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terça-feira, 28 de julho de 2015

Filtragem de água de chuva na Amazônia, artigo de Roberto Naime

As civilizações antigas já valorizavam e desenvolveram importantes obras para captação, armazenamento e aproveitamento de água das chuvas. Particularmente é notável a contribuição dos árabes durante o período em que habitaram o sul da Espanha e tornaram mais conhecidas técnicas que já datavam de milhares de anos. Existem registros de utilização por pretéritas civilizações em várias localidades.
O jornal Beira-Rio, da Universidade Federal do Pará, em sua edição eletrônica de número 120, datada de agosto e setembro de 2014, descreve em detalhe atividade do grupo interno da instituição, para pesquisa e aproveitamento de água de chuva na Amazônia para saneamento e meio ambiente. Pode ser paradoxal, mas não é. Em local de tanta disponibilidade de recursos hídricos, como a Amazônia, venha a se depender da água da chuva, que por sinal representa fenômeno intempérico também abundante na região. Segundo a Agência Nacional de Águas (ANA), a região norte responde por cerca de 81% dos recursos hídricos do país e cerca de 12% da água doce superficial do planeta.

As águas doces superficiais da região amazônica pouco estão pouco disponíveis para utilização, pois a região carece de saneamento básico e também de ações que contribuam para potabilização da água. Ou seja as águas são frequentemente contaminadas por esgotos e outros efluentes e não recebem os devidos tratamentos físicos e químicos. Apenas parte das águas da região, estão disponibilizadas para consumo humano em condições adequadas.

Como se sabe, a pluviosidade naquela região equatorial é elevada em boa parte do ano. E as águas da chuva quando devidamente filtradas apenas no aspecto físico, quando liberadas de particulados físicos que se encontram na atmosfera e contaminam as precipitações pluviométricas, é uma água de inegável qualidade. Não há contaminação química em águas de chuvas.

Então a instalação de filtragens físicas em coletores é uma boa solução para utilização das águas em excelentes condições. Coletores podem ser todos os telhados ou a cobertura de edificações, que sejam higienizadas 2 ou 3 vezes ao ano, para diminuir a contaminação por resíduos, particularmente de natureza física.

Os estudos do grupo de aproveitamento de água da chuva da Instituição, para uso em saneamento e meio ambiente (GPAC), através de estudos e levantamentos, estima que esta solução pode resolver a carência de água potabilizada na cidade de Belém, estimada em valor próximo a 200 mil habitantes, chegando a ter seu potencial elevado para o dobro na época de maior pluviosidade.

A água de chuva filtrada poderia ser utilizada para todas as finalidades domésticas, particularmente para fins sanitários em geral, sendo resguardada a ação de preparo de alimentos. Os sistemas de abastecimento são sempre concebidos em relação às finalidades previstas, destaca o Prof Dr. Ronaldo Mendes, coordenador da pesquisa. Dentro de realidades tão diferentes como as propiciadas por este país continente, é necessário adotar soluções específicas e regionalizadas, que possam compatibilizar inclusive a utilização de sistemas mistos de abastecimento, desde que sejam cuidadosamente planejados, dimensionados e universalizados.

Outros usos, além da demanda urbana, já estão sendo pesquisados pelo agrupamento da instituição, destacando-se o uso para irrigação, quando as características da água sofrem ainda menores restrições, ou seja, se viabilizam de forma mais fácil. A Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM) já demonstrou interesse pelo trabalho, buscando firmar parcerias.

Poucos lugares são tão beneficiados pela presença de água doce quanto a região amazônica e a região norte do país em geral. É necessário transformar e potencializar esta riqueza como instrumento de desenvolvimento efetivo. Pois a região norte apresenta muitas populações empobrecidas e vulnerabilizadas por vários fatores, incluindo dificuldades de infraestrutura em geral e ausência de persistência em políticas locais, adaptadas às peculiaridades regionais.

A cidade de Belém tem grande deficiência na coleta e tratamento de esgotos, o que torna vulnerável até mesmo os aquíferos subterrâneos, principalmente quando são reservatórios de pequena ou de baixa profundidade.

Neste cenário, se desenha novamente a necessidade de que os órgãos e entidades gestoras atuem de forma mais pró-ativa e não preconceituosa, criando novos modelos e adaptando soluções inéditas e inovadoras para solucionar graves e antigos problemas ambientais e sociais que acometem grandes parcelas de população.

O prof Dr. Ronaldo Mendes destaca que a próxima meta é implantar o sistema de captação e uso em todo campus da Universidade Federal do Pará e para tanto já existe patrocínio de uma empresa privada que fornecerá os equipamentos necessários e a implantação se dará em breve intervalo de tempo.

Não importa se são usados recursos públicos ou se são viabilizadas iniciativas privadas para incremento de inovações. Empreendimentos privados que em geral para se viabilizarem, arregimentam e viabilizam retornos econômicos. O meio ambiente agradece igualmente e quanto mais soluções sustentáveis forem viabilizadas inclusive em nível de retornos econômicos, maior e melhor é a garantia de perenização das situações que melhoram a qualidade ambiental e a qualidade de vida das populações.

Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.

Fonte: EcoDebate

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