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quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Usinas de reciclagem de entulho em Belo Horizonte e a reciclagem de resíduos da construção civil, artigo de Roberto Naime

Os resíduos sólidos resultantes do setor de construção civil, incluindo não apenas construções novas, mas também demolições costuma dobrar o montante de resíduos sólidos produzidos por uma comunidade. As pesquisas e o desenvolvimento de tecnologias para o reaproveitamento dos materiais advindos de construções e demolições são inúmeros.


Mas vale ressaltar experiência simples e que é muito relevante pela antiguidade e persistência que demonstram. São as usinas de reciclagem de resíduos sólidos da construção civil de Belo Horizonte. Dados indicam que a produção dos entulhos de construção civil, em todo país, representam um valor per capita que está em torno de 0,60 tonelada/habitante a cada ano. As quantidades são muito variáveis por região considerada, mas este número permite fixar um parâmetro idealístico para a situação.

Nas usinas de Belo Horizonte, são britados e transformados em brita e areia materiais de alvenaria passíveis de beneficiamento. A cidade conta com uma rede de coleta de pequenos volumes, que normalmente são destinados por carroceiros e outros pequenos veículos. Em volumes maiores, os entulhos são destinados diretamente na usina, sendo molhados para evitar a formação de poeira e posteriormente retirados materiais que não podem ser destinados aos britadores.

Com a primeira unidade operando desde o final do século passado, aproximadamente a partir de 1.998, a usina de reciclagem do Estoril, já foram viabilizados milhares de toneladas de reutilização de entulhos como solos para aterramento, areia e brita. Também se viabilizou empreendimentos de construção de blocos para construção a partir de material reciclado com cerca da metade do custo de bloco produzido com material novo.

A construção civil é um setor muito dinâmico da economia, sendo responsável por aproximadamente 20% do produto interno bruto (PIB). Estima-se que para cada posto de trabalho gerado sejam criados cerca de 3 postos indiretos. Assim estas iniciativas simples e bastante perenes devem ser especialmente saudadas como relevantes por toda a reciclagem que já produziram. A questão não é de serem umas operações que atinjam níveis de excelência. Mas é que enquanto se discute o ideal muitas vezes se deixa de realizar o óbvio e o simples. As usinas de Belo Horizonte, devem ser exaltadas por isto. São experiências antigas e muito práticas e persistentes.

A construção civil embora seja um setor muito dinâmico, nas grandes empresas, demonstra que não ocorrem mais tanta perda de material, mas nas empresas pequenas e médias, ainda é grande o desperdício pelas dificuldades de gestão e pelo conjunto do setor absorver a mão de obra mais desqualificada do mercado. Esta realidade faz com que o setor tenha muita importância social pela inclusão social que patrocina, mas, ao mesmo tempo, é uma realidade responsável pelos elevados índices de desperdício encontrados, que em média devem se situar entre 20 e 30% de todos os materiais.

Os problemas principais podem ser referidos com estocagem temporária dos materiais, transporte dentro da obra e gastos para retrabalho e recuperações de geometria de obra mal encaminhada. A perda da construção civil faz com que o meio ambiente sofra com a maior exploração para produção de bens industriais e também determina maior quantidade de emissões atmosféricas para transporte, além de maior dispêndio econômico, que normalmente é repassado para o custo final da obra e bancado por todo mercado consumidor.

Em Belo Horizonte, a cidade sempre esteve na vanguarda da administração e da gestão dos resíduos sólidos provenientes da construção civil, também chamados de entulhos. Em São Paulo e Curitiba também se conhece iniciativas, mas ligadas à iniciativa privada. O que não faz diferença alguma. Importam os resultados, tomara que sempre fosse viáveis economicamente, as iniciativas do setor privado. Social e ambientalmente tudo converge para as mesmas resultantes. Mas no setor privado prepondera ou determina o avanço da iniciativa, a viabilidade econômica como premissa.

Na capital mineira, existem três unidades recicladoras, sendo uma situada no bairro da Pampulha, outra no bairro Estoril e outra às margens da BR 040, no km 531. Para evitar desconfortos com ruídos, os equipamentos de britagem e as próprias pás carregadeiras, são revestidas, com materiais do tipo emborrachados, e também, com materiais silenciadores.

A coleta e transporte dos entulhos valoriza a atividade dos carroceiros, que são reunidos em associações e cadastrados com veículos transportadores autônomos. O entulho beneficiado é constituído por cimento, concreto, argamassa, telhas e tijolos inteiros ou quebrados. Ao chegar na usina o entulho é espalhado por trator e as impurezas que não podem ser beneficiadas, separadas manualmente, antes de transporte ao equipamento de britagem. O material que não pode ser britado é constituído por plásticos, papéis, papelão, metais e madeira.

Restos de tijolos e telhas são empregados como leito e subleito de pavimentos, enquanto resíduos de cimento, concreto e argamassa servem de matéria prima arenosa e são misturados a cimento novo para a fabricação de blocos e tijolos. Estes materiais são empregados pela prefeitura ou vendidos.

A vertente social é muito relevante na medida que os carroceiros são integrados no processo, com a prefeitura assumindo um apoio na manutenção veterinária dos equinos e emplacando as carroças, criando no carroceiro ampla consciência ambiental e econômica. Os materiais que antes não tinham serventia passam a ter valor na medida em que são reciclados para uso na própria construção civil.

Fica aqui registrada a relevância e principalmente o pioneirismo das iniciativas, que já contam com quase duas décadas, incrementando avanços ambientais importantes e melhorias na qualidade de vida das populações beneficiadas.

Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.

Fonte: Ecodebate

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