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quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Árvore é usada para medir poluição em São Paulo

Pesquisadores analisaram a composição química dos anéis de crescimento e as cascas da árvore.


Ao caminhar ou trafegar pelas vias mais arborizadas de São Paulo há uma grande chance de avistar ou passar ao lado de uma tipuana (Tipuana tipu), árvore de porte avantajado e com copa ampla e densa, a mais comum na cidade. Originária da Bolívia, ela começou a ser plantada, na cidade, na primeira metade do século 20. Além de prover sombra e uma série de outros benefícios ambientais, também pode revelar a evolução da poluição na cidade.

Estudo
Pesquisadores do Instituto de Biociências e da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), em colaboração com colegas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), têm utilizado a tipuana como marcadora dos níveis de poluição da cidade por metais pesados e outros elementos químicos.

Ao analisar a composição química dos anéis de crescimento (círculos concêntricos na parte interna do tronco) e as cascas, os pesquisadores constataram redução na poluição por cádmio, cobre, níquel e chumbo na zona oeste de São Paulo nos últimos 30 anos.

“A diminuição dos níveis de chumbo pode ser atribuída à eliminação gradual desse elemento químico na composição da gasolina, enquanto a tendência decrescente da poluição por cádmio, cobre e níquel provavelmente está relacionada ao aumento da eficiência dos veículos e à desindustrialização de São Paulo”, afirma Marcos Buckeridge, professor do Instituto de Biociências da USP e um dos autores do estudo.

Menos metais
O chumbo tetraetila era usado na composição da gasolina comum como aditivo com o intuito de melhorar o desempenho do motor dos automóveis abastecidos com o combustível e reduzir seu desgaste.

A utilização do composto liberava chumbo na fumaça do escapamento dos veículos – o que gerava diversos efeitos danosos à saúde e fez com que o Brasil proibisse o chumbo tetraetila de ser adicionado à gasolina nos veículos terrestres no país a partir de 1988.

Já as maiores fontes de cádmio são a indústria eletroeletrônica, além de pigmentos de esmaltes, tintas têxteis, baterias, fotografia, litografia e pirotecnia, fabricação de plásticos, de semicondutores, células solares, queima de combustível, lixo urbano, tratamento da borracha e galvanoplastia. Por sua vez, o cobre tem como principais fontes de emissão as queimas de resíduos urbanos e industriais, fundições de ligas metálicas e pesticidas.

“Como São Paulo tem passado por período de desindustrialização há algumas décadas, diminuiu a emissão desses elementos químicos. Com isso ocorreu uma redução na concentração desses metais em São Paulo”, afirma Giuliano Maselli Locosselli, pós-doutorando no IB-USP e primeiro autor do estudo.

Analisando os anéis e as cascas
A tipuana é uma das árvores que mais caem em São Paulo e por isso começou a ser substituída por espécies nativas. Mas, entre três espécies mais comuns na capital, ela se mostrou a melhor para a pesquisa. Ela absorve pelas raízes elementos químicos, como metais pesados, presentes na atmosfera e carreados para o solo pela água das chuvas. Esses compostos são transportados junto com a seiva pelos vasos da planta e ficam armazenados em sua madeira, nos anéis de crescimento, à medida que ela cresce.

Cada um desse anéis representa um ano de vida da planta, sendo os maiores os mais recentes e os menores (mais internos) os mais antigos. Pode-se medir a concentração de metais pesados no solo de um determinado ambiente no ano em que o anel foi formado. E, ao comparar as concentrações dos anéis, avaliar como a presença desses elementos químicos variou em uma escala de décadas. “Se uma árvore tem 50 anos, por exemplo, ela contará a história da poluição na cidade nesse período”, afirma Locosselli.

Já as cascas da tipuana permitem avaliar a concentração de elementos químicos presentes na atmosfera e que se depositaram passivamente nessa parte externa do tronco da árvore. Consegue-se, por exemplo, avaliar a variação espacial desses elementos químicos na atmosfera da cidade em escala de anos.

“Como a casca é uma parte mais simples de se obter da planta do que os anéis de crescimento anual e o custo das análises químicas delas também é menor, é possível analisar as cascas de diversas árvores e cobrir uma grande área. Isso permite ver como a poluição por metais pesados e outros elementos químicos se distribui por toda a cidade”, afirma Locosselli.

Foto: Mauro Guanandi/Flickr

Fonte: Ciclo Vivo

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