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segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Técnicas diminuem as pegadas de carbono da lavoura e das criações

Na Europa e nos Estados Unidos, já é comum comprar uma coisa no supermercado e encontrar na embalagem a informação da pegada de carbono daquele produto. Quanto foi emitido, se há compensação.


Há uma tendência de se consumir produtos de carbono neutro, que não impactam o aquecimento. Só agora o Brasil começa a conhecer as reais pegadas de carbono de nossos produtos. São indicadores menores do que os que nos são atribuídos pela Organização das Nações Unidas (ONU). Na reportagem, Nelson Araújo mostra como técnicas podem diminuir as pegadas de carbono das lavouras e das criações.

Na mata em chamas, se queima carbono, matéria orgânica. A gasolina, também, veio de matéria orgânica. Um pedaço de mar ou uma floresta, encapsuladas num vão geológico, por milhões de anos.

Assim, quando se queima um tanque de gasolina estão sendo emitindo gases do mesmo jeito de quando se queima árvore. Estas são as principais causas do aquecimento, no mundo, como um todo. Em primeiro lugar está a queima de combustíveis fósseis incluindo diesel, querosene de avião e termoelétricas ou até mesmo ao usar o gás para esquentar o leite, que vem do petróleo.

A segunda principal causa de emissão de gases no mundo é o desmatamento. Mas no Brasil, país ainda jovem, abrindo áreas de recursos naturais, as posições se invertem: o corte de florestas está em primeiro lugar. A mata deu lugar ao pasto.

O pesquisador Carlos Cerri conta que três décadas atrás especulava-se se as queimadas na Amazônia não podiam interferir na rota dos foguetes. Daí, surgiu uma frutífera parceria da Esalq com a Nasa.

Há vários anos, o Globo Rural começou a acompanhar essas investigações científicas, que contaram também com o apoio do governo da França e da Embrapa. Em 2003, no estado de Rondônia, o Globo Rural mostrou os equipamentos então desenvolvidos para medições do solo e do ar, como as câmaras para coleta de gases. Eram os primeiros passos para se descobrir as pegadas de carbono deixadas pela transformação da floresta amazônica em sistemas agropastoris.

O levantamento de dados varou década, com pesquisas em várias regiões do Brasil. Em 2013, novamente, o Globo Rural as equipes do cena perscrutando vários tipos de lavouras, cafezais e canaviais.

Quantidades significativas de solo foram reunidas para uma análise minuciosa em laboratório e, agora, recentemente, em 2015, o Globo Rural se encontrou com os pesquisadores, outra vez. Foi uma surpresa: os estudos fazem uma revisão dos dados científicos que a comunidade internacional aplicava para o Brasil, que não ‘batem’ com a realidade. “No Brasil faltam informações deste tipo. No Brasil queremos uma agricultura sustentável”, fala Cerri.

A transformação da floresta em pastagem reduz a biodiversidade dos solos. Mas, o capim, para de crescer, retira da atmosfera a maior parte dos gases emitidos na queimada. É o chamado sequestro de carbono que as culturas promovem, também. Se é soja ou cana para a produção de biocombustíveis, o diferencial é importante: ao se queimar gasolina, aumenta o efeito-estufa; com o etanol, não.

O comércio internacional se dá respeitando-se barreiras. Nas barreiras ambientais, a tendência agora é avaliar a pegada de carbono, para saber quanto é que aquele produto que saiu do campo contribui para o aquecimento global.

O biodiesel de soja do Brasil não podia ingressar nos países ricos porque lhe era atribuída uma pegada de carbono pesada demais. Por uma diretiva europeia o produto só reduziria 31% das emissões dos gases de aquecimento, comparando com o diesel convencional. O mínimo exigido eram 35%. Medições em mais de 300 fazendas brasileiras trouxeram outro resultado.

“Nossos cálculos evidenciaram que os número não estavam corretos. Hoje os nossos cálculos são de 66% a 68% e nossa pesquisa possui dados do campo, gerados no campo e dá essa competitividade ao biodiesel de soja que antes não havia”, fala Cerri.

Outro produto que tem marcação cerrada é a carne. No Brasil, que tem o maior rebanho comercial do mundo, a criação bovina é a terceira principal fonte de emissão de gases de efeito-estufa.

Cerca de 95% do que uma vaca emite sai pela boca e pelas narinas, principalmente quando ela está ruminando. Isso provoca o que os pesquisadores chamam de eructação, um arroto.

O gás que sai do boi é o metano que, em termos de aquecimento global, tem um impacto 25 vezes maior que o carbono liberado pela queima de vegetação e combustíveis e tem um outro gás que é 250 vezes mais potente ainda que o carbono, é o óxido nitroso. Sai da urina e das fezes dos animais.

O biólogo André Mazzeto passou os últimos quatro anos estudando as emissões dos dejetos bovinos. As placas de estrume ficam exalando por até 15 dias. Ele constatou que a emissão do Brasil é menor do que as constatadas na Europa e Estados Unidos.

“É 20 vezes menor. O PICC, órgão da ONU que cuida dos inventários de emissão de gases propõe um fator de emissão de 1%. Descobrimos em nossa pesquisa que esse fator pode ser reduzido em 0,2% ou 0,1%”, explica Mazzeto.

Adubos químicos – Os adubos químicos também são importante fonte de emissão de gases do aquecimento. Especialmente, os que são à base de nitrogênio que exalam também o óxido nitroso, que é 250 vezes mais potente que o gás carbônico. Porém, numa prática cada vez mais crescente, o químico passou a ser misturado ao composto orgânico.

A fazenda Ponto Alegre, município de Cabo Verde, sudoeste de Minas Gerais, há mais de dez anos adota sistemas conservacionistas, tendo já sido premiada por isso, inclusive com o troféu de práticas sustentáveis do Sebrae.

A redução foi significativa. A cobertura das entrelinhas com capim e resíduos da própria lavoura incorporam, sequestram mais carbono no solo e com o organo-mineral, o uso de químicos caiu quase 50%.

No todo, as emissões de gases da fazenda, comparando com o convencional de antes, caíram mais de 35%. Deixando, assim, mais leve, a pegada de carbono do café de montanha.

O assunto vasto e polêmico. Há os que não acreditam que a terra esteja aquecendo por conta das ações humanas. Mas, 2015 já é o ano mais quente da história, desde que começaram as medições de temperatura, em 1880. 

Fonte: G1

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