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sexta-feira, 20 de junho de 2014

O Custo de oportunidade da Copa do Mundo, artigo de Artur Salles Lisboa de Oliveira

Torcer ou não torcer, eis a questão. Eu apoio a segunda opção convicto que esta não representa a solução dos problemas do Brasil, mas ao escolhê-la levo em consideração o custo de oportunidade aplicado à Copa do Mundo. A realização do Mundial em território brasileiro não mudará a qualidade das nossas faculdades, por exemplo, pelo simples fato que as verbas destinadas à educação são cumpridas. O problema é o ralo da corrupção.


Portanto, o custo de oportunidade da Copa do Mundo não é financeiro no sentido de questionar montantes que poderiam ter sido utilizados para construir hospitais ou escolas, mas que foram direcionados para a construção de estádios. Pode-se argumentar que os orçamentos da saúde e da educação devem ser aumentados, mas o ponto crucial é que antes de chegar aos seus destinos finais, as verbas são dilapidadas pelo mal da corrupção.

E aí entra o conceito de custo de oportunidade: torcer enfaticamente pela seleção brasileira, assistir aos mandos e desmandos de dirigentes de entidades nacionais e internacionais que impõem suas vontades sobre a cultura do Brasil pelos interesses comerciais envolvidos, e ver governantes dando justificativas pífias para os orçamentos bilionários dos estádios construídos é compactuar com a triste realidade de corrupção no nosso País; é afirmar que pelo futebol, nós aceitamos qualquer coisa.

É uma questão de honestidade intelectual questionar o que acontece no País antes, durante e depois da Copa do Mundo. E que depois de refletir sobre as mazelas nacionais, cada brasileiro faça o seu próprio julgamento se vale a pena torcer pela seleção brasileira e em qual intensidade. Para muitos, é realmente desconfortável ser patriota apenas em dias de jogos da equipe brasileira em face do que vemos na rua: brasileiros mal educados infringindo leis de trânsito, jogando lixo na rua e ignorando a realidade de moradores de rua maltrapilhos jogados para escanteio pelo poder público. E a classe política cada vez mais desmoralizada por escândalos.

Infelizmente, para outros, o exercício do “patriotismo” eventual, que na verdade nada mais é do que uma desculpa para promover celebrações pessoais e não culturais no seu sentido mais amplo, é suficiente para alguém se considerar um brasileiro que não desiste nunca. E convenhamos: esse lema “sou brasileiro e não desisto nunca” não se aplica a muitos brasileiros; apenas aos verdadeiros heróis que sobrevivem sem bolsas governamentais “pegando no batente”. Heróis não são os jogadores, mas os anônimos que ninguém aplaude e que não atraem os holofotes da mídia.

Artur Salles Lisboa de Oliveira é administrador de empresas e colunista da Revista Exame (Coluna Meandros das Bolsas de Valores).

Fonte: EcoDebate

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