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terça-feira, 22 de abril de 2014

Lixão símbolo da marginalidade de Medellín vira um jardim

Uma montanha de lixo de 45 metros de altura, transformada em jardim municipal. Essa é a história real que transformou a vida de um bairro humilde e de seus habitantes na cidade colombiana de Medellín (noroeste).

“Isto era um lixão. Agora estamos vivendo na glória. Para poder caminhar, era preciso se esquivar das cabeças de animais. Saíam uns líquidos do lixo”, contou à AFP Oriol Arturo Arango, um dos jardineiros que morou 22 de seus 31 anos de idade em meio ao lixo, até que sua casa se incendiou.

No vazadouro de Moravia, que acumulou até 1,5 milhão de toneladas de lixo em 30 anos, chegaram a viver 2.138 famílias, umas 14.000 pessoas, que viviam da reciclagem e moravam em casas construídas com resíduos.

“Todo ano tínhamos pelo menos um incêndio por causa dos gases”, conta Neira Agudelo, de 27 anos, ex-moradora do morro de lixo que também virou jardineira.

Agudelo chegou com a família para morar no lixão aos 4 anos vindo de San Carlos, 141 km ao leste de Medellín, fugindo da violência de grupos armados.

“Eram grupos à margem da lei e um dia foram, mataram muita gente e minha mãe tomou a decisão de vir para Medellín”, diz.

Na década de 1980, o narcotraficante Pablo Escobar, afeito à beneficência, tentou acabar com a miséria que se vivia em Moravia e entregou 400 casas no leste da cidade aos seus moradores. Batizou o conjunto de casas de “Medellín sin tugurios” (Medellín sem favelas), embora hoje seja conhecido como bairro Pablo Escobar.

Mas foi uns 20 anos depois que a cidade recuperou a área com o projeto “Moravia floresce para a vida”, em desenvolvimento há cinco anos.

Da estrada que margeia o rio Medellín o jardim de Moravia é visto como um organizado parque urbano com cultivos nos terraços. Quando se chega ao local, pedaços de sacos plásticos que surgem da terra delatam que a montanha na verdade é um morro de lixo compactado.

“Este é um projeto que transformou o que era um lugar para jogar lixo em um projeto ambiental e urbanístico para poder consolidar o bairro”, contou à AFP Julio Castro, gerente do parque municipal de Moravia.

Em meio às flores, algumas favelas rompem a simetria dos cultivos. Os tetos dos barracos são um amontoado de fardos de lixo e sacos plásticos misturados.

Em várias casas, um cartaz diz: “Diante do desalojamento, não me rendo, nem afrouxo”. Segundo a prefeitura, cerca de 200 famílias ainda vivem nos 70.000 metros quadrados do morro.

“Não é que queira ficar, o que queremos é que nos reassentem nos arredores de Moravia”, conta Vivian Álvarez, outra jardineira e moradora do local.

Antes de trabalhar no parque, Álvarez, de 23 anos, estava desempregada. Agora, ele recebe da Prefeitura da cidade um salário, com o qual sustenta seus dois filhos.

Já Agudelo conta que ela e a família viviam com medo constante de serem desalojados até que há dez anos o local foi declarado em estado de calamidade e muitos aceitaram outros alojamentos.

Um dos eixos do projeto é a recuperação ambiental do entorno. Para isso, o morro conta com tubulações que captam o material em decomposição que ainda surge de dentro da montanha.

Em seguida, o viscoso líquido passa para uma usina de tratamento, onde se extraem os metais e a água limpa vai para o rio.

“Não podemos descontaminar este local para contaminar outro”, afirma Agudelo.

O passo seguinte é construir uma estufa para cultivar orquídeas que ajudem a aumentar os ganhos das famílias. Uma escolha que, para esta jardineira, tem um significado especial.

“A orquídea cattleya é hermafrodita e o que faz é identificar as mulheres de Moravia, que somos mãe e pai ao mesmo tempo”, afirma Agudelo, fazendo alusão a que a maior parte de suas colegas é chefe de família.

Além disso, destaca que esta planta adere a qualquer lugar, se adapta.

“Em Moravia somos como as borboletas, a todo momento fazemos metamorfose”, diz esta mulher que, no entanto, conta não ter sido fácil deixar de viver ali.

Ela diz que foi complicado deixar a reciclagem, se adaptar a um apartamento e pagar contas.

“Aqui, cada um ligava seu equipamento, fazia seu churrasco. Lá é preciso viver como vivem os ricos, em silêncio, com hábitos muito diferentes, cada um em seu aparamento, as pessoas não são tão unidas”, conta.

“Às vezes chamamos uns aos outros de ‘basuriegos’ (algo como ‘lixareiros’, combinação de lixo e caseiro, em tradução literal) porque morávamos no lixo, mas nós não achamos que signifique algo ruim”, diz Agudelo.

Fonte: Terra

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