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terça-feira, 7 de abril de 2015

A dengue enquanto sintoma, artigo de Lucio Carvalho

Que o avanço aparentemente irrefreável da dengue está intimamente relacionado às condições de saneamento dos centros urbanos ninguém em sã consciência pode duvidar.
Causada principalmente pelo aedes egipty mesmo mosquito causador da febre amarela e que motivou, no início do séc. XX, a intervenção radical proposta pelo sanitarista Oswaldo Cruz, na qual formaram-se brigadas de erradicação dos criadouros de mosquitos, a dengue hoje reedita um espetáculo dos mais deprimentes no que se refere ao estado avançado de negligência política para com a saúde pública.

Hospitais improvisados sob lonas, pessoas sem diagnóstico e um número crescente de casos fatais expõe o que parece ser apenas um novo episódio de uma situação que vem se repetindo ano a ano, agravando-se paulatinamente, sem que medidas eficazes do ponto de vista administrativo sejam adotadas. A razão para isso acontecer é que aparentemente não há medidas que possam ser tomadas e, nestes tempos em que criou-se a impressão de que um clique “faz” coisas, investir maciçamente em condições preventivas é algo está fora do cenário político, este bem mais determinado e empenhado nas medidas de ajuste fiscal e nos desdobramentos de sua problemática.

Se o combate à epidemia nos moldes militares propostos por Oswaldo Cruz no início do século passado hoje não faz mais sentido, é preciso encontrar soluções duradouras. E sem que isso passe por uma mudança de mentalidade política no sentido de priorizar-se condições sanitárias razoáveis e serviços públicos de saúde em condições de operar com dignidade, é uma novela com próximos e previsíveis capítulos.

Está claro à população que já não basta ver interesse no assunto sanitário nos períodos eleitorais, o que praticamente não se viu em 2014, mas evidências de uma inclinação política que parece resolver-se perpetuamente no território de promessas que nunca se cumprem ou que padecem pelos muitos descaminhos que se impõem à administração pública de um modo geral.

Porque os determinantes da propagação da dengue continuam sendo péssimas condições de habitação, saneamento, atendimento e educação, como explica o médico José Augusto de Britto, coordenador da Rede Dengue Fiocruz <http://www.fiocruz.br/rededengue/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=134&sid=3>, trata-se de uma doença socioambiental que está aí para demonstrar que o destrato social para com o ambiente não se dá só em relação aos recursos naturais, mas ao próprio ambiente urbano, em um ciclo indesejavelmente doentio.

Enquanto isso, com o agravamento da expansão concomitante da febre chikunguya, transmitida pelo mesmo vetor, resta à população fazer sua parte, além de torcer para encontrar serviços de saúde em condições de prestar atendimento, nem que sob lonas improvisadas. São os custos do desinvestimento e da imprevidência política.

Lucio Carvalho é Coordenador-Geral da Inclusive – Inclusão e Cidadania (www.inclusive.org.br) e autor de Em Meia Palavra (www.emmeiapalavra.wordpress.com).

Fonte: EcoDebate

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