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terça-feira, 18 de agosto de 2015

Cinco maneiras pelas quais o El Niño pode alterar o clima do planeta

O Estado da Califórnia, no oeste dos Estados Unidos, vinha atravessando uma das maiores secas de sua história nos últimos quatro anos e a chegada do verão no Hemisfério Norte preocupava as autoridades, já que esta é normalmente uma estação com menos chuvas.
Mas, para surpresa de muitos, o mês de julho foi o mais chuvoso já registrado em muitas partes do sul do Estado, com níveis de umidade altos.

São muitos os especialistas que têm certeza que fenômenos como este estão sendo causados pelo El Niño, que se caracteriza por um aquecimento das águas do Oceano Pacífico na região equatorial e cuja atividade vem se fortalecendo nos últimos meses.

Existe um consenso cada vez maior entre os cientistas de que o El Niño hoje poderia alcançar ou até superar a dimensão registrada entre 1997 e 1998, que causou inundações e secas do planeta todo.

O Serviço Nacional de Meteorologia dos Estados Unidos afirmou até que este pode ser o El Niño mais forte já registrado.

“Os dados que temos indicam que é o El Niño mais forte desde 1997, mas, obviamente, os modelos climáticos só podem prever o que acontecerá nos próximos meses, por isso temos que ser cautelosos”, disse à BBC Mundo William Patzert, especialista em clima do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa (JPL, na sigla em inglês) e um dos mais importantes estudiosos do El Niño dos EUA.

“Para que alcance uma intensidade parecida com o período de 1997-1998, é preciso que ocorram duas coisas. Primeiro, nos próximos meses é preciso haver um abrandamento significativo dos ventos alísios de leste para oeste no Pacífico.”

“Se isto acontecer, veremos uma transferência dramática de calor das águas do oeste do Pacífico para as do Pacífico central e oriental. É nestas condições que se podem alterar os padrões de temperatura e precipitações em todo o planeta”, disse Patzert, que garante que o fenômeno deste ano tem potencial para ser o “El Niño Godzilla”, devido à sua intensidade.

A BBC Mundo pediu para o especialista da Nasa falar sobre alguns dos efeitos que o El Niño pode ter em algumas partes do mundo nos próximos meses, caso sua força seja confirmada.

1 – América do Norte – “O El Niño faz uma corrente em jato subtropical, que habitualmente se encontra no sul do México e América Central, se deslocar para o norte. Isto provoca invernos mais chuvosos do que o de hábito no sul dos Estados Unidos”, afirmou.

“Contrastando com isso, a corrente em jato polar, que tem sito muito forte na América do Norte nos dois últimos invernos, enfraquece, por isso são registrados invernos mais suaves no norte dos Estados Unidos e sul do Canadá.”

Segundo Patzert, mesmo que o aumento das chuvas possa ser uma boa notícia para o sudoeste dos EUA, devido à seca na região, também poderia causar grandes inundações e deslizamentos.

2 – América do Sul – “Na região que vai desde o norte do Chile até o Equador, nas quais se encontram as áreas mais áridas do planeta, o El Niño causa invernos muito chuvosos.”

“Além disso, nesta região, que conta com os maiores navios de pesca comercial do mundo, se a temperatura da água continua mais alta do que o normal há um colapso na pesca, o que pode ter impacto nas economias destes países”, explicou o especialista da Nasa.

“No nordeste do Brasil, o El Niño provoca seca enquanto que no sul do Brasil e norte da Argentina, são registradas inundações.”

3 – Ásia – De acordo com Patzert, “quando, no Pacífico equatorial, a água quente se move até a América do Sul, em lugares como Filipinas, Indonésia ou Tailândia são registradas secas extremas”.

Em alguns destes países, nos quais a agricultura é responsável por uma grande porcentagem do PIB, pode ocorrer um grande aumento no preço dos alimentos, o que acaba afetando o preço das matérias-primas em escala global.

“Ao mesmo tempo, em países como Japão e China, ocorrem invernos mais temperados”, acrescentou.

4 – Europa – “Na Europa, nos anos em que o El Niño é forte, ocorreram invernos muito frios no leste do continente e também no oeste da Rússia”, disse Patzert.

Segundo o especialista, “um bom exemplo são dois dos Ninõs mais importantes registrados nos últimos dois séculos: o de 1812 e o de 1941″.

“Estes foram precisamente os invernos em que as tropas de Napoleão e Hitler foram derrotadas. Por isso gosto de dizer que nenhum Exército os derrotou, foi o El Niño.”

5 – Outras regiões da Terra – Patzert explica que, nos anos em que ocorre o El Niño “há uma temporada de furacões mais fraca no Atlântico” já que os ventos que ocorrem não são favoráveis para a criação de sistemas tropicais.

“Ao mesmo tempo, no Pacífico oriental, devido à elevada temperatura da água, é registrada uma temporada de furacões muito ativa, em regiões como a Baixa Califórnia.”

“Enquanto que, o sul do continente africano e Madagascar tendem a ser afetados pela seca, e áreas da África subsaariana, que são muito secas, têm mais chuvas.”

Por fim, o especialista da Nasa afirma que o El Niño faz com que o norte da Austrália, como no sudeste asiático, se veja afetado pela seca.

Fonte: G1

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