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quarta-feira, 26 de junho de 2013
O que os protestos ensinam às empresas
As empresas decidiram ficar alheias às manifestações que se multiplicaram em todo o Brasil. Não se mobilizaram para dispensar trabalhadores, nem se pronunciaram, mesmo quando seu patrimônio foi alvo de ataques. Assim, deram a entender que esses prejuízos foram encarados como efeitos colaterais de um embate entre Estado e sociedade civil.
Há aí certa coerência, pois historicamente as corporações se envolvem com política de uma maneira pouco transparente. Apenas na última década, pressionadas por um movimento em favor de maior prestação de contas, algumas empresas passaram a registrar no Tribunal Superior Eleitoral os valores de financiamento de campanhas eleitorais, muito embora sem deixar claro o motivo do apoio a esse ou aquele candidato ou mesmo porque financiar, em muitos casos, ambos os candidatos com chance de vitória.
O momento de ativismo individual que despertou em parte de nossa sociedade, no entanto, é revelador para todos, inclusive para os líderes das empresas brasileiras. Portanto, merece reflexão. Aqueles que trabalham com oferta de serviços de utilidade pública deveriam estar tão atentos e mobilizados quanto os governantes. Empresas de água, energia, telefonia, transportes e demais concessões fazem uma intermediação entre a administração pública e o cidadão e estão diretamente ligados à qualidade de vida das pessoas, logo, são partes interessadas que, de uma hora para a outra, podem ficar no centro da discussão.
Executivos de muitas outras companhias, no entanto, deveriam também se reunir e avaliar os efeitos desse novo ambiente em seu comportamento empresarial. Por que as agências bancárias e as lojas de automóveis foram alvo de vandalismo? Por que as manifestações chegaram às cidades menores onde a influência e o poder econômico de uma única fábrica, muitas vezes, é maior do que a da própria Prefeitura? Por que os jovens de classe média puxaram esse movimento nas redes sociais e os sindicatos e suas centrais permaneceram em silêncio? Por que, num primeiro momento, o ânimo geral foi o de fugir aos rótulos, às marcas, deixando emergir a força da ação individual em favor do coletivo?
Essas e tantas outras questões dizem respeito sim às empresas e suas formas de relacionamento com os demais segmentos da sociedade. De imediato, o combate à corrupção, em todos os níveis, é mandatório. Da mesma forma, a responsabilidade sobre o produto e o serviço oferecido deveria ganhar outra dimensão, ultrapassar o campo do compliance, do atendimento legal, e alcançar o patamar do real interesse dos stakeholders, que na maioria das vezes não está expresso nas linhas dos regulamentos. As redes sociais já demonstraram que podem ser importantes ferramentas para a captura dessas percepções, mas de um modo geral as empresas devem aprimorar seus canais de escuta e efetivamente buscar uma comunicação transparente, não defensiva, capaz de realmente de aproxima-las de seus públicos, não apenas na hora da venda.
Por falar em consumo, quem tem compromisso com a continuidade dos negócios deve procurar entender o que pensam os jovens brasileiros. Ao contrário das gerações dos anos 90 e do início desse século, eles não assumem uma postura individualista e procuram no Exterior as oportunidades que não encontram por aqui. Parecem acreditar que é possível intervir e construir, de forma colaborativa, criativa e compartilhada, aqui e agora uma realidade melhor. Segundo a pesquisa do Ibope, 94% dos manifestantes acredita que vai promover as mudanças reivindicadas.
Filhos de um mundo digital e conectado, os jovens brasileiros são mais dispostos a uma atuação coletiva, contrariando aqueles que acusaram a tecnologia de afastar e eliminar a relação pessoal. Fica evidente que a rede social sempre existiu antes do Facebook, mas tornou-se mais ágil e vibrante a partir das tecnologias de conectividade. Como Carla Mayumi, da Box 1824, apresentou no Sustainable Brands Rio 2013: “Eles querem hackear o sistema, ou seja, quebrar os códigos que já não fazem sentido para a construção de um país melhor”.
