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quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Horta orgânica de Terra Estrela, Várzea Grande (MT), artigo de Roberto Naime

PANTALEÃO et. al. (2014) descrevem e relatam a experiência agroecológica cuja origem se deu em função da adequação a uma alimentação saudável para o consumo familiar e se desdobrou em um negócio próspero e sustentável na horta orgânica de Terra Estrela, em Várzea Grande no estado do Mato Grosso.


Hortas orgânicas materializam a relevância do equilíbrio dinâmico entre o homem e a natureza que pode ser uma alternativa ao processo produtivo tradicional, favorecendo o desenvolvimento rural sustentável.

O responsável pela atividade, Egon Nord teve sua formação básica na Escola Waldorf, que possui um ensino voltado a antroposofia e agricultura alternativa e relata que sempre foi ligado à terra. O agrônomo percebeu em um trabalho de especialização feito nos assentamentos que muitos agricultores tinham excedente de produção realizado para o sustento de subsistência, muitas vezes até por falta de recursos para utilizar produtos químicos, enquanto na região urbana, existia uma demanda desses alimentos.

Foi nesse contexto que surgiu a ideia de organizar uma rede de consumo consciente. A experiência ocorreu na Horta Terra Estrela, que é distribuída em uma propriedade com mais de quatro hectares em um espaço de 18 mil metros quadrados de área de mata nativa localizada no bairro Engordador, município de Várzea Grande, no Mato Grosso.

As práticas de comercialização dos alimentos orgânicos começaram no ano de 2007, quando apesar de ter a própria horta, se compravam alimentos de diversos produtores e se revendia as hortaliças por meio de “kits” que eram distribuídos em ecopontos, para clientes previamente cadastrados. Além dos produtos frescos dos agricultores outros produtos foram agregados ao “kit”, como castanhas, queijo orgânico e outros, com o intuito de aumentar a renda.

Foi então idealizada a criação de uma loja especializada em produtos orgânicos, em que poderia agregar novos produtos e continuar com a distribuição dos “kits”.

A experiência da loja permitiu concluir que as dificuldades estavam no gerenciamento da comercialização, por se tratar de um produto perecível que pode durar pouco mais de dois dias, quando conservados em câmera fria. Então foi decidido voltar a manipular apenas os alimentos cultivados na Horta Terra Estrela.

No início de 2013, se criaram vários pontos para entrega das mercadorias. O diferencial do cultivo orgânico está na preparação do solo para a plantação, pois é usada na compostagem, folha seca, galhos, terra e estrume de aves, como de galinha. Também são usados alguns nutrientes minerais para adubação, como o pó de rochas e potássio, sendo o segundo depois do nitrogênio o nutriente mais importante para a planta, na maioria das vezes, são importados.

Na Horta Terra Estrela, não se utiliza o esterco de boi porque haveria o risco de contaminação por resíduos de agrotóxicos. Quando ocorre desequilíbrio nas plantas, com ataque de pragas ou doenças o produtor utiliza defensivos alternativos e naturais de baixo impacto ambiental como, por exemplo, o fumo e algumas caldas feitas de cal com ação fungicida.

Mas em alguns casos em que não se consegue controlar as pragas, se altera o local de cultivo. Já existe na produção a prática de rotatividade das plantações.

Porém no mês de agosto de 2014, houve a conquista do selo “orgânico” que materializou a credibilidade do consumidor na produção e maximizou as vendas destes alimentos. Dessa maneira a agricultura ecológica se consolidou no mercado, distribuindo em ecopontos, restaurantes e recentemente em um supermercado conceituado na cidade de Cuiabá.

São disponibilizados aos clientes cadastrados três kits compostos por verduras e temperos, conforme a preferência do consumidor. Os clientes da Horta Terra Estrela, combinam o dia e horário para receber os seus produtos. O preço médio de cada kit é de R$ 13 a R$ 25.

