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terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Consumo de agrotóxicos cresce e afeta saúde e meio ambiente, artigo de Claudio Oliveira

Quando o Governo Federal aprovou a implantação do Sistema Nacional de Crédito Rural, em 1965, esperava estimular a industrialização dos produtos agropecuários e possibilitar o fortalecimento econômico dos produtores rurais. Era a entrada do Brasil na revolução verde, programa criado para aumentar a produção agrícola no mundo por meio de pesquisas em sementes, fertilização do solo, mecanização, redução do custo de manejo e aplicação de defensivos agrícolas, hoje chamados de agrotóxicos.


Na medida em que o uso de agrotóxicos e sementes geneticamente modificadas crescia, problemas de saúde relacionados ao manuseio e ingestão oral e respiratória desses produtos surgiram. Casos de intoxicação, problemas na pele e nos olhos foram documentados, assim como o impacto do uso desses produtos no meio ambiente, como mostra o documentário Nuvens de Veneno, dirigido por Beto Novaes e recém-lançado pela VideoSaúde, da Fiocruz.

O filme foi uma das iniciativas que, em 2013, buscaram chamar a atenção para o enorme desafio que o uso dos agrotóxicos representa para o Brasil, país recordista em seu uso. Não à toa, em outubro, três das mais importantes instituições ligadas à saúde pública no Brasil – Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Instituto Nacional de Câncer (Inca) e  Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) -  divulgaram uma nota oficial que alerta sobre o perigo dessas substâncias.

Em depoimento para o Nuvens de Veneno, Celito Trevisan, trabalhador rural assentado em Mato Grosso (MT), denuncia a presença de agrotóxicos mesmo em lavouras que não fazem uso desses produtos. “Quando passa o pulverizador aéreo, o vento faz o agrotóxico se espalhar. Já houve casos em que o veneno atingiu lugares que estavam a 40 quilômetros de distância. Esse produto matou plantas na cidade e intoxicou pessoas”.

Altos índices de resíduos nos alimentos

Os efeitos do uso de agrotóxicos são refletidos na qualidade dos alimentos consumidos nas grandes cidades. O Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA), da Anvisa, pesquisou 1.628 amostras de alimentos em 2011; destes, 36% foram consideradas insatisfatórias. Alimentos como arroz, feijão e cenoura apresentaram amostras insatisfatórias em todos os produtos analisados. Ingredientes ativos de tebufempirade e azaconazol, agrotóxicos que nunca foram registrados no Brasil, foram encontrados em uvas.

Em uma amostra de arroz, o PARA detectou a presença de aldicarbe, encontrado no Temik 150, também conhecido como chumbinho para matar ratos.  O programa chama atenção para o fato de que o Temik 150 teve seu registro cancelado em outubro de 2012, a pedido da própria empresa produtora. Segundo a Anvisa, esses ingredientes ativos possuem elevado grau de toxicidade aguda. Causam problemas neurológicos, reprodutivos, de desregulação hormonal e até câncer.

A agência alerta também para os efeitos crônicos causados pelo contato com essas substâncias. “Problemas de saúde podem ocorrer meses, anos ou até décadas após a exposição, manifestando-se em várias doenças, como cânceres, malformação congênita, distúrbios endócrinos, neurológicos e mentais”.

Apesar dos riscos à saúde, o Brasil segue desde 2008 como o maior comprador de agrotóxicos do mundo. Para André Burigo, pesquisador e professor da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), cada vez mais o governo se confunde com o agronegócio. “O Plano Safra concede algo entre 80% a 90% do financiamento para o agronegócio, e o crédito que chega ao pequeno agricultor está vinculado à revolução verde. A lógica do banco é a lógica do agronegócio”.

Meio ambiente e trabalhador rural são os mais afetados

Segundo Burigo, a profusão de relatos e pesquisas apontando para casos de contaminação no ser humano e meio ambiente serve para mostrar que é um mito o uso seguro de agrotóxicos. “Em 2007, um piloto se esqueceu de fechar o bico do avião e a cidade de Lucas do Rio Verde foi contaminada; as empresas culparam apenas o piloto. Como conseqüência, foram relatados casos de infecção de pele e má formação congênita em anfíbios. O lençol freático foi contaminado, resíduos foram encontrados no leite materno, na água da chuva e no ar”.

Wanderlei Pignati, pesquisador da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) afirma, em depoimento para o filme Nuvens de Veneno, que nem mesmo a água de Lucas do Rio Verde e arredores pode ser considerada saudável. “Investigamos dez poços artesianos na cidade de Lucas do Rio Verde e outros dez em Campo Verde, fazendo análises de resíduos de agrotóxicos. Todos os 20 poços estavam contaminados”.

Apesar da via digestiva ser uma forma de infecção, os problemas de saúde mais graves atingem os trabalhadores rurais, que podem se contaminar no processo laboral. Burigo lembra que a legislação fala em tempo de carência entre a pulverização de agrotóxico e o momento da colheita, só que o trabalhador rural não tem esse tempo de intervalo. “Ele irriga, colhe e está sempre exposto ambientalmente. Muitas vezes eles não sabem se existe um tempo de espera de colheita, se pode colher logo em seguida à pulverização. O trabalhador rural pode ter vários tipos de exposição. Até mesmo a família pode ser contaminada ao ter contato com a roupa utilizada durante a aplicação desses produtos”.

O problema se torna ainda maior devido à pouca presença de serviços de saúde próximos a essas localidades. Segundo André Burigo, se o SUS enfrenta dificuldades de serviços em grandes cidades, na área rural o problema é maior. O pesquisador lembra que somente em 2011 o SUS passou a ter uma política voltada para o campo, quando foi lançada a Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo e da Floresta. “O atendimento ainda é precário, às vezes não tem médico, há dificuldade de deslocamento. Ele tem que conseguir chegar ao posto de saúde e ter sorte de haver um médico por lá, o que acaba gerando uma subnotificação do número de casos de contaminação. Dizemos que é como um iceberg. O que está em baixo do iceberg são as subnotificações”.

Agroecologia cresce como alternativa

Aqueles que buscam uma alimentação mais saudável têm na agroecologia uma alternativa. Segundo Burigo, a agroecologia é mais que uma promessa de futuro, pois tem produzido alimentos de alta qualidade e já foi reconhecida pela ONU como o caminho da agricultura. “O problema da alimentação no mundo se deve ao desperdício, à distribuição de alimentos no planeta, ao transporte. Mas o mundo hoje já produz mais alimento do que a humanidade precisa. A maior parte das plantações, que usam agrotóxicos, plantam soja e milho para alimentar animais na Europa e EUA, e cana para a produção do biocombustível ou açúcar. Quem produz mandioca, feijão e arroz não é o agronegócio, mas a agricultura familiar. O argumento do agronegócio é pura retórica”.
Serviço

Para adquirir o filme Nuvens de Veneno, entre em contato com a VideoSaúde:
Tel: (21) 2290-4745 | 3882-9109/9110 | 9111

Fonte: EcoDebate

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