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quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Comunicação é estratégica para a agroecologia, artigo de Roberto Naime

Notícias do boletim de agroecologia registram que o coordenador geral da Organização Não Governamental (ONG), Centro Sabiá, organização que presta assessoria técnica rural na zona da mata e semiárido pernambucano, Alexandre Pires é um entusiasta da comunicação e dos movimentos culturais na agroecologia. Ele também integra o Núcleo Executivo da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), e tem contribuído no fortalecimento destas inciativas dentro do movimento agroecológico no Brasil.


Na conversa o biólogo fala sobre a importância do direito à comunicação, sobre os avanços das organizações que compõem a ANA nesse campo nos últimos anos e o travamento desta pauta. É possível projetar uma visibilidade nacional ao tema. O desafio é manter ativa essa articulação nas redes agroecológicas.

A contenda entre agricultura convencional e agroecologia, que nem deveria existir, ocorre pelos interesses comerciais que acabam gerando grandes influências midiáticas, ainda que involuntariamente.

A primeira necessidade de comunicação é interna, mobilizatória e didático-pedagógica. Alexandre discorre que é “preciso compreender que a comunicação no campo da agroecologia, das organizações e redes no campo da ANA, é uma abordagem extremamente estratégica que permite mostrar à população que existe outro mundo e que os grandes meios de comunicação, a mídia de massas, não tem interesse de mostrar. A diversidade da agricultura familiar, a cultura, a produção alimentar e as formas de viver e trabalhar no campo. Temos a possibilidade de pautar o tema do direito à comunicação, que normalmente está veiculado nos grandes centros urbanos, onde as pessoas têm um vínculo muito mais forte com o debate da comunicação pública, já que muitas vezes as organizações que trabalham no desenvolvimento rural aparentemente não têm vínculo com esse tema ou necessidade de comunicação.

Mas se houver resgate do processo histórico da agroecologia no Brasil, se constata a comunicação como uma ferramenta estratégica. A comunicação na perspectiva de diálogo entre os técnicos e agricultores, entre os agricultores e numa perspectiva de ferramenta pedagógica com manuais e sistematizações para orientar e organizar o conhecimento dos agricultores para construção da agroecologia. Sempre se utilizou a comunicação alternativa através de várias ferramentas como fanzines, boletins copiados, dentre outras formas para mostrar a luta da agricultura alternativa. Sobre conceitos de agroecologia, sempre existe a preocupação com a necessidade de uma comunicação pública, democrática e compartilhada”, conclui ele.
Existe uma reflexão mais ampla sobre os interesses e benefícios da agroecologia, que transcende a atividade agrícola ou pecuária, isoladamente. E estas considerações só podem ser apropriadas pela reflexão e pela síntese dialética.

Instado a se posicionar sobre o direito de comunicação, o biólogo Alexandre assim se manifesta “Tudo é uma consequência do governo não ter hoje disposição de fazer um enfrentamento dentro do Congresso Nacional, que é extremamente conservador, onde os grandes donos das mídias, redes de rádio e TV estão. Não os interessa democratizar o processo de comunicação. É no Congresso que vai passar a lei de democratização dos meios de comunicação, então esse é um dilema que vivemos. Mas as pessoas que participaram deste último encontro disseram que tinha pessoas da Argentina lá, que se manifestaram assim fizemos uma legislação de direito à comunicação, e não tínhamos o processo de mobilização da sociedade como vocês têm no Brasil, porque foi uma iniciativa do próprio governo”. Nós temos uma mobilização e um governo que se coloca numa posição de popular, mas não faz esse enfrentamento. Das últimas eleições presidenciais para cá eu costumo dizer que a democratização dos meios de comunicação é fundamental”.

Sobre a crescente conscientização da população em relação a alimentação saudável, o biólogo Alexandre aduziu “as sementes crioulas, o combate a transgenia e aos agrotóxicos são temas que se consegue um diálogo mais específico com a população urbana, porque tocam diretamente a saúde das pessoas. Os transgênicos ainda é algo aparentemente sem uma massificação de compreensão do que pode causar à saúde das pessoas, mas já tem dados associando a transgenia a problemas de câncer e outros. Então a inserção da ANA, através das suas organizações e redes, no diálogo com a sociedade num processo de comunicação pode ganhar um fôlego muito grande quando pauta essas três dimensões. Também estão associados aos temas de biodiversidade, aos conhecimentos tradicionais das populações camponesas e aos indígenas e quilombolas.

Sobre brechas para o incremento destes temas que são estimuladas pelas mídias tradicionais, Alexandre Pires fulmina “há um interesse por trás, que é o agronegócio se apropriar da agricultura orgânica como um nicho de mercado e não é isso o que queremos construir”.

Em momento algum se estabelece qualquer julgamento de valor. Mas é preciso reconhecer que a transcendência do tema que desperta em todas as pessoas preocupações, principalmente na dimensão da saúde, faz todo o sentido.

http://www.agroecologia.org.br/index.php/noticias/noticias-para-o-boletim/858-a-comunicacao-e-estrategica-desde-o-principio-da-agroecologia-no-brasil-afirma-coordenador-do-centro-sabia

Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.

Fonte: EcoDebate

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