O Serviço Brasileiro de apoio à pequena e média empresa (SEBRAE), também contribuiu no processo de certificação, visto que forneceu o selo orgânico, por meio da Ecocert.

PANTALEÃO et. al. (2014) percebem que diante de toda a trajetória do empreendimento, a prática da agroecologia, pouco explorada na região, possui espaço para expansão. Com as várias tentativas de comercialização houve aprendizado que era necessário uma estratégia de logística, já que esse era o grande obstáculo a ser superado no empreendimento. As soluções encontradas para resolver estas dificuldades, foram criar uma regularidade por meio dos “kits’, fazer cadastro dos clientes e criar ecopontos fixos.

Este procedimento facilitou a gestão, diminuindo os custos e possibilitando a viabilização do comércio dos alimentos orgânicos. Alguns resultados são visíveis para o comércio como a expansão da cadeia de alimentos orgânicos, o aumento do mercado de consumidores conscientes e transformação da horta como referência. Este caso é reconhecido como sendo um caso de sucesso único na região de Mato Grosso.

Entre os produtos encontrados estão tomates-cereja, berinjela, vagem, pepino, almeirão, chicória e escarola, mamão e banana, porém a ênfase é na produção das folhas como: alface, rúcula, cebolinha, salsa, coentro e couve.

A construção desse negócio ecológico ocasionou um retorno financeiro em longo prazo e também a oportunidade de beneficiar a comunidade com melhor qualidade de vida e uma alimentação privilegiada. Após a certificação dos alimentos, passaram a ser comercializados em média 130 kits por semana, além das entregas diárias para o supermercado, que totaliza no mês cerca de 19.000 unidades de hortaliças.

Porém, se constatou que o aumento da demanda poderá ocasionar problemas de falta de produtos, por isso são mantidos apenas 2 pontos para os clientes que fazem a aquisição dos “kits”. Com isso se difunde a agroecologia para a sociedade, uma vez que a horta Terra Estrela está se tornando uma referência de comércio orgânico no estado de Mato Grosso, reconhecido como um caso de sucesso na agricultura.

Caso os produtos não possuam o selo de certificação terá dificuldade em conseguir mercado, porém esse é um risco inevitável nesse negócio, isso porque precisa cultivar primeiro para ser certificado. Há uma grande possibilidade de perda de alimentos, por motivo de chuva intensa, doenças nas lavouras ou até mesmo durante o transporte.

Ocorre saudar a iniciativa, principalmente no estado do Mato Grosso, onde até mesmo produtos de agricultura convencional se originam de outras praças.

Neste cenário, onde o estado do Mato Grosso é considerada a maior unidade produtora de grãos e proteínas do país e se identifica que 97% dos alimentos consumidos provém de fora do estado, mesmo quando resultantes de agricultura convencional se coloca a necessidade de reflexão isenta para se conhecer e se entender a realidade. Que se expressa para todos nós. E principalmente que mundo e que país se deseja legar para as gerações futuras carregue consciências mais leves.

Referências:

TAFNER JUNIOR, Armando Wilson; CORREIA, Jonas Benevides; IZAEL, Thiago, VILELA, Meriji Luciana, OLIVEIRA, Jordana; MENDONÇA, Dannyela. Cooperangi: à Caminho da Independência Química. Cadernos de Agroecologia – ISSN 2236-7934 – Vol 9, No. 4, Nov 2014

PANTALEÃO, Elba de Oliveira; OKAWADA, Fernanda Corrêa Freitas; BRESSAN, Idinéia; FERRER SILVA, Ivana Aparecida; ANDRADE, Ana Letícia Nogueira de; LOPES, Eduardo de Oliveira. Terra Estrela: O Sucesso de uma Horta Orgânica. Cadernos de Agroecologia – ISSN 2236-7934 – Vol 9, No. 4, Nov 2014



Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.

Fonte: EcoDebate

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