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segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Uso de medicamento para deficit de atenção cresceu 775% em 10 anos

Um projeto de lei obriga o governo a manter um programa de acompanhamento integral do TDAH para estudantes do ensino básico da rede pública e privada.


Cada vez mais comum no Brasil, o transtorno do Deficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) costuma causar problemas no convívio social e familiar, e muitas vezes atrapalha o desempenho na escola. Em geral, aparece na infância – afeta de 3% a 5% das crianças.

Nos últimos 10 anos, o uso de ritalina – nome comercial do metilfenidato, receitado para o transtorno – subiu 775% no Brasil. O dado, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), levanta dúvidas sobre possíveis erros de diagnóstico e sobre o tratamento.

De um lado, efeitos colaterais do remédio. Do outro, consequências psicológicas graves provocadas pela falta de medicação, como baixa autoestima, depressão e abuso de drogas. No meio do caminho, o paciente.

A questão é tema de um projeto de lei, em análise na Câmara dos Deputados. O PL 7081/10 obriga o governo a manter um programa de acompanhamento integral do TDAH e de outros transtornos de aprendizagem para estudantes do ensino básico da rede pública e privada.

A relatora do projeto na Comissão de Educação, deputada Mara Gabrilli (PSDB-SP), aposta na capacitação dos profissionais da saúde para garantir diagnósticos mais precisos. “Quando a gente qualifica o diagnóstico, fazendo com que as informações cheguem de forma aprofundada aos médicos, com certeza a prescrição de ritalina passa a ser mais coerente, e não de forma deliberada”, afirma a parlamentar.

Erro de diagnóstico
Não existe um exame para comprovar a existência do transtorno. O diagnóstico é dado com base na rotina do paciente. Em crianças, são levadas em conta informações dos pais e da escola. Entre as características mais comuns estão: dificuldade de concentração e de seguir instruções. Pessoas inquietas, agitadas e muito falantes também são candidatas a receber o diagnóstico.

Como forma de questionar uma possível prescrição indiscriminada do remédio, foi criado em 2010 o Fórum sobre Medicalização da Educação e da Sociedade, que reúne 40 entidades acadêmicas profissionais para difundir as críticas que existem na literatura científica.

A psicanalista e especialista em psicologia escolar Kátia Batheney questiona o excesso de diagnósticos. “Será que as crianças estão realmente mais agitadas, que nós estamos diante de uma epidemia de hiperatividade, ou estamos superestimando as crianças?”, questiona ela. Kátia ressalta que, desde cedo, as crianças são expostas a vários estímulos tecnológicos, ao mesmo tempo em que a escola não acompanha essa demanda por estímulos.

Tecnologia
O pediatra e professor da Universidade de Brasília (UnB) Carlos Nogueira Aucélio concorda que a tecnologia (computadores, tablets, videogames, etc.) pode gerar um estresse cerebral e levar a um quadro de TDAH. “É preciso ter um controle de horas e momentos de uso de tecnologia. Não pode ser algo exagerado.”

Ele acrescenta que o diagnóstico do transtorno é subjetivo e, por isso, precisa ser criterioso. Segundo o pediatra, a idade mínima para começar a tomar medicamento é 10 anos, em razão do estágio das funções cerebrais. “É muito comum crianças com menos de 10 anos que tomam ritalina e, em vez de melhorar a atenção, só têm efeito colateral.”

Íntegra da proposta: PL-7081/2010

Reportagem – Mariana Przytyk
Edição – Daniella Cronemberger

Fonte: EcoDebate

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