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terça-feira, 7 de outubro de 2014

Estudo do Nobel pode levar a terapias para doenças que afetam orientação

O conhecimento sobre como determinadas células do cérebro funcionam como uma espécie de GPS interno pode levar a novas terapias para doenças que comprometem a orientação espacial, como o Alzheimer, de acordo com o neurocientista Jaderson Costa da Costa, diretor do Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul, da PUCRS. Nesta segunda-feira (6), três cientistas foram laureados com o prêmio Nobel de Medicina por suas descobertas sobre as células do cérebro que permitem que as pessoas se localizem no espaço.


“Esta descoberta é de extrema importância para a neurociência pois permitiu começar a compreender como nos orientamos no espaço e como memorizamos as posições e coordenadas”, diz Costa, acrescentando que esse conhecimento pode ser usado tanto na avaliação e diagnóstico quanto no desenvolvimento de terapêuticas para pacientes que têm comprometimento da orientação espacial e que se perdem com frequência.

O pesquisador brasileiro já participou de estudos que só foram possíveis graças às descobertas que renderam o Nobel. É o caso de uma pesquisa que chegou a um novo instrumento de avaliação para quantificar o comprometimento da memória de orientação espacial de pacientes com Alzheimer. Esse instrumento baseou-se justamente nas pesquisas experimentais com ratos feitas por um dos pesquisadores laureados com o Nobel nesta segunda-feira, John O’Keefe.

“Neste estudo, os pacientes com a doença de Alzheimer inicial, quando comparados a idosos saudáveis, apresentaram média de acertos baixa (48,13%), enquanto o grupo controle teve média de 89,35%, indicando que o teste de memória de orientação espacial proposto foi sensível à identificação de déficits desse tipo de memória. Por outro lado nosso estudo também sugere que, ao contrário dos roedores, a memória de orientação espacial humana não é função exclusiva do hipocampo”, explica o pesquisador.

À Reuters, a pesquisadora Uta Frith, professora de desenvolvimento cognitivo do University College London disse que O’Keefe mostrou que “é possível literalmente mapear a mente”. “Ele fez muito mais do que descobrir mecanismos neuronais no cérebro: ele descobriu os mecanismos cognitivos que explicam como seres humanos e outros animais se localizam”, disse. “Esse belo trabalho anunciou uma nova era na exploração do cérebro e da mente.”

Sobre o trabalho do casal May-Britt e Edvard Moser, que complementou a pesquisa de O’Keefe, o professor de fisiologia, desenvolvimento e neurociência da Universidade de Cambridge Bill Harris disse que ele “não apenas revolucionou nossa compreensão sobre esse quebra-cabeça incrível que é o cérebro, mas também abriu as portas para os problemas sobre memória de orientação espacial, sobre como aprendemos e lembramos de rotas de percursos e sobre o que o sono e os sonhos podem estar fazendo para nossa memória e performance”.

Entenda os trabalhos do Nobel – A primeira etapa do conhecimento que rendeu o Nobel foi desenvolvida pelo cientista americano-britânico John O’Keefe, em 1971, quando ele descobriu que determinadas células nervosas no cérebro ficavam ativas quando um rato estava em determinado lugar. Outras células ficavam ativas quando o rato estava em outros lugares. Dessa forma, O’Keefe concluiu que essas células cerebrais – que ficam no hipocampo – formavam no cérebro uma espécie de mapa do ambiente. Elas foram chamadas de “células de lugar”.

Mais recentemente, em 2005, o casal de noruegueses May-Britt e Edvard I. Moser desenvolveu a segunda etapa desse conhecimento. Eles identificaram outras células nervosas que eram ativadas quando um rato passava por determinados locais. Essas células – que ficam em outra área do cérebro, chamada córtex entorrinal – se distribuem em um padrão parecido com uma grade hexagonal e têm a função de coordenar e orientar a locomoção pelo espaço. Elas foram chamadas de “células de grade”.

Juntas, as células de lugar e as células de grade compõem uma rede que permite a orientação durante os deslocamentos pelo espaço. A importância dos trabalhos dos pesquisadores, segundo o Instituto Karolinska, é que eles resolveram dúvidas que cientistas e filósofos discutiam há séculos: como sabemos onde estamos e por onde nos deslocaremos? 

Fonte: G1

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