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segunda-feira, 27 de abril de 2015

A sua água depende dos outros, artigo de Montserrat Martins

O “só acredito vendo”, frase famosa de São Tomé, é o que costumamos fazer com os assuntos que nos atingem, só reagimos aos que estão na nossa frente, batendo na nossa porta.


Problemas futuros nós deixamos que aconteçam, que outros resolvam, “no meu turno não”, pensamento típico da cultura nacional. Por falta de planejamento faltou água em São Paulo e pode faltar no Rio Grande do Sul também, se não formos um pouco menos brasileiros, de deixar tudo para a última hora.

Porto Alegre fez o PISA – Programa de Saneamento Sócio-Ambiental – que passa a tratar cerca de 80% dos esgotos, contra os menos de 30% que a capital tratava antes. Cada município tem de garantir seu abastecimento e a qualidade hídrica, mas não dependem só de si, o Governo do Estado há no mínimo 3 gestões abandonou o Pró-Guaíba, governos de partidos diferentes tiveram em comum essa negligência nos últimos dez anos, perdendo os investimentos internacionais por falta de contrapartidas, do Estado fazer a sua parte.

Porto Alegre, ao contrário, planejou e executou o PISA, também com 3 gestões diferentes nos últimos dez anos, também com recursos internacionais. Mesmo assim, um município não depende só de si, pois 85% das águas do Guaíba provém da bacia do Alto Jacuí, cujas nascentes se encontram em Passo Fundo. A região hidrográfica do Guaíba, composta por 9 (nove) bacias hidrográficas, abastece cerca da metade da população do Rio Grande do Sul concentrada na região metropolitana, serra e planalto. Por isso a questão do seu município não é isolada, depende desse todo.

O governo federal anunciou verbas para a ampliação de aeroportos e Passo Fundo será o primeiro, desconsiderando o alerta de ambientalistas de que naquele local serão afetadas nascentes do Jacuí. Literalmente, o governo federal está “pagando para ver”, os vereadores passofundenses já se interessaram pela questão mas as autoridades federais não. Não seria o primeiro caso, a baixa vazão do São Francisco é fruto dessa mesma negligência com os recursos hídricos do país.

Além do risco de comprometer a vazão, a qualidade da água também é crítica. Duas destas bacias estão entre as 10 mais poluídas do país, a do Sinos e a do Gravataí. Há falta de controle sobre a poluição industrial e também da contaminação por esgotos domésticos. Por mais processos de filtragem e tratamento da água que se faça, a água que resulta desse processo nunca terá as mesmas condições da água original, antes de ser contaminada. É impossível restaurar completamente a água, há micro resíduos de metais cancerígenos inclusive que persistem, sinto lhe preocupar se você não sabia. Que o seu município trate sua água, mas não podemos desistir da preservação e um Pró-Guaíba, para fazer isso de modo integrado, seria necessário.

Montserrat Martins, Colunista do Portal EcoDebate, é médico psiquiatra, bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais e presidente do IGS – Instituto Gaúcho da Sustentabilidade.

Fonte: EcoDebate

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