Colaboradores

Tecnologia do Blogger.

Seguidores

Arquivo do blog

Pesquisar neste blog

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Painel Intergovernamental discute capacitação para pesquisas em biodiversidade

A capacidade de produzir e tornar acessíveis conhecimentos científicos de qualidade que possam auxiliar na formulação de políticas públicas voltadas à proteção da biodiversidade e ao desenvolvimento sustentável varia enormemente entre os diversos países do globo.


Cientes dessa assimetria, os membros da Plataforma Intergovernamental de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES) aprovaram em seu primeiro programa de trabalho – que compreende as atividades previstas para os anos de 2014 a 2018 – a criação de uma força-tarefa voltada a promover a capacitação profissional e institucional necessária para atender às demandas da organização.

Membros dessa força-tarefa estiveram reunidos nos dias 15 e 16 de setembro, em São Paulo, com acadêmicos, representantes do setor privado, de organizações não governamentais, de programas ambientais da Organização das Nações Unidas (ONU) e outras instituições multilaterais para discutir estratégias que permitam levantar os recursos técnicos e financeiros necessários.

“O IPBES tem quatro principais funções: realizar um diagnóstico sobre o estado do conhecimento da biodiversidade no mundo, oferecer diretrizes para a geração de novos conhecimentos e para o gerenciamento das informações, apoiar o desenvolvimento de políticas públicas e, por último, oferecer capacitação para que todas essas três outras funções possam acontecer e para garantir a participação efetiva de todos os países membros”, explicou Ivar Baste, membro da diretoria do IPBES e co-coordenador da força-tarefa de capacitação.

Segundo Baste, o objetivo do encontro em São Paulo foi entender como tornar o processo de capacity building mais sustentável. “Queremos levantar lições aprendidas com experiências anteriores, entender como podemos nos conectar com iniciativas de capacitação já existentes e como podemos comunicar, de maneira mais eficaz, a importância da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos para o desenvolvimento sustentável e o avanço do bem-estar humano”, afirmou.

De acordo com Carlos Alfredo Joly – que, além de coordenar o programa BIOTA-FAPESP, é membro do Painel Multidisciplinar de Especialistas do IPBES e integrante da força-tarefa de capacitação –, todos os 119 países que compõem a plataforma foram consultados sobre suas demandas por treinamento profissional.

“Fizemos uma triagem para selecionar prioridades e avaliar como podemos atender à demanda. Neste encontro, estamos discutindo iniciativas semelhantes desenvolvidas pela Convenção da Biodiversidade, pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e outras experiências anteriores para avaliar o que podemos acrescentar de novo”, disse Joly.

As discussões visaram a fornecer subsídios a uma segunda reunião, também em São Paulo, entre os dias 17 e 19 de setembro, na qual os membros da força-tarefa elaboram as propostas de trabalho para aprovação na plenária do IPBES, agendada para janeiro de 2015.

Uma das principais propostas é a criação de uma matchmaking facility, ou seja, uma ferramenta que permita reunir em um mesmo contexto as demandas por capacitação dos diversos parceiros e as ofertas de apoio feitas por instituições e indivíduos.

Iniciativa similar foi apresentada por Richard Byron-Cox, diretor de Capacitação do Secretariado da Convenção de Combate à Desertificação das Nações Unidas (UNCCD, na sigla em inglês) e idealizador do portal Capacity Building Marketplace.

“Há uma grande demanda por capacitação e há também muitas pessoas e instituições dispostas a apoiar. O problema é que a demanda está em um lugar, e a oferta, em outro. Esse mercado online pretende ser um lugar de encontro entre aqueles que têm algo a pedir e os que têm algo a oferecer, seja um treinamento, um trabalho voluntário ou uma consultoria, sejam recursos financeiros para doação”, disse Byron-Cox.

Como um dos representantes do setor privado, Luiz Eugênio Mello, diretor do Instituto Tecnológico Vale, ressaltou em entrevista à Agência FAPESP que o encontro tornou clara a possibilidade de identificar “objetivos comuns”, que permitam a “interação entre governos, academia e a iniciativa privada para a consecução das metas da plataforma”.

