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segunda-feira, 20 de março de 2017

ONU denuncia ‘mito’ de que pesticidas são necessários para alimentar o mundo

O relatório foi severamente crítico com as corporações globais que fabricam pesticidas.


A ideia de que os pesticidas são essenciais para alimentar a população mundial em rápido crescimento é um mito, é o que dizem os especialistas da ONU em alimentos e poluição em um novo relatório apresentado ao Conselho de Direitos Humanos da ONU, na última quarta-feira (8)

Segundo noticiado pelo jornal britânico The Guardian, o relatório foi severamente crítico com as corporações globais que fabricam pesticidas, acusando-as de “negação sistemática de danos”, “táticas de marketing agressivas e antiéticas” e de lobby pesado de governos que tem “obstruído as reformas e paralisado restrições a pesticidas globalmente”.


O relatório diz que os pesticidas têm “impactos catastróficos no ambiente, na saúde humana e na sociedade como um todo”, incluindo cerca de 200.000 mortes por ano de envenenamento agudo. Seus autores disseram: “É hora de criar um processo global de transição para métodos mais seguros e saudáveis na produção de alimentos e agrícola.”

A indústria de pesticidas argumenta que seus produtos – um mercado que vale cerca de US $ 50 bilhões por ano e cresce – são vitais para proteger as colheitas e garantir suprimentos suficientes de alimentos.

“É um mito”, disse Hilal Elver, relator especial da ONU para o direito à alimentação. “A utilização de mais pesticidas não tem nada a ver com a eliminação da fome, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), podemos alimentar hoje 9 bilhões de pessoas, mas mesmo com a produção crescendo, o problema é a pobreza, a desigualdade e a distribuição.”

Elver disse que muitos dos pesticidas são usados em culturas de commodities, como óleo de palma e soja, e não o alimento necessário para as pessoas famintas do mundo: “As corporações não estão lidando com a fome no mundo, estão lidando com mais atividade agrícola em grande escala.”

Elver também disse que, enquanto os consumidores nos países desenvolvidos são geralmente melhor protegidos contra pesticidas, os trabalhadores agrícolas muitas vezes não são.

“A alegação de que é um mito que os agricultores precisam de pesticidas para enfrentar o desafio de alimentar 7 bilhões de pessoas simplesmente não resiste ao escrutínio”, disse o porta-voz da Crop Protection Association, que representa os fabricantes de pesticidas no Reino Unido, também ao The Guardian. “A ONU FAO é clara sobre este – sem ferramentas de proteção de culturas, os agricultores podem perder até 80% de suas colheitas por danificações por insetos, ervas daninhas e doenças das plantas.

O relatório recomendou um movimento para um tratado global para governar o uso de pesticidas e para passar a práticas sustentáveis, incluindo métodos naturais de supressão de pragas e rotação de culturas, bem como incentivar alimentos produzidos organicamente.

Segundo o relatório, a exposição crônica aos pesticidas tem sido associada ao câncer, doenças de Alzheimer e Parkinson, distúrbios hormonais, distúrbios do desenvolvimento e esterilidade. Também destacou o risco para as crianças da contaminação por pesticidas dos alimentos, citando 23 mortes na Índia em 2013 e 39 na China em 2014. Além disso, segundo o relatório, estudos recentes do governo chinês indicaram que a contaminação por pesticidas significava que a agricultura não poderia continuar em cerca de 20% das terras aráveis.

“A indústria usa frequentemente o termo” uso indevido intencional “para transferir a culpa para o usuário pelos impactos evitáveis de pesticidas perigosos”, disse o relatório. “No entanto, claramente, a responsabilidade de proteger os usuários e outros ao longo do ciclo de vida do pesticida e em toda a cadeia de varejo é da responsabilidade do fabricante de pesticidas”.

No Brasil

O Brasil hoje lidera o uso de agrotóxicos no mundo (veja aqui). Todo ano a Anvisa divulga uma lista com as frutas e vegetais mais contaminados no Brasil (veja aqui a de 2016). Um estudo também identificou quais são os agrotóxicos mais frequentes nos alimentos consumidos no Brasil (veja aqui).
Um estudo feito pela Universidade Estadual de Washington, EUA, mostrou que a agricultura orgânica pode ser usada para alimentar de maneira eficiente toda a população mundial.

Fonte: Ciclo Vivo

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