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quarta-feira, 26 de junho de 2013

Semente urbana

Um pequeno sítio de pouco mais de 1 hectare, em um bairro popular de Milwaukee, no estado americano de Wisconsin, tem uma das maiores produtividades agrícolas já registradas. Dali saem 450 toneladas anuais de alimentos orgânicos, graças a dezenas de voluntários e à otimização de fórmulas tradicionais. A ocupação é total, com seis estufas convencionais e de hidroponia – alimentadas por 300 painéis solares e tanques de água pluvial – e núcleos de criação de abelhas, peixes e animais de pequeno porte (mais em growingpower.org). Para efeito de referência: no Brasil, a produtividade de 14 toneladas por hectare em uma plantação de milho é considerada excelente.
A propriedade em Milwaukee é o quartel-general do projeto Growing Power, capitaneado por Will Allen, ex-jogador profissional de basquete com passagem pela área de marketing corporativo da Procter & Gamble. Em 1993, ao chegar à meia-idade, ele decidiu retomar a vocação agrária de sua família e acabou criando o movimento de agricultura urbana mais badalado dos Estados Unidos.

Quando adquiriu o último lote produtivo dentro dos limites da cidade, olhou à sua volta e viu-se num bairro barra-pesada sem um único mercado – mas cercado por lojas de fast-food. Percebeu que a comunidade não prosperaria se não tivesse acesso a uma alimentação barata e saudável. Concebeu, então, um projeto demonstrativo e uma série de oficinas que formaram discípulos capazes de levar a fórmula a outras partes do país.

Hoje o sítio emprega 50 funcionários e um grande corpo de voluntários e aprendizes. Seu sucesso não tem segredo: Allen mostra a quem quiser aprender que sua produtividade vem do capricho no aprimoramento do solo.

Ele produz 10 milhões de toneladas anuais de composto orgânico, melhorado por um exército de minhocas.

O reconhecimento veio como uma enxurrada. Allen foi incluído na lista de 100 cidadãos mais influentes do planeta pela revista Time e ganhou o Genius Grant, prêmio de meio milhão de dólares dado pela MacArthur Foundation a pesquisadores que se destacam por seu potencial inovador.

A produção de alimentos no coração de cidades não é propriamente novidade – a prática era frequente na Antiguidade, do Egito a Machu Picchu. Durante a Segunda Guerra, os governos aliados promoveram os chamados “victory gardens” – hortas e pomares destinados a aliviar a demanda sobre os meios convencionais de distribuição de alimentos e a ajudar o esforço bélico. Nos Estados Unidos, o patriotismo levou à criação de quase 20 milhões de hortas. Do outro lado do Golfo do México, plantações urbanas salvaram Cuba da fome epidêmica quando o império soviético desmoronou, deixando de abastecer a Ilha com tratores, combustível e fertilizantes. Hoje a agricultura urbana emprega quase 300 mil pessoas (mais em nesse link).

Em 2009, a experiência cubana inspirou um grupo de berlinenses a limpar um terreno baldio de 6 mil metros quadrados abandonado havia mais de um século. Ali eles criaram o Prinzessinnengärten, o Jardim da Princesa, onde voluntários trocam horas de trabalho por alimentos de primeira a preços de banana.

Nos Estados Unidos, no entanto, os jardins da vitória foram tomados por ervas daninhas e muitas prefeituras passaram a restringir o cultivo e a criação de animais no perímetro urbano. A agricultura urbana só voltou à moda recentemente, devido à valorização dos produtos locais, à pressão econômica e ao fato de que várias metrópoles, como Detroit e Cleveland, têm vazios demográficos, com excelente infraestrutura e população escassa. Além disso, a causa ganhou uma garota propaganda de peso: a primeira-dama Michelle Obama, que criou uma horta no gramado da Casa Branca.

Plantar em lotes urbanos é uma belíssima estratégia ganha-ganha. Combate a insegurança alimentar, cria empregos, fortalece a comunidade e melhora a saúde da população. Mas seria esse modelo realmente sustentável do ponto de vista financeiro? Will Allen conseguiu sua produtividade astronômica graças ao trabalho de muitos voluntários e aos muitos prêmios em dinheiro que recebeu, o que o ajudou a manter um alto número de funcionários em uma gleba tão pequena.

Esse modelo não requer tecnologias sofisticadas e é plenamente acessível a quem tem um terreno dando sopa e vontade de trabalhar. O comum dos mortais obteria uma produtividade modesta – mas ainda assim a atitude seria excepcional e transformadora.

*Regina Scharf é jornalista especializada em meio ambiente

Fonte: Mercado Ético

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