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sexta-feira, 29 de setembro de 2017

O Chile está se tornando potência energética com base no sol, no vento e em vulcões, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

O Chile caminha para ser uma potência energética na área renovável. Enquanto isto, o Brasil e a Venezuela atrelaram o desenvolvimento nacional ao poder poluidor dos combustíveis fósseis. O Chile está prestes a se tornar um exportador líquido de energia investindo em fontes mais limpas, especialmente o sol, o vento e a força geotérmica dos vulcões.


Reportagem do jornal New York Times mostra que o Chile caminha para se tornar autossuficiente em energia renovável e exportador líquido, mesmo sendo pobre em reservas de combustíveis fósseis. O deserto de Atacama é um dos lugares mais secos e ensolarados da Terra. O sol é tão forte que os trabalhadores devem usar roupas adequadas e espessas camadas de protetor solar.

As autoridades chilenas têm uma projeção ambiciosa, dizendo que o país está no bom caminho para confiar em fontes limpas para quase 100% de suas necessidades de eletricidade até 2050, acima dos atuais 45%. Para tanto está aproveitando o potencial solar e espalhando turbinas eólicas ao longo da costa chilena de 2.653 milhas.

A presidenta Michele Bachelet, preocupada com o aquecimento global e a necessidade de descarbonizar a economia, disse: “Nós pensamos que é essencial para o nosso desenvolvimento econômico ter energia mais limpa porque queremos que este planeta dure”. Em agosto passado, o Chile concedeu dezenas de contratos a empresas locais e estrangeiras em um grande leilão que terceirizou cerca de 23% de suas necessidades energéticas esperadas na próxima década. Um novo leilão está programado para ocorrer em novembro de 2017.

Além das energias eólica e solar, o Chile investe na energia geotérmica, pois é um país rodeado de vulcões. Agora está inaugurando a primeira planta de energia geotérmica da América do Sul, em Cerro Pabellón, que fica a 5 mil metros de altura em relação ao nível do mar. Com a capacidade de alimentar cerca de 165 mil lares, a nova fábrica é mais um passo na transformação da energia limpa no Chile.

A rede de energia limpa em rápida expansão da nação, que inclui vastos campos solares e parques eólicos, é uma das mais ambiciosas de uma região que se move de forma decisiva além dos combustíveis fósseis. Ademais, o Chile possui as maiores reservas de lítio e vai estar em posição de destaque na nova matriz energética renovável e no campo das baterias.

Não só na área energética, o Chile tem apresentado resultados econômicos e sociais muito melhores do que o Brasil e a Venezuela. O Chile deslanchou bastante, em especial, depois do fim da ditadura de Augusto Pinochet. Na década de 1980, a renda per capita do Chile estava ao mesmo nível da renda per capita mundial e abaixo da renda per capita do Brasil e cerca de duas vezes menor do que a renda per capita da Venezuela. Contudo, enquanto o Brasil e, principalmente, a Venezuela entraram em declínio absoluto, o Chile continuou avançando e já possui uma renda per capita duas vezes maior do que a da Venezuela.

Por ironia, o Brasil se tornou o maior produtor de petróleo da América Latina, pois o país superou a produção de petróleo na Venezuela e no México, em 2016, devendo se repetir em 2017. Porém, petróleo não é sinônimo de bem-estar.

Se o custo da extração do petróleo é próximo do preço internacional não há grandes ganhos neste tipo de exploração energética. O Brasil errou ao jogar todas as suas fichas nas reservas do pré-sal. Como o preço do petróleo caiu muito no mercado internacional, de cerca de US$ 100 o barril em 2014, para menos de US$ 50 entre 2015 e 2017, e como as jazidas do pré-sal são caras, a dependência dos combustíveis fósseis tem sido mais um fardo do que um benefício. O exemplo de equívoco no projeto de desenvolvimento acontece no Estado do Rio de Janeiro, que jogou todas as suas fichas na produção do “ouro negro” e agora vive, em situação falimentar, o pesadelo da crise fiscal, do caos social e do aumento da violência.



O Chile está dando um exemplo para a América Latina como garantir um projeto de desenvolvimento sustentável e baseado em energias renováveis com baixa emissão de carbono. A Venezuela e o Brasil deveriam aprender com o Chile, como garantir a democracia e como manter os avanços sociais sem depender dos combustíveis fósseis.

Referências:
Ernesto Londoñoaug. Chile’s Energy Transformation Is Powered by Wind, Sun and Volcanoes, NYT, 12/08/2017
https://www.nytimes.com/2017/08/12/world/americas/chile-green-energy-geothermal.html



José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

Fonte: EcoDebate

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