão do novo diretor-geral é criar sinergia entre os vários aspectos de nosso trabalho, para que possamos estar mais concentrados e sermos mais eficientes na erradicação da pobreza”, disse em entrevista à IPS a diretora do Escritório de Comunicações, Associações e Promoção da FAO, Marcela Villarreal. “Trabalho nesta organização há 16 anos e posso dizer que estamos melhor depois que adotamos um enfoque multissetorial e multidisciplinar. É este tipo de enfoque que nos permite encontrar formas inovadoras de solucionar velhos problemas”, afirmou.
IPS - Quais são os elementos centrais do programa de trabalho proposto por José Graziano para a FAO?
Marcela Villarreal - Estamos propondo cinco objetivos estratégicos, sendo o primeiro a eliminação da fome. Já não falamos apenas em reduzi-la. É importante assinalar aqui que, embora antes pensássemos que aumentando a produção de alimentos poderíamos erradicar a fome, hoje sabemos que não se trata apenas disso, mas também de garantir acesso à comida. O segundo objetivo é incrementar a produção de alimentos de uma forma sustentável, e o terceiro é erradicar a pobreza rural. O atual programa de trabalho se baseia em um estratégico processo de elaboração. Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e os indicadores em geral se concentram muito nas áreas urbanas, apesar de a pobreza rural ser um dos maiores problemas hoje em dia. Nos concentraremos em três populações rurais em risco de pobreza: pequenos agricultores, aos quais ajudaremos a serem mais produtivos; os diaristas, para cujo benefício iremos apoiar os países com a finalidade de gerarem emprego, aumentando assim a renda e o acesso aos alimentos; e os completamente excluídos. Para ajudar estes últimos, temos que assessorar os países sobre a criação de redes de segurança, mas de uma forma que não seja apenas dar dinheiro, mas apoiando a produção ou o emprego. Por fim, os dois últimos objetivos estratégicos se referem a dar aos agricultores melhor e mais equitativo acesso aos mercados e fortalecer a resistência das populações, reduzindo sua vulnerabilidade diante das ameaças e crise. São nossos Estados membros que terão que alcançar esses objetivos. Nosso papel será contribuir de uma forma estratégica e mensurável para conseguir essas metas.
IPS – Quanta influência tem realmente a FAO sobre os Estados membros que, talvez, não estejam plenamente convencidos desta visão?
MV - Somos muito otimistas quanto a podermos implantar esta visão. Já estamos vendo grandes progressos: no dia 16, 38 países foram premiados por reduzirem os níveis de fome. O fato de já estarmos na metade do caminho nos dá um bom indício de que podemos trabalhar para alcançar o objetivo real, que é a fome zero. Nesta conferência, é claro que os governos apoiam a visão e o programa de trabalho do diretor-geral. Naturalmente, uma boa mostra de vontade política seria ver o orçamento destinado a outros temas.
IPS - Nos últimos anos, a FAO expressou uma crescente disposição para trabalhar com a sociedade civil. Esta participou da redação dos cinco objetivos estratégicos?
MV - Não podemos conseguir nenhum desses objetivos sem uma associação com a sociedade civil, o setor privado, organizações de agricultores, cooperativas, institutos de pesquisas e outros. A participação da sociedade civil é crucial nos processos de diálogo para políticas nacionais, onde é necessário ouvir suas vozes e onde estamos facilitando sua participação. No âmbito internacional, a sociedade civil está plenamente envolvida no Comitê Mundial sobre Segurança Alimentar.
IPS - Quanto às companhias privadas, há precaução para não tratar com aquelas cujos modelos de negócios prejudicam os pequenos agricultores ou os pobres, por exemplo?
MV - Sim, temos mecanismos muito claros para avaliar os riscos e abordá-los. Quando se trata de empresas, primeiro levamos adiante o devido processo de diligências para ver se estas têm problemas com questões trabalhistas, de direitos humanos, ambientais ou outros. Depois temos um subcomitê sobre associações que analisa todos os possíveis riscos, e finalmente temos um comitê sobre associações, presidido pelo diretor-geral pessoalmente. Assim, levamos o assunto muito a sério. Não podemos ignorar as grandes corporações, que são importantes atores no mundo, mas se nós do sistema das Nações Unidas podemos torná-las mais conscientes do impacto sobre o meio ambiente, o trabalho e os temas de gênero, teremos conseguido muito.
IPS - Como a FAO pode reagir quando um governo permite práticas prejudiciais em seu território, como, por exemplo, o monopólio de terras?
