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sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Economia vinculada à Energia, artigo de Marcus Eduardo de Oliveira

“Obedecemos suas leis mesmo quando lhe resistimos,
agimos com ela mesmo quando julgamos desafiá-la”
(Goethe: “Sobre a Natureza”)


Leonardo Boff, em “A Opção-Terra”, nos adverte que “no momento atual, se parássemos tudo em nosso processo de produção e de consumo, a Terra precisaria de cerca de mil anos até recuperar-se das chagas que lhe temos infligido”.

Talvez esse seja um dos argumentos mais plausíveis para evidenciar que, diante do modelo de produção e consumo que ocupa as decisões econômicas das principais economias no momento, não há mais capacidade de continuar aumentando a produção física das economias.

A Terra não suporta mais essa agressão; 60% dos serviços ecossistêmicos estão completamente esgotados, causando essas chagas sobre o meio ambiente, em especial, uma poluição sem o menor controle que tem dizimado milhões de vidas humanas todos os anos.

A causa principal dessas chagas, portanto, está no modelo econômico que expande a qualquer preço a capacidade de produção econômica. Esse fato, por sua vez, se vincula ao principal dogma das ciências econômicas, vale dizer, à ideia de que a atividade econômica tem que crescer continuamente, para propiciar a todos uma vida boa e farta. Essa é a ideia corrente do mito do crescimento contínuo.

A questão que mais se aflora em torno disso é que os tomadores de decisão econômica parecem esquecer que a atividade humana se desenrola dentro da ecosfera terrestre. Esquecem, ademais, que a atividade econômica consome energia e que não há capacidade ilimitada desse recurso.

Por isso é importante não perder de vista que a economia está vinculada à energia. Este vínculo abre a possibilidade de aprofundar e ampliar os estudos e os conceitos econômicos, vinculando a economia à ecologia e à termodinâmica, temas, por sinal, esquecidos do “receituário” da economia tradicional, dita neoclássica.

É por isso que os economistas tradicionais apresentam certas dificuldades em aceitar – parece mesmo que esquecem e ignoram – a relação existente entre a economia e a ecologia, como se a atividade econômica funcionasse no vazio, e não dentro do meio ambiente, como se essa atividade econômica somente produzisse mercadorias, e não uma poluição como resultado final.

Os economistas tradicionais esquecem e ignoram ainda o fato que a queima de petróleo, de carvão mineral e de florestas, está introduzindo mais de 30 bilhões de toneladas por ano de gás carbônico na atmosfera (85% originado dos combustíveis fósseis).

A queima de combustíveis fósseis produz também monóxido de carbono, óxidos de enxofre, óxidos de nitrogênio e outros gases, além de poeiras, vapores e partículas de combustível mal queimado. Estes gases e resíduos são os responsáveis pela famosa poluição das grandes cidades (hoje são mais de 20 cidades no mundo com mais de 10 milhões de habitantes ante duas nos anos 1960) e das áreas industriais.

A poluição, entretanto, não fica permanentemente no ar. É levada pelas chuvas e acaba contaminando mais a água e o solo do que o ar, diz Francisco F.A. Fonseca, em “O Mundo em Crise – Economia, Ecologia e Energia”.

A gravidade dessa poluição, que aumenta à medida que as economias crescem e as megacidades avançam no processo de industrialização, tem dizimado quase 2,0 milhões de pessoas todos os anos ao redor do mundo, em especial na Ásia, que concentra as cidades mais poluídas do mundo.

Os dados sobre isso são assustadores: somente na China há 16 das 20 cidades mais poluídas do planeta, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).

A cada aproximação do inverno (dezembro-março), o céu de várias cidades chinesas, sobretudo no norte do país, é tomado pelo smog, vale dizer, uma combinação de nevoeiro com fumaça poluente.

Em outubro de 2013, Harbin, cidade de 10,6 milhões de habitantes, teve de paralisar suas atividades por causa de níveis de poluição superiores ao recorde do ano (registrado em Pequim), que reduziram a visibilidade local a menos de 10 metros.

Os números que mostram esse drama, segundo estudos divulgados pelo Greenpeace são: 260 mil crianças chinesas morreram prematuramente em 2011 por causa da poluição atmosférica, 320 mil crianças e 61 mil adultos sofriam de asma em 2011 por causa do problema poluição, 32 mil mortes prematuras adicionais ocorrerão por ano quando 570 novas usinas a carvão entrarem em funcionamento.

Não é mais possível ignorar que a economia está vinculada à ecologia e que o crescimento econômico, em escala mundial, traz, como subproduto, o drama da poluição e do esgotamento constante dos principais serviços ecossistêmicos dos quais à vida humana tanto necessita.

Marcus Eduardo de Oliveira, Articulista do Portal EcoDebate, é Economista. Mestre pela USP, com passagem pela Universidade de Havana (Cuba). prof.marcuseduardo@bol.com.br

Fonte: EcoDebate

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