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segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Falta de planejamento deixa Rio Grande do Sul em alerta permanente para falta de água

Com verão chuvoso, gaúchos acompanham a distância a escassez no Sudeste, mas Estado não está livre de problemas de abastecimento


Estado que carrega no nome uma alusão à fartura de água e tem de padroeiro o santo consagrado como guardião da chuva, o Rio Grande do Sul assiste ao drama do Sudeste com uma ponta de alívio. Depois da forte seca do verão 2011/2012, que levou cidades ao racionamento, dizimou lavouras e fez a economia encolher, são três anos seguidos de precipitações generosas, com plantações viçosas, rebanhos sem sede e despreocupação na hora de tomar banho ou lavar louça. Nem o gosto ruim que saía das torneiras, recorrente em períodos de nível mais baixo do Guaíba, tem atormentado os porto-alegrenses.

A aparente bonança, porém, camufla um perigo sempre à espreita. Acostumado a secas nos meses mais quentes, exatamente quando o consumo cresce nas cidades e no campo, o Rio Grande do Sul tem, conforme a Agência Nacional de Águas (ANA), o segundo maior desequilíbrio crônico entre oferta e uso de recursos hídricos do país, só atrás do semiárido nordestino.

– Se São Paulo está em alerta vermelho, no Estado estamos em um eterno alerta amarelo – afirma Carlos André Bulhões Mendes, vice-diretor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da UFRGS.

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Com uma precipitação média de 1,4 mil milímetros por ano, o calcanhar de aquiles gaúcho não é exatamente a falta de chuva, sustenta o especialista. Para Mendes, assim como o Brasil, o Estado sofre com “secas administrativas”, fruto da imprevidência no planejamento e falta de parcimônia no uso da água por indústrias, população e lavouras de arroz, irrigadas por inundação, além do alto percentual de perdas na distribuição por problemas na rede e da poluição de rios que suprem a Região Metropolitana.

Enquanto a Grande São Paulo é abastecida por um complexo sistema de represas que vem secando nos últimos anos, no maior aglomerado urbano do Rio Grande do Sul a configuração é diferente. A Capital tem o Guaíba como fonte, que nenhum especialista cogita a chance de secar. A fragilidade é maior em cidades próximas que captam em rios como Sinos e Gravataí, dois dos 10 mais sujos do país.

– O problema que se vê em São Paulo agora ocorreu conosco em 2005. O rio secou – compara o presidente do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Gravataí, Paulo Robinson Samuel.

Alternativa para controlar vazão

Novo Hamburgo e São Leopoldo também enfrentaram racionamento em 2012, quando o Rio dos Sinos, manancial para 1,3 milhão de pessoas, virou um fiapo de água.

– Em 10 anos, tivemos dificuldades em dois. Preocupa porque o rio é relativamente pequeno, tem muitos usos, grande carga poluidora e a população cresce – observa Arno Kayser, presidente do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Sinos.

Nos dois casos, as companhias de água fizeram obras para melhorar a captação em períodos de estiagem e há acordo para que plantadores de arroz cessem o bombeamento quando os rios atingem níveis críticos. Uma alternativa estudada é a construção de pequenas barragens para armazenar água e regular a vazão, tanto na seca quanto em enchentes. 





Bagé tem obra parada por suspeita de desvio

Nenhum gaúcho conhece tão bem o sofrimento da falta de água como o bajeense. Na cidade da Campanha, a regra nos últimos 10 anos foi passar pela provação dos racionamentos devido a estiagens e à limitação de mananciais. Mesmo sem novos episódios após 2012, a esperada solução para evitar um novo problema em caso de seca está em um impasse.

Promessa de folga no abastecimento, a barragem de Arvorezinha, orçada em R$ 49 milhões, está com as obras embargadas pela Justiça federal desde junho de 2013 devido a suspeitas de desvio de verbas. O novo reservatório, com capacidade para 18 bilhões de litros, multiplicaria por cinco o potencial de armazenamento de água em Bagé. Hoje, são 4,3 bilhões de litros divididos em três barragens, cheias graças à abundância de chuvas.

