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segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Exemplos De Contaminação De Metais Em Solos Urbanos, Artigo De Carlos Augusto De Medeiros Filho

Em continuidade às considerações sobre a geoquímica urbana, já apresentada em outras crônicas (Medeiros Filho, 2016 a, b, c, d), serão discutidos exemplos de contaminação de metais traços em solos urbanos, compiladas, especialmente, de Wong et al. (2006).
O termo metal traço tem sido usado para definir metais presentes em baixas concentrações em solos e plantas, usualmente com menos de 0,1% ou 1000 ppm.

Solos urbanos são um importante indicador de exposição humana aos metais traços no ambiente terrestre urbano, sendo altamente susceptíveis à perturbação física e contaminação química, devido à sua proximidade com intensas atividades humanas.

Ao contrário de solos em áreas rurais e suburbanas, no ambiente urbano, os solos com ou sem vegetação, ocupam áreas relativamente restritas. Por causa do planejamento urbano, eles são comumente encontrados em cinturões verdes ao longo das estradas e em áreas de lazer, tais como parques e playgrounds. Eles também podem, por vezes, ser encontrados em quintais privados, em pequenas parcelas, utilizadas como jardins ou para produzir alimentos. As instalações públicas de lazer, como os parques, são um componente de integração da vida urbana. Uma vez que eles são frequentemente visitados por crianças e idosos, uma compreensão da sua qualidade ambiental é crucial.

Estudos sobre contaminação de solo urbano por metais traços têm sido conduzidos em muitas partes do mundo, tanto em países desenvolvidos, como em desenvolvimento, e para uma variedade grande de elementos químicos. O Reino Unido e Hong Kong são provavelmente dois dos ambientes urbanos mais estudados. O primeiro representa um país europeu com uma longa história de atividades industriais e de mineração, enquanto o segundo representa uma área metropolitana asiática com elevada densidade da população, de tráfego e de indústrias.

Hong Kong está localizada ao longo da costa sudeste da China, sendo uma cidade densamente povoada, com uma população de quase 7 milhões e uma área total de 1100 km2. Tem cerca de 520.000 veículos em 1928 km de estradas. Contaminação por metais traços dos solos urbanos em Hong Kong tem sido estudada desde os anos 1970. Wong e Tam (1978) identificaram contaminações de Pb em solos e vegetais ao lado de estradas em Hong Kong.

Cd, Cu, Pb e Zn são os metais traços mais frequentemente investigados em solos urbanos em Hong Kong. A grande maioria dos estudos examinou a distribuição de metais em solos superficiais (< 20 cm). Este método tem sido frequentemente utilizado principalmente porque o impacto da contaminação por metais traço é geralmente mais evidente nas camadas superiores do solo.

Li et al. (2001) conduziram uma extensiva pesquisa sobre qualidade de solo em Hong Kong, coletando 600 amostras de solo em profundidade entre 0 a 15 cm. Uma comparação das concentrações de Cu, Pb, Zn em solos nos parques urbanos e rurais indicou que os solos no ambiente urbano foram geralmente mais enriquecido do que aqueles que estão fora do perímetro urbano. As concentrações médias de Cu e Zn em solos urbanos (24,8 e 168 mg/kg, respectivamente) foram, pelo menos, quatro e duas vezes mais elevadas do que os dos solos rurais (5,17 e 76,6 mg/kg, respectivamente), enquanto a média da concentração de Pb de solos urbanos (89,9 mg/kg) foi uma intensamente maior do que a de solos rurais (8,66 mg / kg).

Li et al. (2004) desenvolveu uma sistemática amostragem (4 a 5 amostras por km2), coletando 152 amostras de solo urbano na área fortemente urbanizada e povoada de Kowloon, com uma densidade populacional de 17.200 pessoas/km2. Esse estudo revelou uma forte associação entre o enriquecimento metais traços e os locais de cruzamentos de rodovias, estradas principais e edifícios industriais.

Esses exemplos demonstram que a pressão das atividades nas grandes cidades resulta em emissões antropogênicas de metais traços potencialmente tóxicos na região urbana. Equilibrar o delicado ciclo geoquímico no ambiente urbano, em paralelo com as ações de uma densa população é um exercício muito desafiador. A geoquímica urbana, como disciplina científica, tem proporcionado um conhecimento valioso sobre a mobilização, dispersão, deposição e distribuição de metais potencialmente tóxicos. Este conhecimento é, sem dúvida, fundamental para o desenvolvimento sustentável do ambiente urbano.

Referências Bibliográficas

Li, X.D., Lee, S.L., Wong, S.C., Shi, W.Z., Thornton, I., 2004. The study of metal contamination in urban soils of Hong Kong using a GIS-based approach. Environmental Pollution 129, 113 -124.

Li, X.D., Poon, C.S., Liu, P.S., 2001. Heavy metal contamination of urban soils and street dusts in Hong Kong. Applied Geochemistry 16, 1361- 1368.

Medeiros Filho, C.A. 2016 a. Notas sobre Geoquímica Urbana, in Portal EcoDebate, ISSN 2446-9394, 17/05/2016.

Medeiros Filho, C.A. 2016 b. Fontes de Assinaturas Geoquímicas Urbanas, in Portal EcoDebate, ISSN 2446-9394, 21/06/2016.

Medeiros Filho, C.A. 2016 c. Geoquímica Urbana e Síndrome do Rio Urbano, in Portal EcoDebate, ISSN 2446-9394, 16/08/2016.

Medeiros Filho, C.A. 2016 d. Geoquímica Urbana: Dispersão E Deposição De Metais, in Portal EcoDebate, ISSN 2446-9394, 16/09/2016.

Wong CSC, Li XD, Thornton I. 2006. Urban environmental geochemistry of trace metals.Environ Pollut;142:1-16

Wong, M.H., Tam, F.Y., 1978. Lead contamination of soil and vegetables grown near motorways in Hong Kong. Journal of Environmental Science and Health, Part A e Environmental Science and Engineering. Toxic and Hazardous Substances Control 13, 13 – 22.

Carlos Augusto de Medeiros Filho, geoquímico, graduado na faculdade de geologia da UFRN e com mestrado na UFPA. Trabalha há mais de 30 anos em Pesquisa Mineral.

Fonte: EcoDebate

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