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terça-feira, 1 de julho de 2014

Água: mais um item escasso na Venezuela

“Tomara que chova, meu santo Deus, tomara que chova!”, exclama Carmen Coronado, uma empregada doméstica que guarda o lugar em uma longa fila em frente a uma bomba que canaliza a água que desce das montanhas do morro Ávila, que cerca Caracas.


Ela está entre os seis milhões de habitantes da metrópole venezuelana que há dois meses sofrem um severo racionamento de água em um país de grandes reservas hídricas, entre as quais o rio Orinoco, um dos de maior vazão da América.

Mas a temporada de seis meses de chuvas que deve começar em maio demorou pelo segundo ano seguido, colocando em condições críticas as represas que abastecem a cidade.

O governo fala de uma das maiores secas da História. Especialistas e opinião pública denunciam a falta de previsão.

Nas ladeiras do morro Ávila ou Waraira Repano, seu nome indígena, há torneiras que captam água dos lençóis subterrâneos. É dia útil. Os adultos deveriam estar no trabalho, as crianças na escolas… Mas a falta d’água pode mais.

Famílias inteiras, com crianças com uniformes escolares, juntam-se entre caminhões-tanque que enchem as cisternas dos prédios de classe média. Todos perdem a manhã na fila.

O taxista Ernesto Viña aproveita uma pausa do trabalho para procurar água. “Recentemente, tenho vindo diariamente para manter cheia uma cisternazinha que tenho em casa. Com isso, minha mulher, meus filhos e eu cozinhamos, lavamos e tomamos banho”.

No começo de maio, o governo estabeleceu normas de racionamento com o nome de “Plano Especial de Abastecimento”.

Todos os dias, o serviço é interrompido por 12 horas. Às vezes, a água sai da torneira à noite, às vezes durante o dia, dependendo do setor. Dois dias por semana, o serviço é suspenso por 24 horas consecutivas.

O plano busca mitigar o que o ministro do Ambiente, Miguel Rodríguez, diz ser a sétima seca mais intensa que o país viveu nos últimos 60 anos.

Nas ladeiras do Waraira Repano, o operador de uma das cisternas, Williams Escalona, contou que “há três semanas começou a ficar cheio de gente. Todos vêm com suas vasilhas. Essa estação ficava fechada, mas a crise fez que se tornasse indispensável”.

Perto de Caracas, em comunidades pobres, os moradores bloqueiam as ruas semanalmente para protestar contra a falta d’água, uma prática que se repetiu em outras cidades, como Punto Fijo, Maracaibo, Barquisimeto e Valencia.

José María de Viana, um engenheiro e ex-presidente da companhia hidrológica, garantiu que a água é abundante, mas a infraestrutura não está desenvolvida, nem a tecnologia está disponível para conseguir um abastecimento regular, mesmo nas temporadas em que não chove.

“Joga-se a culpa aos deuses dos erros humanos. Há investimentos que eram necessários e não foram feitos. Passaram-se 16 anos desde a última grande obra”, disse De Viana à AFP.

O especialista em saneamento ambiental José Norberto Bausson diz que 4 milhões de venezuelanos não têm acesso à água potável em casa, porque o sistema de aquedutos foi construído há mais de 30 anos e porque a crise é um problema de planejamento frente ao natural crescimento demográfico.

“As pessoas acreditam que temos muito pouca água nos sistemas, e o problema principal não é esse, mas o fato de que administramos muito mal a água. O abastecimento total diminuiu 20%, e isso gerou um grande caos”, explicou o engenheiro Bausson à AFP.

De volta à fila, um pedestre se aproxima para cumprimentar uma amiga e contar que, desde a madrugada, o serviço de eletricidade foi interrompido em sua casa.

“Ai, minha filha”, respondeu a mulher. “Isso não é nada! Sem luz, a gente dá um jeito, mas sem água… Sem água não se pode viver!”, lamentou. 

Fonte: Terra

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