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quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Dendê pode ser consorciado com o plantio de alimentos, garantindo renda e alimentação

Dendê e alimentos plantados lado a lado

A mais produtiva das oleaginosas, produzindo até dez vezes mais óleo por hectare que a soja, o dendê, também chamado palma de óleo, pode ser consorciado com o plantio de alimentos e melhorar a qualidade do solo, garantindo renda e alimentação para o produtor nos três primeiros anos em que o dendezeiro ainda não produz.


Segundo Admar Bezerra, agrônomo da Embrapa Roraima, o preparo de cultivos entre as linhas de plantio dos dendezeiros ? as entrelinhas ? cria uma alternativa de renda no início do plantio. “O agricultor familiar tem que buscar cultivos alternativos para ir tocando a propriedade enquanto espera a primeira safra da palma”, explica. Devido à sua grande produtividade, o dendê pode ocupar áreas menores e aproveitar áreas alteradas ou degradadas.

Pesquisadores da Embrapa desenvolveram sistemas de cultivo para a cultura do dendê em Roraima. Essas tecnologias aliam consórcios de culturas de grãos como o milho, feijão-caupi e amendoim; de fruteiras como banana, mamão e abacaxi e também mandioca. As pesquisas buscam viabilizar diferentes arranjos produtivos com o dendê, utilizando culturas anuais e perenes em sistemas consorciados.

“A sinergia do sistema empresarial com a agricultura familiar se torna ainda mais vantajosa quando o sistema de manejo da palma de óleo é intercalado com culturas alimentares na fase pré-produtiva”, afirma Raimundo Rocha, agrônomo da Embrapa Amazônia Ocidental. Ele ressalta que esses cultivos promovem segurança alimentar e influenciam positivamente na amortização do custo de implantação dos sistemas, além de oferecer maior proteção ao solo e permitir exploração contínua dos plantios.

Além de apresentar as condições climáticas e de vegetação ideais para a adaptação da cultura, a região Norte está inserida no Programa de Produção Sustentável de Óleo de Palma, criado em 2010 pelo governo federal. O Programa prevê, entre suas diretrizes, a preservação da vegetação nativa, a produção integrada com os pequenos produtores e o aproveitamento das áreas degradadas da Amazônia Legal. Tudo com base nas delimitações feitas pelo Zoneamento Agroecológico do Dendezeiro, realizado pela Embrapa Solos, no Rio de Janeiro (RJ).

Atualmente, o Pará lidera a produção de dendê na região Norte, com grandes empresas trabalhando em conjunto com agricultores familiares. A área cultivada com palma no Estado chega a 140 mil hectares, segundo dados da Secretaria de Estado de Agricultura do Pará. Em Roraima, uma parceria com a empresa privada Palmaplan é responsável por 2.600 hectares de palma de óleo plantados. Desses, 400 são provenientes da agricultura familiar, com 54 pequenos produtores envolvidos.

Principais sistemas de cultivos

Pesquisas desenvolvidas pela Embrapa Amazônia Ocidental e pela Embrapa Roraima trazem resultados positivos sobre a aplicação do sistema de cultivo da palma de óleo com cultivos intercalares, principalmente nos primeiros anos de plantio. No Amazonas, o agrônomo Raimundo Rocha avaliou quatro tipos de sistemas de cultivos nas entrelinhas da palma, consorciando essa cultura com banana, mandioca, e uma terceira com abacaxi. Esses três sistemas foram comparados com o plantio do dendê solteiro, em monocultivo. As quatro configurações foram avaliadas com e sem calagem, no período de três anos.

O consórcio palma e abacaxi apresentou o melhor desempenho, proporcionando amortização de 100% dos custos de implantação e manutenção do sistema no período de três anos. Os sistemas palma/banana e palma/mandioca amortizaram 86,7% e 64,5%, dos investimentos, respectivamente, no mesmo período.

De modo geral, as culturas intercalares contribuíram significativamente para melhoria da fertilidade do solo e do desenvolvimento da palmeira. Rocha explica que, se corretamente manejado, o dendezeiro atinge seu auge produtivo no sétimo ano com média de 25 toneladas por hectare, permanecendo com esta produção até o 18º ano, quando a produção começa a declinar.

Dentre os sistemas avaliados, os que favoreceram o crescimento vegetativo da cultura da palma de óleo foram os consorciados com feijão-caupi/milho, amendoim e mandioca, mostrando-se também economicamente viáveis para a produção de palma de óleo pela agricultura familiar no Estado.

Preservação da floresta

Outra vantagem é que agricultores familiares podem conciliar esse cultivo com a produção de culturas alimentares. É o caso do agricultor familiar Cícero Maia que tem uma pequena propriedade no município roraimense de São João da Baliza. Cícero cultiva dendê há três anos e enquanto espera a produção da oleaginosa, já fez a colheita de safras de mandioca e abacaxi. O agricultor acredita que a diversificação produtiva nas entrelinhas do dendê traz benefícios para ambos os cultivos, tanto o das entrelinhas quanto o principal. “Estamos conseguindo plantar várias culturas que estão produzindo bem, sem afetar o desenvolvimento do dendê”, afirma.

O pequeno produtor é um dos 57 agricultores que participam do Projeto Dendê na Agricultura Familiar, desenvolvido pela Embrapa Roraima em convênio com o Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA) e participação das empresas ligadas à produção de biodiesel, Brasil Bio Fuels S/A, em São João do Baliza, e Palmaplan, em Rorainópolis, ambos municípios roraimenses.

O gerente administrativo da empresa Palmaplan, Alexandre Borba, conta que foi firmado contrato de 25 anos com os agricultores locais. “A cultura da palma é intensiva, necessitando de um agricultor para cada oito hectares, além de trabalhadores para a colheita. Isso consolida a necessidade de mão de obra por pelo menos 25 anos. Por isso, podemos dizer que é uma relação de troca”, conta.

O dendê em números

O dendezeiro é uma palmeira originária da África Ocidental, introduzido no continente americano no século XVI. Seu fruto produz dois tipos de óleo: o óleo de dendê ou de palma, extraído do mesocarpo do fruto; e o óleo de palmiste, extraído da amêndoa. Segundo dados da Fundação Joaquim Nabuco, cerca de 80% da produção mundial desse primeiro é destinada a indústria alimentícia. Os 20% restantes, representados pelo óleo de palmiste, são usados como matéria-prima na indústria de cosméticos, sabonetes e produtos farmacêuticos. De acordo com a organização World Wide Fund for Nature (WWF), esses óleos estão presentes em 50% de todos os produtos embalados encontrados em supermercados.

A exploração comercial da palma de óleo teve início em plantações do Extremo Oriente, com a utilização inicialmente para a produção de sabão. Com o crescimento da demanda, as plantações expandiram para a Malásia e Indonésia. Hoje, esses países respondem por aproximadamente 85% da produção mundial. O Brasil é responsável pela produção de apenas 0,5% na escala global, importando mais da metade do óleo de palma necessário à indústria do País. Os maiores consumidores estão na Ásia, especialmente na China, Índia e Paquistão, e na Europa.

Por Clarice Rocha e Síglia Souza, Embrapa Amazônia Ocidental

Fonte: EcoDebate

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