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terça-feira, 21 de março de 2017

Pedro Jacobi: Brasil só trabalha em estado de urgência

Para o especialista não existe uma cultura preventiva da água e nem transparência de informações.


Por Katherine Rivas, da Envolverde –

Em 2016 a cidade de São Paulo, após se recuperar de uma crise hídrica, marcava 31,4% de perda de água, número que representava que ainda existia vulnerabilidade. O mesmo indicador era replicado com porcentagens mais elevados em capitais do Nordeste. O parâmetro da falta de uma cultura preventiva da água se generaliza no Brasil inteiro, que prestes a comemorar o Dia internacional da água no 22 de março, hoje é avaliado pelos especialistas como incapaz de gerar estratégias de proteção e educação hídrica.

Um estudo elaborado pelo Trata Brasil sobre perda de água, expõe que no ano 2013 o número total de perdas financeiras por recursos hídricos foi de 39%, a água não faturada pelas empresas era equivalente a 6,53 bilhões de m³ de água tratada (R$ 8,015 bilhões ao ano). Comparando com o cotidiano, 6,5 vezes a capacidade do Sistema Cantareira ou 7,154 piscinas olímpicas perdidas ao dia num intervalo de cinco anos.  Num período de dez anos o indicador de perdas evoluiu menos de 1 ponto porcentual ao ano, passando de 42,2% em 2004 para 39,1% em 2013.

Segundo o Trata, no Brasil 84 cidades perdem mais de 25% da água produzida e 60% perde mais de 35% entre estes São Paulo (34,99%), Rio de Janeiro (54,50%), Manaus (75,59%) e Salvador (52,54%).

Para o pesquisador e professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental da USP, Pedro Jacobi, a grande dificuldade do Brasil é a inexistência de uma cultura da água. O Poder Público trabalha sob contextos extremamente drásticos de crise hídrica, porém deixa de lado a escassez hídrica “Precisamos considerar que se não há crise algumas cidades ainda permanecem na linha constante de escassez hídrica. O governo precisa deixar de depender das mudanças climáticas e trabalhar sempre com a perspectiva de falta de chuva. São Paulo é um exemplo disso claramente marcada pela escassez” explica e defende que o Poder Público precisa trabalhar sempre com a população sem criar uma ideia catastrófica e sim um processo de diálogo que fortaleça essa cultura preventiva.

As cidades brasileiras apresentam uma distância abrupta de outros países, é o caso da Califórnia nos EUA que tem um nível de perdas médio de 5,3% enquanto São Paulo apresenta 32%1 de perdas médio e Rio de Janeiro 50,62%.

Jacobi avalia que o reuso de água industrial aumentou nos últimos anos no setor da construção sendo um estimulo para a sociedade, no entanto a pegada hídrica não é uma pratica significativa nas empresas devido ao pouco interesse não alinhado ao capitalismo. “Eu percebo que os brasileiros não se mobilizam frente a gravidade do assunto.  Eles se mobilizam por outras questões tais como o Movimento Sem Teto, porém água não se qualifica como um conflito significativo para eles.  Isso é alarmante, precisamos trazer a discussão de criar uma visão preventiva nas pessoas” afirma

Gestor- Cidadão

Na visão de Jacobi os gestores públicos permanecem no mesmo erro há anos, pois não existe uma boa comunicação nem transparência sobre o assunto. O especialista afirma que é inexistente também as formas como os meios de comunicação contribuem sobre a temática “O foco principal é tarifação ou privatizações, o cidadão pouco acesso tem a informações sobre a pauta da água” diz

Ele lembra da crise hídrica em 2015 onde o Ministério Público precisou pressionar o governo para ter informações sobre o volumem morto e avalia que a transparência sempre é mínima nos contratos assim como nos sites do governo. Jacobi conclui que há uma grande dificuldade do Poder Público para lidar com assuntos hídricos, perceptível na ocupação de mananciais, a lei de mananciais, a inexistência de uma cultura da água que enfrente os interesses das empresas e na falta de conhecimento da sociedade sobre os verdadeiros riscos da perda de água e seu impacto no cotidiano. 

Fonte: Envolverde

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