MV - Somos uma organização intergovernamental que pertence ao sistema das Nações Unidas, por isso trabalhamos com os governos, que são nossos membros. Nosso papel é garantir que tenham o melhor conhecimento e a melhor assistência técnica para alcançarem os objetivos estabelecidos. Promovemos a boa governança, que implica transparência, participação e responsabilidade. Aqui, e cito as palavras de Amartya Sen, que disse: “Ao gerar uma discussão pública, temos parte da solução”.
Fonte: Mercado Ético
IPS - Quais são os elementos centrais do programa de trabalho proposto por José Graziano para a FAO?
Marcela Villarreal - Estamos propondo cinco objetivos estratégicos, sendo o primeiro a eliminação da fome. Já não falamos apenas em reduzi-la. É importante assinalar aqui que, embora antes pensássemos que aumentando a produção de alimentos poderíamos erradicar a fome, hoje sabemos que não se trata apenas disso, mas também de garantir acesso à comida. O segundo objetivo é incrementar a produção de alimentos de uma forma sustentável, e o terceiro é erradicar a pobreza rural. O atual programa de trabalho se baseia em um estratégico processo de elaboração. Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e os indicadores em geral se concentram muito nas áreas urbanas, apesar de a pobreza rural ser um dos maiores problemas hoje em dia. Nos concentraremos em três populações rurais em risco de pobreza: pequenos agricultores, aos quais ajudaremos a serem mais produtivos; os diaristas, para cujo benefício iremos apoiar os países com a finalidade de gerarem emprego, aumentando assim a renda e o acesso aos alimentos; e os completamente excluídos. Para ajudar estes últimos, temos que assessorar os países sobre a criação de redes de segurança, mas de uma forma que não seja apenas dar dinheiro, mas apoiando a produção ou o emprego. Por fim, os dois últimos objetivos estratégicos se referem a dar aos agricultores melhor e mais equitativo acesso aos mercados e fortalecer a resistência das populações, reduzindo sua vulnerabilidade diante das ameaças e crise. São nossos Estados membros que terão que alcançar esses objetivos. Nosso papel será contribuir de uma forma estratégica e mensurável para conseguir essas metas.
IPS – Quanta influência tem realmente a FAO sobre os Estados membros que, talvez, não estejam plenamente convencidos desta visão?
MV - Somos muito otimistas quanto a podermos implantar esta visão. Já estamos vendo grandes progressos: no dia 16, 38 países foram premiados por reduzirem os níveis de fome. O fato de já estarmos na metade do caminho nos dá um bom indício de que podemos trabalhar para alcançar o objetivo real, que é a fome zero. Nesta conferência, é claro que os governos apoiam a visão e o programa de trabalho do diretor-geral. Naturalmente, uma boa mostra de vontade política seria ver o orçamento destinado a outros temas.
IPS - Nos últimos anos, a FAO expressou uma crescente disposição para trabalhar com a sociedade civil. Esta participou da redação dos cinco objetivos estratégicos?
MV - Não podemos conseguir nenhum desses objetivos sem uma associação com a sociedade civil, o setor privado, organizações de agricultores, cooperativas, institutos de pesquisas e outros. A participação da sociedade civil é crucial nos processos de diálogo para políticas nacionais, onde é necessário ouvir suas vozes e onde estamos facilitando sua participação. No âmbito internacional, a sociedade civil está plenamente envolvida no Comitê Mundial sobre Segurança Alimentar.
IPS - Quanto às companhias privadas, há precaução para não tratar com aquelas cujos modelos de negócios prejudicam os pequenos agricultores ou os pobres, por exemplo?
MV - Sim, temos mecanismos muito claros para avaliar os riscos e abordá-los. Quando se trata de empresas, primeiro levamos adiante o devido processo de diligências para ver se estas têm problemas com questões trabalhistas, de direitos humanos, ambientais ou outros. Depois temos um subcomitê sobre associações que analisa todos os possíveis riscos, e finalmente temos um comitê sobre associações, presidido pelo diretor-geral pessoalmente. Assim, levamos o assunto muito a sério. Não podemos ignorar as grandes corporações, que são importantes atores no mundo, mas se nós do sistema das Nações Unidas podemos torná-las mais conscientes do impacto sobre o meio ambiente, o trabalho e os temas de gênero, teremos conseguido muito.
IPS - Como a FAO pode reagir quando um governo permite práticas prejudiciais em seu território, como, por exemplo, o monopólio de terras?
MV - Somos uma organização intergovernamental que pertence ao sistema das Nações Unidas, por isso trabalhamos com os governos, que são nossos membros. Nosso papel é garantir que tenham o melhor conhecimento e a melhor assistência técnica para alcançarem os objetivos estabelecidos. Promovemos a boa governança, que implica transparência, participação e responsabilidade. Aqui, e cito as palavras de Amartya Sen, que disse: “Ao gerar uma discussão pública, temos parte da solução”.
Fonte: Mercado Ético
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