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quarta-feira, 26 de junho de 2013

“Queimar o lixo é desperdiçar recursos finitos e energéticos”

Paul Connett: “Chega-se ao lixo zero com iniciativas para reduzir a geração de desperdícios”.
O sistema de incineração não só é poluente como destrói postos de trabalho em reciclagem e a tecnologia utilizada é cara, alerta o cientista.

Buenos Aires, Argentina, 24 de junho de 2013 (Terramérica).- É possível acabar com os lixões nas grandes cidades, como a capital Argentina, sem cair na armadilha da incineração que produz novos dejetos tóxicos para se enterrar, afirmou o acadêmico norte-americano Paul Connett. “Para quatro toneladas de lixo queimado é gerada uma tonelada de cinzas contaminantes”, advertiu Connett, doutor em química pela Universidade de Dartmouth, em entrevista concedida ao Terramérica em Buenos Aires, cidade que visitou a convite da Coalizão Cidadania Anti-Incineração, integrada por cerca de 40 organizações.

Connett é diretor-executivo do American Environmental Health Studies Project (Projeto Norte-Americano de Estudos Sobre Saúde Ambiental), onde promove o tratamento sustentável para o lixo. O Legislativo da Cidade Autônoma de Buenos Aires aprovou uma lei de Lixo Zero, que impunha reduzir pela metade, até 2012, o volume de resíduos sólidos destinados aos lixões. No entanto, longe de alcançar esta meta, triplicou o volume e agora são estudadas opções que preveem a questionada incineração.

TERRAMÉRICA: Por que o senhor acredita que a incineração não é boa alternativa para o lixo?

PAUL CONNETT: Em primeiro lugar, não é sustentável. Cada vez que se queima um produto, é preciso voltar a fabricá-lo, e isso implica energia, contaminação e contribuição à mudança climática. Além disso, é uma tecnologia cara, que destrói postos de trabalho em reciclagem.

TERRAMÉRICA: Qual o impacto que tem no meio ambiente?

PC: É um desperdício de recursos finitos e energéticos, além de não substituir os lixões. Para cada quatro toneladas de lixo incinerado, é gerada uma tonelada de cinzas contaminantes, que contém mercúrio, chumbo, cádmio, cromo, arsênico e as dioxinas que são geradas no processo de combustão.

TERRAMÉRICA: Há também um impacto ambiental na saúde…

PC: Um assunto especial de preocupação são as partículas menores que um mícron, que os filtros dos incineradores não retêm. Uma vez liberadas, entram em nosso organismo e, através dos pulmões, passam facilmente à corrente sanguínea e aos tecidos.

TERRAMÉRICA: O que propõe como alternativa?

PC: A solução é uma estratégia de lixo zero baseada em dez passos, começando com a separação na origem e coleta seletiva para manter a faixa de orgânicos afastada do resto dos materiais e para compostagem.

TERRAMÉRICA: E o resto dos resíduos?

PC: Uma vez que tiramos os orgânicos, é fácil separar papel, papelão e vidro para reciclagem, e o passo seguinte é a reparação e reutilização de produtos jogados fora. Com este método, a cidade de São Francisco, nos Estados Unidos, conseguiu reduzir em 80% o volume de lixo que enterrava.

TERRAMÉRICA: E como se chega a zero?

PC: Com iniciativas para reduzir a geração de desperdícios. Na Irlanda há um imposto sobre sacos de plástico que conseguiu reduzir em 92% seu consumo em um ano. Por isso é importante apresentar propostas para que seja mais cara a coleta dos elementos não recicláveis. É preciso analisá-los para ver como redesenhá-los e conseguir que voltem a ser úteis ou que não continuem sendo fabricados. Uma estratégia de lixo zero não esconde, pelo contrário, torna bem visível esses bens para aprender quais são nossos erros como sociedade e produtores.

TERRAMÉRICA: Há cidades do tamanho de Buenos Aires que alcançaram a meta de lixo zero?

PC: Não, mas há cidades como esta que propuseram a estratégia e conseguiram progressos. Uma grande cidade é a soma de pequenos bairros, por isso se deve descentralizar o manejo do lixo para abordá-lo em pequena escala.

TERRAMÉRICA: Por que se costuma ver a estratégia de lixo zero como uma utopia?

PC: Sua pergunta é típica. O lixo é visto a partir de duas perspectivas. Uma é a de um funcionário que se concentra em um problema de milhares de toneladas que lhe vem por cima, e é aí onde aparece a tentação da máquina mágica. A outra, na qual eu acredito, é que se deve observá-lo a partir do próprio prato de desperdício. O que vejo aí é material orgânico, vidro, papel, plástico, e assim fica fácil. É preciso separá-los e lhes dar um destino feliz. Os primeiros passos são de senso comum, por isso destaco que o problema do lixo é uma questão de organização, educação e liderança política.

TERRAMÉRICA: As autoridades de Buenos Aires destacam os incineradores usados na Alemanha. O que diz a respeito?

PC: A Alemanha tem que importar lixo para alimentar seus incineradores. O mesmo acontece com Holanda, Suécia e Noruega. Esses países construíram incineradores apostando que as pessoas não iam reciclar, mas elas começaram a fazer isso e agora precisam abastecê-los, e pagam por isso. Com base nessas experiências, sabemos que é possível avançar em uma redução do enterramento sem cair na incineração, como é o caso de São Francisco.

TERRAMÉRICA: E o que os países que incineram lixo fazem com as cinzas?

PC: Nos Estados Unidos são enterradas, a Dinamarca as envia à Noruega onde têm o mesmo destino, e na Holanda são escondidas debaixo da pavimentação das estradas. As cinzas são o calcanhar de Aquiles dos incineradores. As empresas que promovem seu uso não falam muito a respeito do que farão com o novo resíduo. Mas é claro que não é uma alternativa para o lixão. Envolverde/Terramérica

Fonte: Envolverde

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