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terça-feira, 11 de setembro de 2018

Dióxido de carbono pode produzir coisas úteis, mas captação é desafio

Para fugir de uma catástrofe climática ainda maior, o Acordo de Paris estipulou uma meta: evitar que a temperatura do planeta cresça mais que 2 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais.
Além de reduzir as emissões de dióxido de carbono por meio da queima de combustíveis fósseis, pesquisadores em todo o mundo têm buscado formas alternativas para reciclar o CO2 que já foi liberado, um dos maiores responsáveis pelo efeito estufa.

Técnicas para captura desse gás já estão em planos dos relatórios do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas). Em 2015, época da definição do Acordo de Paris, também foi o momento em que a concentração de CO2 chegou pela primeira vez, desde a Revolução Industrial, à marca de 400 partes por milhão (ppm). Antes do uso intenso do carvão e do petróleo, a concentração era de 278 ppm.

O cientista britânico Michael North, professor de Química na Universidade de York e membro do Centro de Excelência em Química Verde da mesma instituição, explica que é possível criar diversos materiais úteis usando esse gás, como carpetes e fórmicas de cozinha. “Existem muitas coisas que se pode fazer com o CO2”, afirma North, que esteve recentemente no Rio de Janeiro, na Conferência Internacional de Utilização de Dióxido de Carbono. De acordo com o pesquisador, o Reino Unido tem interesse em fabricar baterias de lítio-íon com dióxido de carbono para serem utilizadas em celulares, tablets, computadores e carros elétricos. “Uma parte importante dessas baterias pode ser feita com CO2”, conta ele, lembrando que até aspirinas e fertilizantes são feitos com base nesse elemento químico.

O cientista também se debruça sobre formas de utilização do CO2 em catalisadores. “Nosso interesse se concentra em vários aspectos de tornar a química orgânica sustentável. O dióxido de carbono é uma fonte alternativa potencial de carbono para a indústria química”, explica o britânico. “O desafio de aumentar o uso futuro de CO2 como matéria-prima química é, em grande parte, o desenvolvimento de catalisadores para permitir que as transformações ocorram próximo da temperatura ambiente e da pressão atmosférica.”

O governo da Alemanha estuda ainda a transformação do dióxido de carbono em querosene de aviação, para uso em lugares nos quais a logística de transporte e estocagem é muito cara, explica Alexandre Szklo, professor de Planejamento Energético da Coppe/UFRJ. “Poderíamos fazer metanol de CO2, poderíamos usá-lo até para carbonatar bebidas, fazer refrigerante. O problema é que a demanda do CO2 pela indústria é muito pequena diante do quanto nós emitimos”, afirma Szklo, que calcula existir na atmosfera nada menos que 40 gigatoneladas de CO2, considerando apenas as emissões de combustão de petróleo e carvão, desconsiderando os efeitos de queimadas e da pecuária.

Miragem
A discussão se torna ainda mais complexa quando se pensa em como capturar o CO2. Há duas formas: a captura do gás diretamente em unidades industriais, conhecida pela sigla CCS (Carbon Capture Storage), e a absorção do CO2 diretamente da atmosfera, conhecida como DAC (Direct Air Capture). Ambas, no entanto, não serão capazes de impedir um aquecimento de até 2 graus Celsius, como desejado no Acordo de Paris, avalia Szklo.

No mundo, já estão em operação 21 unidades de CCS, uma inclusive no Brasil. Em uma plataforma de extração de gás na Bacia de Santos, a Petrobras retira o CO2 e o reinjeta no poço para diluir o petróleo para facilitar seu bombeamento. No mundo, unidades produtoras de etanol, indústrias siderúrgicas e de extração de petróleo utilizam esse sistema. “Como o CCS pode alcançar reduções significativas de emissão de CO2, ele é considerado uma opção fundamental dentro do portfólio de abordagens necessárias para reduzir as emissões de gases de efeito estufa”, diz o britânico Michael North.

O problema é que, nos cálculos da Coppe/UFRJ, seriam necessárias até 3 mil unidades de CCS no mundo até 2040 para garantir a meta de aquecimento médio do Acordo de Paris. “Hoje temos uma capacidade de captura de 40 milhões de toneladas, mil vezes menos a capacidade de captura do que a gente emite”, afirma Szklo.

Já a DAC é, para o especialista, ainda uma miragem. A retirada do CO2 é muito mais difícil quando ele está disperso na atmosfera e exige o uso de solventes que produzirão muito mais lixo químico do que a humanidade conseguirá aproveitar. Em recente conferência, Szklo conheceu um método desenvolvido por pesquisadores da China para fazer essa absorção direta do gás com uso de soda cáustica como solvente.

Alguns relatórios, diz o pesquisador brasileiro, indicam a necessidade de captura de 2 bilhões de toneladas de CO2 por ano da atmosfera. Usando o sistema chinês, seria necessário um gasto de energia de 9 mil gigawatts em todo mundo. Só o Brasil consome 140 gigawatts. “Isso demanda muita energia para funcionar. Além do consumo de energia, esse processo produz cloro, e não saberíamos o que fazer com ele hoje.” Enquanto não se conseguem meios eficazes de capturar o CO2, a solução ainda continua sendo a redução das emissões.

Fonte: Revista Galileu

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