– Essa barragem será a tranquilidade para a nossa comunidade. Atualmente, temos água para cinco meses sem chuva – diz o diretor-geral do Departamento de Água e Esgotos de Bagé (Daeb), Antonio Kiwal.

Com a construção iniciada em 2011, a barragem foi embargada com 30% das obras executadas. Caso não houvesse paralisação, deveria estar concluída ano passado. Kiwal não arrisca uma projeção de quando a obra poderá ser retomada. Sem a barragem, os 115 mil habitantes de Bagé precisam torcer para que o município não passe dois verões com pouca chuva.


Corsan planeja captar no Guaíba

Responsável pelo abastecimento em mais de 300 dos 497 municípios gaúchos, a Corsan pretende ampliar os sistemas de captação e, por outro lado, atacar as perdas. O novo presidente da companhia, Flavio Presser, diz que uma das prioridades é interligar sistemas hoje isolados, principalmente na Região Metropolitana, reduzindo risco de desabastecimento quando estiagens prolongadas afetarem o nível dos mananciais.

– Temos o plano de captar água do Guaíba para abastecer Canoas e Alvorada. Isso já está no planejamento da Corsan – diz Presser, lembrando que ele mesmo, que há poucos dias estava à frente do Departamento Municipal de Água e Esgotos da Capital, deu sinal verde para a estatal gaúcha tocar a ideia.

Presser lembra que a vazão do Guaíba é de 1,4 mil metros cúbicos por segundo, enquanto Porto Alegre, no verão, consome apenas 6,3 metros cúbicos por segundo. Para diminuir as perdas, com substituição de redes, a intenção é investir cerca de R$ 100 milhões por ano. A meta é reduzir o percentual de desperdício dos atuais 37% da água tratada para 20% em cerca de 10 anos.

Aos poucos, irrigação conquista as lavouras

Com uma economia em que boa parte da indústria, do comércio e dos serviços tem o desempenho atrelado ao resultado do campo, o Rio Grande do Sul amargou, na última década, três anos de queda do Produto Interno Bruto (PIB). Excluindo-se 2009, quando o Estado – e o país – foi afetado pela crise financeira global, o encolhimento da atividade teve relação direta com secas históricas que arrasaram lavouras, principalmente de soja, o motor do agronegócio local.

Após a crise hídrica de 2012 que empurrou o Estado a uma retração de 1,4% na economia, houve um despertar para a necessidade de aumentar a área irrigada de culturas de sequeiro, essencialmente soja e milho. A extensão, estimada em 105 mil hectares, avançou 138%, para 250 mil hectares, calcula a Secretaria Estadual da Agricultura.

– Isso inclui grãos e pastagens (para a pecuária leiteira), o que é importante para fixar o homem no campo – diz Nadilson Roberto Ferreira, membro da equipe técnica do programa Mais Água Mais Renda, criado pelo governo após a seca de 2012 para incentivar a irrigação no Estado.

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Embora seja uma extensão pequena em comparação com a área total cultivada no Estado – só de soja são 5 milhões de hectares –, o avanço pode ser considerado “excelente”, avalia o professor de engenharia rural da Universidade Federal de Santa Maria (USFM) Reimar Carlesso. Criador de uma tecnologia que hoje monitora a irrigação de lavouras em países como México, Estados Unidos, Romênia e Bulgária, Carlesso entende que o acréscimo é significativo em virtude de limitações como crédito e disponibilidade de energia no c ampo. Motivo de queixas repetidas, o licenciamento ambiental para os projetos melhorou, entende o professor.

– Se mantivermos esse ritmo, em 10 anos aumentaremos nossa produção agrícola e o risco devido às frequentes estiagens ficará cada vez menor. A agricultura irrigada dá mais estabilidade ao agronegócio, garante a atividade e gera mais tributos para o Estado – conclui Carlesso.

Fonte: Zero Hora

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