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quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Energia solar no campus universitário

A falta de eletricidade causa estragos na vida cotidiana da população da Tanzânia. E, quando se é um estudante que precisa se preparar para uma prova no dia seguinte, sem luz os problemas se agravam e as consequências são nefastas. Mas os escuros tempos estão para ser coisa do passado para muitos universitários.


Um grande empreendimento conjunto entre a Universidade de Dodoma (Udom) e a Hecate Energy, uma das principais empresas dos Estados Unidos que desenvolve projetos de energia renovável em grande escala, se propõe a iluminar o campus universitário. O eixo do projeto é a construção de uma enorme fazenda solar, a primeira em um terreno universitário, com capacidade de 55 megawatts (MW) de energia elétrica para o centro de estudos da capital da Tanzânia e seus arredores.

“É um dos maiores investimentos que já fizemos para atender a necessidade de eletricidade da Universidade e seu entorno”, declarou à IPS o vice-reitor da Udom, Idris Kikula. O projeto, implantado pela Udom junto com a Universidade do Estado de Ohio, dos Estados Unidos, tem duas etapas, uma das quais fornecerá energia solar às residências estudantis, às salas de aula, aos centros de pesquisa e médicos até meados do próximo ano, explicou.

No principal campus da Udom, os estudantes costumam sofrer cortes de energia, o que prejudica seus estudos e coloca em risco seu futuro acadêmico. Além disso, o aumento dos cortes de eletricidade pode significar uma alta no número de crimes, e a população, especialmente as mulheres, ficaria vulnerável a abusos físicos. Por outro lado, a luz permite um entorno mais seguro para todos.

“É muito difícil estudar à noite quando não tem eletricidade. Às vezes, ficamos sem luz em meio a um grupo de estudos ou quando estamos correndo contra o relógio preparando um trabalho”, contou Rukia Hamisi. Esta jovem, de 22 anos, estudante de engenharia de minas, muitas vezes tem que recorrer à claridade proporcionada por seu celular para estudar à noite, o que prejudica seu rendimento acadêmico.

“Procuro terminar rápido meus trabalhos porque, se não entrego no prazo, muitas vezes o professor não o aceita”, afirmou Hamisi. Ela é uma entre muitos universitários cujos estudos foram afetados pela falta de eletricidade, quando a estatal Tanesco anunciou, em outubro, um cronograma de cortes programados para enfrentar o crescente déficit energético.

Localizada no ensolarado terreno montanhoso da localidade de Chimwaga, um dos distritos da região onde fica a capital, a universidade é uma das várias instituições públicas da Tanzânia que sofrem os frequentes apagões causados pelo minguante nível de água na central hidrelétrica. As usinas hidráulicas, que geram quase 50% da eletricidade do país, ultimamente estão paradas pela escassez de água decorrente da prolongada seca.

“É quase impossível fazer qualquer coisa sem eletricidade. Preciso usar meu computador para fazer meus desenhos gráficos”, queixou-se Rashid Athumani, estudante de engenharia civil.

Apesar de impulsionar seu enorme potencial em matéria de energias renováveis não convencionais, a Tanzânia tem dificuldades para conseguir um equilíbrio em sua matriz elétrica, que se tornou imprevisível.

Em uma desesperada tentativa de conseguir um fornecimento elétrico confiável, a Udom lançou o projeto de energia solar, que também faz parte de seus esforços para ser uma das primeiras instituições acadêmicas da África em matéria de energia renovável. “Estou muito feliz por esse projeto, porque após ser concluído creio que não teremos mais cortes de eletricidade”, disse Hamizi, cheia de esperança.

A Udom gasta cerca de US$ 68 mil por ano com eletricidade. O vice-reitor Kikula destacou que, com o novo projeto de energia solar, os custos serão reduzidos enormemente. O projeto faz parte da estratégia universitária para apresentar-se como um centro global de excelência em matéria de energias renováveis e sustentabilidade. Está previsto que a segunda fase da iniciativa, que, espera-se, fornecerá energia solar a várias áreas de Dodoma, esteja terminada até o final de 2016.

A Tanzânia tem um enorme potencial em matéria de energias renováveis não convencionais, como eólica, solar, biomassa e geotérmica, mas os analistas afirmam que o governo não sabe aproveitá-lo. Cerca de 36,4% da população da Tanzânia tem eletricidade, dos quais 7% estão em zonas rurais. A demanda por eletricidade aumenta entre 10% e 15% ao ano, segundo dados do Ministério de Energia e Mineração.

O diretor do Instituto Global de Água, da Universidade de Ohio, Marty Kress, destacou que o projeto da Udom melhorará a disponibilidade de energia no campus universitário e arredores, o que repercutirá em melhor qualidade de vida para todos. “Estamos honrados por nos associarmos à Udom para tornar realidade esse projeto”, afirmou Kress na cerimônia de apresentação do projeto, realizada em outubro.

As duas universidades apostam em instalar 125 sistemas de água de poço em Dodoma, cujas bombas funcionarão com energia solar, tornando possível distribuir água potável e melhorar a saúde e o saneamento da população de zonas rurais.

A Tanzânia está entre os principais países com maior radiação solar do mundo. Numerosos especialistas concordam que projetos como o da Udom poderão ter um papel importante para atender as crescentes necessidades energéticas das comunidades rurais. Numerosas localidades já se mostraram encantadas diante da possibilidade de o novo projeto acabar com as dificuldades que sofrem os clientes do serviço de água.

“Como se vê, é uma zona árida, é muito difícil encontrar água. Temos que nos deslocar por grandes distâncias para buscá-la, mas, se essas bombas forem instaladas, nos ajudarão muito”, afirmou Salima Farijala, morador em Bahi, um dos distritos da região de Dodoma, onde fica a capital.

Fonte: EcoDebate

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