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segunda-feira, 30 de junho de 2014

Uma Copa diferente, artigo de Montserrat Martins

“I’ve waited years for England to play like Spain… I got my wish”.
(Desabafo na página de um inglês no facebook).


Essa é uma Copa diferente, por vários motivos. Começando pelos mais antigos, eu sou do tempo em que as mulheres não gostavam de futebol e os homens não viam novela. Os tempos mudaram radicalmente, tem homem chorando em novela e mulher discutindo lance de jogo, assistência e tática em campo. Logo que acabou aquela novela com happy end entre o Félix e o Carneirinho, eu levei o carro pra fazer orçamento de revisão e em todas as mecânicas a piada do dia era um dizer para o outro: “Ô Carneirinho, atende lá”. O apelido “Carneirinho” pegou geral para os homens zoarem uns dos outros, quer dizer, todos tinham visto a novela.

Essa Copa, então, foi a subversão definitiva dos hábitos do passado, porque está entusiasmando mais as mulheres do que os próprios homens. Mesmo eternos apaixonados por futebol, estamos um pouco sem jeito diante da paixão das mulheres pelos jogadores e até pelas hordas estrangeiras que invadem nossas cidades, na ótica masculina, ou pelos alegres hóspedes internacionais que nos brindam com suas visitas (escolha alguma expressão de simpatia, mais adequada à linguagem feminina).

Os diálogos que surgem dessas situações inusitadas podem ser tensos. “O meu primeiro amor foi o Pirlo… sabe quando a gente tem 13, 14 anos e sonha com alguém ideal?”, confessa uma jovem nas redes sociais. O cara que está saindo com ela pergunta “você quer dizer, aquele Chuck Norris italiano?” e depois, magoado, publica na página dele que “o meu primeiro amor foi uma foto de índia pelada da Amazônia que eu vi numa revista… não sei o nome dela, mas vou chamar de Jupira, onde estará você, Jupira?”. Tá aí outro sinal dos tempos, antes eram os homens que eram ousados e as mulheres vingativas, agora já estamos correndo atrás do prejuízo.

Mas essa Copa também é diferente em outros aspectos, não só nas relações de gênero. Nas suas origens, séculos atrás, o futebol simbolicamente substituiu a guerra, o conflito, a briga física. Segundo alguns relatos sobre a história do futebol (que podemos encontrar na wikipedia), a bola simbolizava a cabeça de um invasor do território que uma horda defendia, contra outra horda, eram dezenas de jogadores de cada lado. Com a evolução das regras é que o futebol passou a coibir a violência física. E nas últimas décadas, enfim, é que se passou a valorizar e premiar o “fair play”, o espírito desportivo. E agora, surge forte como nunca a tendência ao humor.

Nessa Copa o espírito de humor é mais evidente, como numa grande brincadeira internacional. As risadas do goleiro Enyeama da Nigéria com o Messi, por exemplo. Tanto a grande mídia, quanto as alternativas, cada vez vivem mais de humor, uma necessidade do público na era do estresse, para descontrair. Fatos pitorescos viram notícia, seja sobre os jogadores ou sobre as próprias torcidas. Os usuários das redes sociais também criam suas próprias ‘zoações’ uns com os outros.

O simpático juiz Saraiva, para todos que o conhecem, é um gremista que gosta de ironizar o que acontece para os lados do Beira-Rio, onde uma falha impediu a execução dos hinos antes de França x Honduras. Na rodada seguinte Saraiva postou, singelamente: “Bonito o hino de Honduras. Eu não conhecia”. Quando a Seleção empatou com o México e “caiu a ficha” da torcida sobre as possíveis limitações do nosso time, foi postado no face: “Parece que a Seleção, assim como várias obras, também não ficou pronta a tempo para a Copa”.

Montserrat Martins, Colunista do Portal EcoDebate, é Psiquiatra.

Fonte: EcoDebate

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