“A Vale é uma empresa que está presente em 30 dos 119 países membros do IPBES e tem interesse concreto de olhar para a biodiversidade em praticamente todos eles. Também dispõe de recursos valiosíssimos. Mantém, por exemplo, uma reserva natural em Linhares (ES), que é a maior área contígua de floresta de baixa altitude remanescente na Mata Atlântica. Opera também a maior mina de ferro do mundo, onde mantém a Floresta Nacional de Carajás (PA). Ambos são locais ideais para a realização de inventários e para o treinamento de pessoas”, disse Mello.

Já Stanley Asah, professor da University of Washington, dos Estados Unidos, falou durante o encontro sobre como os membros do IPBES podem aprimorar sua comunicação para obter maior engajamento de parceiros.

“Para os membros da força-tarefa de capacitação, por exemplo, é importante saber mostrar a possíveis doadores como eles podem se beneficiar com a doação. Mas recrutar doações é fácil, a parte difícil é mantê-las no longo prazo. Para isso, é preciso examinar como estão mudando as motivações e os interesses dos doadores e adaptar o programa de forma que ele continue atendendo a essas expectativas e aos objetivos do IPBES”, disse.

Metas para 2018

Em um evento aberto à comunidade realizado no dia 17 de setembro, na sede da FAPESP, os membros do IPBES apresentaram um panorama do programa de trabalho da plataforma para o período entre 2014 e 2018.

Durante a abertura, o presidente da FAPESP, Celso Lafer, destacou que a participação de Joly nas iniciativas do IPBES é um desdobramento de seu trabalho no Programa FAPESP de Pesquisas em Caracterização, Conservação, Restauração e Uso Sustentável da Biodiversidade (BIOTA-FAPESP).

Lafer também destacou a contribuição que a FAPESP tem oferecido para o processo decisório e a formulação de políticas públicas por meio de seus três principais programas de pesquisa: o BIOTA, o Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN) e o Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG).

“É indispensável a relação entre ciência e o processo decisório, sobretudo na área ambiental. Tendo participado como ministro [das Relações Exteriores] da Rio 92 [Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento] e da Rio +10, sempre tive muito cuidado e atenção em relação a esses aspectos e é por isso que tenho muito orgulho dos três grandes programas que a FAPESP apoia e sustenta”, disse Lafer.

Baste afirmou que o legado da Rio 92 é impressionante e foi responsável por colocar o mundo em uma trajetória de desenvolvimento sustentável.

Além da força-tarefa de capacitação, estão previstas outras duas iniciativas semelhantes no programa de trabalho do IPBES: uma voltada a aprimorar o processo de gerenciamento de dados e informações científicas e outra para integrar o conhecimento indígena e as pesquisas locais nos processos científicos e na avaliação e contabilização de biodiversidade e serviços ecossistêmicos.

Também está programado um conjunto de avaliações globais e regionais sobre temas como agentes polinizadores e sua relação com a produção de alimentos, o problema das espécies invasoras e os processos de degradação da terra e de restauração.

A ideia é que, até dezembro de 2018, seja divulgado o diagnóstico global do status da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos – relatório que deverá orientar a tomada de decisão em todas as convenções da área (leia mais em: http://agencia.fapesp.br/18410).

“Já em 2015 começam a ser feitos os diagnósticos regionais. Para o Brasil participar efetivamente da elaboração de um bom relatório sobre América Latina e Caribe, precisaríamos ter um bom diagnóstico nacional sobre o estado dos ecossistemas e da biodiversidade, sobre como alterações antrópicas alteraram seu funcionamento e os impactos nos serviços ecossistêmicos. Como ainda não temos esse diagnóstico, vamos precisar trabalhar simultaneamente no nível nacional e regional. Isso só será possível com o forte engajamento da comunidade científica que atua nessa área no Brasill”, disse Joly. 


Fonte: Fapesp

0 comentários:

Postar um comentário

Eco & Ação

Postagens populares

Parceiros