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segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Mundo em extremos

A escalada de números a cada relatório do IPCC – estamos no quinto relatório, divulgado parcialmente em setembro último – nos mostra cenários em que o aumento de temperatura pode chegar a 4,8 graus até 2100. O aumento entre 1,4 grau e 3,1 graus estimado pelos cientistas refere-se ao patamar intermediário na variação de cenários traçados pelo IPCC.


1) LITORAL DOS ESTADOS UNIDOS
A primeira década do século XXI foi a mais ativa desde 1855 para os ciclones tropicais na bacia do Atlântico Norte. Em média, 15 tempestades por ano foram registradas. Especificamente, o ano de 2005 registrou 27 tempestades, 15 com intensidade de furacão. Embora não seja possível estabelecer com certeza a correlação entre os eventos naturais e o aquecimento global, é certo que eles, e seus efeitos, tendem a se tornar cada vez mais frequentes e extremos dentro do quadro do aumento da temperatura. A tempestade Sandy, que chegou aos EUA em 2012, deixou parte de
Nova York no escuro, provocou mais de 40 mortes na cidade e cerca de R$ 19 bilhões de prejuízo. A previsão do IPCC é de que esses fenômenos se tornem mais comuns e mais danosos para as cidades costeiras.

2) BRASIL
Suzana Kahn, presidente do Comitê Científico do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas e vicepresidente do Grupo de Mitigação do IPCC, explica que o Brasil tem muito a perder com a mudança climática: em termos geográficos, por causa da costa – enorme –, com o aumento do nível do mar. Em relação à biodiversidade, por causa das florestas. Em termos de população, porque a desigualdade tende a aumentar (mais na reportagem “De volta para o futuro“). Além de perdas na economia, que se baseia muito na agropecuária.

3) OCEANOS
O mar também já sofre com o efeito Homo sapiens. A previsão mais provável é de que o nível dos oceanos suba entre 26 e 55 centímetros, o que provocará erosão em áreas costeiras de todo o mundo. Quando a água se aquece, seu volume expande. Cerca de um terço do aumento do nível do mar deve-se a isso. Outro ponto preocupante é que os oceanos estão 30% mais ácidos desde a Revolução Industrial, com mudanças drásticas para o conjunto de organismos vivos que habitam suas águas. Confira o especial sobre oceanos na edição 79 de PÁGINA22.

4) GROENLÂNDIA
Em julho do ano passado, 97% da superfície de gelo da região derreteu. Foi a primeira vez em 34 anos de monitoramento de satélite que um degelo tão grande foi visto. Menos dias e noites frias, aumento de dias e noites quentes, mais ondas de calor e redução da camada de gelo na Groenlândia são também apontados pelo IPCC. Em conjunto, a Groenlândia e a Antártida perdem hoje três vezes mais gelo do que nos anos 1990, fazendo com que sua contribuição à elevação do nível dos mares crescesse de 0,27 para 0,95 milímetros ao ano. A eliminação completa da cobertura de gelo da Groenlândia, por exemplo, contribuiria para um aumento de cerca de 7 metros do nível do mar.

5) ÁRTICO
O gelo do Ártico está desaparecendo diante do aumento nas temperaturas. Pesquisa da National Aeronautics and Space Administration (Nasa) aponta crescimento de vegetação onde costumava haver tundra. Nos últimos 30 anos, arbustos e árvores altas que crescem em climas temperados foram vistos no Ártico, espalhando-se a 402 e 692 quilômetros mais ao norte do que o normal. O derretimento do permafrost (solo congelado) está também despejando metano e gás carbônico na atmosfera. Algumas projeções indicam ainda o desaparecimento quase total do gelo marinho ártico do final do verão, em meados do século XXI. A exploração de petróleo na região também tem sido facilitada pelo derretimento de gelo. Há petróleo suficiente para encher 83 bilhões de barris, o que dá ao Ártico 20% dos combustíveis fósseis ainda não explorados no mundo.

6) EUROPA
Secas e incêndios se tornaram constantes nos países do sul do continente, enquanto nos Alpes e na bacia do Danúbio acontecem chuvas torrenciais. O aumento de temperatura é notado de forma geral, mas é mais forte no sul. Na Itália, Espanha e Portugal, as chuvas diminuíram 20% no último século. Já no norte do continente, as chuvas aumentaram entre 10% e 40% no mesmo período. Em 2003, uma onda de calor extrema assolou a Europa e deixou milhares de vítimas. Os recordes de temperatura dos últimos 500 anos foram quebrados no Leste Europeu (2010), no Sudoeste (2003), nos Balcãs (2007) e na Turquia (2001).

7) ÁFRICA
De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), as ocorrências de seca aumentaram 38% entre as décadas de 1980 e 2000, com graves consequências para África, evidenciadas pela fome na África Oriental e pela crise na região do Sahel, vasta região semiárida que atravessa o continente de leste a oeste. Em 2020, prevê-se que 75 milhões a 250 milhões de africanos residirão em zonas com escassez de água, o que pode acarretar mais conflitos por recursos hídricos.
Segundo as previsões do IPCC, a produção agrícola e a segurança alimentar em muitos países e regiões da África tendem a ser seriamente comprometidos pela mudança do clima e variabilidade climática. A mudança do clima agravará o déficit hídrico atualmente enfrentado por certos países, ao passo que outros, que hoje não sofrem com esse problema, poderão passar a tê-lo. Por outro lado, pode acontecer a inundação de áreas de baixa altitude, com efeitos sobre os assentamentos costeiros.

8) ANTÁRTIDA
O derretimento tem ampliado o número de bancos de gelo flutuantes no mar. Partes do gelo da porção ocidental estão sendo corroídas pelo aquecimento do oceano. Há também pesquisas apontando o potencial de liberação de gás metano em função do degelo.

9) ÁSIA
Regiões costeiras sofrerão erosão, e milhões de pessoas terão de ser removidas dos lugares onde hoje vivem. A região da Ásia, que abriga 4 bilhões de pessoas, estará entre as mais afetadas pelos impactos das mudanças climáticas, o que levará a uma migração tanto dentro dos países, como entre as nações, sobrecarregando os recursos. As inundações de 2010 no Paquistão provocaram o deslocamento temporário ou permanente de milhões de pessoas.

10) RÚSSIA
Em 2010, o calor extremo matou mais de 50 mil pessoas, deixou 1 milhão de hectares de áreas queimadas e reduziu em 25% a produção agrícola.

11) AUSTRÁLIA
Na Austrália, o serviço de meteorologia teve de adicionar cores à escala de temperatura para indicar quando os termômetros ficam acima de nada menos que 50 graus. Roxo escuro e magenta representam temperaturas entre 51 e 54 graus, em função da forte onda de calor enfrentada pelo país no início de 2013, que piorou ainda mais os incêndios em florestas na região sudeste durante o verão. A secretária executiva das Nações Unidas para a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), Christiana Figueres, vinculou a frequência e intensidade dos incêndios na Austrália à mudança climática. O país também deve enfrentar perda significativa da biodiversidade até 2020, inclusive na Grande Barreira de Corais. Pesquisa divulgada pela Universidade de Sidney aponta que o coala australiano poderá desaparecer.


Fonte: Mercado Ético

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