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sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Redução da fecundidade e qualidade de vida humana e ambiental, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

A taxa de fecundidade da população mundial caiu de 5 filhos por mulher em 1950 para 2,5 filhos em 2010, segundo dados da Divisão de População das Nações Unidas. Mas o número de nascimento, que estava pouco abaixo de 100 milhões de crianças, subiu para algo em torno de 140 milhões de crianças, no mesmo período. Isto ocorreu porque aumentou o número de mulheres entre 15 e 49 anos (período reprodutivo), fazendo com que o volume de nascimentos aumentasse mesmo com a diminuição do número médio de filhos por mulher.


Na projeção média da fecundidade da ONU, que pressupõe uma taxa de fecundidade ao nível de reposição em 2100, o número anual de nascimento no mundo deve se manter mais ou menos estável em torno de 140 milhões de criancas. Isto quer dizer que, se a esperança de vida global chegar a 80 anos, a população mundial pode se estabilizar em 11,2 bilhões (140 milhões vezes 80) de habitantes no final do século XXI.

Porém, quanto maior a população maior tende a ser o impacto negativo das atividades antrópicas sobre o meio ambiente e maior tende a ser a taxa de exploração dos recursos naturais. A pegada ecológica já está acima da taxa de reposição da biocapacidade da Terra e a grande emissão de gases de efeito estufa tende a aumentar o aquecimento global e provocar mudanças climáticas indesejáveis. Uma redução mais rápida do número de nascimentos poderia contribuir para o encolhimento do impacto antrópico.

O mundo atingiu 7 bilhões de habitantes em 2011. No quinquênio 2010-15, o número de óbitos globais está em torno de 60 milhões e o número de nascimentos em torno de 140 milhões. Portanto, o crescimento vegetativo está na casa de 80 milhões de pessoas ao ano. Assim, a população mundial de 2014 é de 7,24 bilhões de habitantes, devendo atingir 8 bilhões em 2024 ou 2025. Devido à inércia demográfica e à estrutura etária relativamente jovem da população mundial, é praticamente impossível deter o crescimento demográfico no curto prazo.

Porém, a população mundial pode começar a cair no médio e longo prazo. No cenário de queda mais rápida da fecundidade, a população mundial atingiria a estabilidade em meados do atual século, com uma população de 8,3 bilhões de habitantes. Com o número de nascimentos continuando a cair até cerca de 60 milhões ao ano, em 2100, a população mundial ficaria com 6,7 bilhões de habitantes nesta mesma data.

Portanto, no curto prazo não é possível obter um decrescimento populacional com continuidade da redução das taxas de mortalidade. Mas no longo prazo isto é perfeitamente viável. Basta a taxa de fecundidade global ficar em torno de 1,8 filhos por mulher que o número de nascimentos declinaria continuamente, aliviando a pressão demográfica sobre o meio ambiente.

Se entre 2010 e 2050 o número de nascimentos cair aproximadamente em 1 milhão ao ano, o número de novos bebês diminuiria de 140 para 100 milhões no período. Portanto, a população mundial pode ter, neste caso, cerca de 1 bilhão de habitantes a menos do que aquela estimada na projeção média. Assim, na projeção baixa da Divisão de População das Nações Unidas a população mundial estaria abaixo de 7 bilhões de pessoas em 2100.

Ou seja, reduzir de imediato a população, mantendo os ganhos de esperança de vida, é impossível. Mas desde já (e no dia-a-dia) reduzir o ritmo de crescimento demográfico é perfeitamente possível. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que existem mais de 200 milhões de mulheres em período reprodutivo sem acesso aos métodos de regulação da fecundidade. O número de gravidez indesejada é alto. Portanto, torna-se fundamental se atingir, em algum momento, a meta # 5B dos ODMs: “Alcançar, até 2015, o acesso universal à saúde reprodutiva”. Os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) também colocam como meta a universalização dos serviços de saúde sexual e reprodutiva.

Sem dúvida, as gerações presentes podem contribuir para a melhoria das gerações futuras e para a redução dos problemas ecológicos. Se o decrescimento populacional for acompanhado do decrescimento do consumo conspícuo haveria então a possibilidade de uma situação onde uma menor quantidade de pessoas, com diminuição do consumismo, permitiria uma melhor qualidade de vida humana e não humana no Planeta.

Referências:

STRIESSNIG, E.; LUTZ, W. How does education change the relationship between fertility and age-dependency under environmental constraints? A long-term simulation exercise. Demographic Research, v. 30, article 16, p. 465-492, February 20, 2014.

As the world’s population grows, are we borrowing from mankind’s future?, Boston Globe, 02/05/2014

John Englart, Tackling food security with a growing population, climate change and peak oil, 23/02/2014

Andrew McKillop. Falling World Population And The New Economic Prosperity, 02/05/2013

Glen Barry. On Overpopulation and Ecosystem Collapse, May 17, 2014



José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br


Fonte: EcoDebate

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