Nesse ambiente de intensa troca de informação e de opinião, onde a mediação dos grandes meios de comunicação claramente se enfraqueceu, é interessante pensar também como lidar com demandas diversas, lideranças difusas e sistemas complexos. Ao mesmo tempo em que há pressão por uma capacidade de resposta mais pronta de todos os líderes, a análise e a interpretação do cenário deixou de ser trivial e se tornou um belo desafio. Enfim, o fenômeno recente das manifestações é fruto de um novo ambiente social no Brasil e que não deve ser subestimado pelas empresas. Afinal, se pudéssemos atualizar nossa bandeira, caberia escrever: nova ordem em progresso.
O momento de ativismo individual que despertou em parte de nossa sociedade, no entanto, é revelador para todos, inclusive para os líderes das empresas brasileiras. Portanto, merece reflexão. Aqueles que trabalham com oferta de serviços de utilidade pública deveriam estar tão atentos e mobilizados quanto os governantes. Empresas de água, energia, telefonia, transportes e demais concessões fazem uma intermediação entre a administração pública e o cidadão e estão diretamente ligados à qualidade de vida das pessoas, logo, são partes interessadas que, de uma hora para a outra, podem ficar no centro da discussão.
Executivos de muitas outras companhias, no entanto, deveriam também se reunir e avaliar os efeitos desse novo ambiente em seu comportamento empresarial. Por que as agências bancárias e as lojas de automóveis foram alvo de vandalismo? Por que as manifestações chegaram às cidades menores onde a influência e o poder econômico de uma única fábrica, muitas vezes, é maior do que a da própria Prefeitura? Por que os jovens de classe média puxaram esse movimento nas redes sociais e os sindicatos e suas centrais permaneceram em silêncio? Por que, num primeiro momento, o ânimo geral foi o de fugir aos rótulos, às marcas, deixando emergir a força da ação individual em favor do coletivo?
Essas e tantas outras questões dizem respeito sim às empresas e suas formas de relacionamento com os demais segmentos da sociedade. De imediato, o combate à corrupção, em todos os níveis, é mandatório. Da mesma forma, a responsabilidade sobre o produto e o serviço oferecido deveria ganhar outra dimensão, ultrapassar o campo do compliance, do atendimento legal, e alcançar o patamar do real interesse dos stakeholders, que na maioria das vezes não está expresso nas linhas dos regulamentos. As redes sociais já demonstraram que podem ser importantes ferramentas para a captura dessas percepções, mas de um modo geral as empresas devem aprimorar seus canais de escuta e efetivamente buscar uma comunicação transparente, não defensiva, capaz de realmente de aproxima-las de seus públicos, não apenas na hora da venda.
Por falar em consumo, quem tem compromisso com a continuidade dos negócios deve procurar entender o que pensam os jovens brasileiros. Ao contrário das gerações dos anos 90 e do início desse século, eles não assumem uma postura individualista e procuram no Exterior as oportunidades que não encontram por aqui. Parecem acreditar que é possível intervir e construir, de forma colaborativa, criativa e compartilhada, aqui e agora uma realidade melhor. Segundo a pesquisa do Ibope, 94% dos manifestantes acredita que vai promover as mudanças reivindicadas.
Filhos de um mundo digital e conectado, os jovens brasileiros são mais dispostos a uma atuação coletiva, contrariando aqueles que acusaram a tecnologia de afastar e eliminar a relação pessoal. Fica evidente que a rede social sempre existiu antes do Facebook, mas tornou-se mais ágil e vibrante a partir das tecnologias de conectividade. Como Carla Mayumi, da Box 1824, apresentou no Sustainable Brands Rio 2013: “Eles querem hackear o sistema, ou seja, quebrar os códigos que já não fazem sentido para a construção de um país melhor”.
Nesse ambiente de intensa troca de informação e de opinião, onde a mediação dos grandes meios de comunicação claramente se enfraqueceu, é interessante pensar também como lidar com demandas diversas, lideranças difusas e sistemas complexos. Ao mesmo tempo em que há pressão por uma capacidade de resposta mais pronta de todos os líderes, a análise e a interpretação do cenário deixou de ser trivial e se tornou um belo desafio. Enfim, o fenômeno recente das manifestações é fruto de um novo ambiente social no Brasil e que não deve ser subestimado pelas empresas. Afinal, se pudéssemos atualizar nossa bandeira, caberia escrever: nova ordem em progresso.
Álvaro Almeida é diretor de Planejamento da Report Sustentabilidade e organizador do evento Sustainable
Brands Rio.
Fonte: Mercado Ético
Brands Rio.
Fonte: Mercado Ético
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