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segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Sustentabilidade além da chatice

 
O psicanalista Jorge Forbes abriu o debate “Atraídos pelo desejo: sustentabilidade além da culpa e do medo”, realizado no segundo dia (4) da Conferência Ethos 2013, com um neologismo: “desbussolamento”. Essa palavra, que não consta de nenhum dicionário, representa o que Forbes vê como a perda do “norte” ou da orientação típica da sociedade industrial nos últimos 30 anos. E, desorientados, encontramos amparo na culpa e no medo.
Para Forbes, porém, “medo e culpa são soluções antigas, incompatíveis com uma sociedade inovadora e criativa, que possa viver nova época como nunca houve na história da raça humana”. E ele descreve essa nova sociedade: “A pós-modernidade quebra hierarquias, pulveriza padrões, aumenta a responsabilidade pelas nossas escolhas e exige criatividade”.

Hoje, um tempo em que não há mais grandes guerras nem grandes ideias a dividir ou a unir o mundo, Forbes questiona: “Nada mais é sagrado para nós?” Sim, mas de uma forma diferente. “O homem pós-moderno se sacrifica por outro homem, pelo que está mais próximo dele. As passeatas de junho demonstraram que há uma nova sociedade de grupos que se juntam e se soltam. Essa nova força que vai às ruas não é mais em nome de uma bandeira única”, avalia o psicanalista.

Fred Gelli, sócio e diretor de criação da Tátil Design, enxerga no atual momento uma nova consciência e muito senso crítico. “Vejo executivos ricos dizendo que não aguentam mais essa vida e querem mudar”, afirma. “Acho que há uma nova ética em formação, que passa por um novo propósito, uma motivação extra que pessoas precisam para ir trabalhar. Muitos jovens talentos, por exemplo, não querem ser trainees de grandes empresas. Eles estão empreendendo e abrindo suas próprias start-ups”.

Valpírio Monteiro, sócio diretor da GAD’ Branding & Design, falou sobre o relacionamento entre empresas e consumidores nesse ambiente. “Hoje a reputação de uma empresa define o nível de confiança que os consumidores têm nela. É preciso engajar as pessoas por meio de ideias simples e fáceis para criar desejo e torná-las participativas”, acredita.

Monteiro apresentou um claro exemplo de simplicidade e motivação: a empresa americana TOMS Shoes, uma fabricante de sapatos criada em 2006 com propósito social já fazendo parte do negócio: a cada par de sapatos vendido, um outro seria doado a uma criança carente de um país em desenvolvimento. Até agora, já foram doados 10 milhões de sapatos. “A TOMS Shoes é uma das marcas mais desejadas dos Estados Unidos”, afirma Monteiro. “As marcas precisam de histórias autênticas e inspirar por meio de experiências. Esses dois pontos constroem as marcas desejadas.”

Ebulição – Quando o debate foi aberto à plateia, o desbussolamento do momento contemporâneo, definido por Jorge Forbes, aflorou nas diversas intervenções. Além da culpa e do medo, onde se situa a sustentabilidade? Por que os temas da sustentabilidade permeiam nossa razão, mas não penetram no nosso desejo?

Augusto Rodrigues, diretor de Comunicação e Relações Institucionais da CPFL Energia, questionou: “Por quê o tema das mudanças climáticas tem consenso científico mas não mobiliza as pessoas? Como juntar desejo e sustentabilidade com um discurso menos careta e menos chato?”

Da plateia, a ex-ministra Marina Silva expôs algumas ideias em relação a esse questionamento. “Será que ficou chato falar de sustentabilidade, será que perdemos a batalha para o desejo? Acho que não, pois nos últimos dois anos participei de 270 palestras, falando diretamente para 160 mil pessoas sobre sustentabilidade relacionada aos mais diversos temas”, disse. “Em pouco tempo a sustentabilidade não será mais um diferencial, e sim a base, o modo de ser, uma visão de mundo”.

Também da plateia, Eduardo Viola, professor titular do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, fez seus comentários. “Medo e culpa não vão resolver o problema, mas uma dose de medo e culpa é fundamental na transição para a sustentabilidade. A consciência da gravidade da mudança climática é fundamental, mas esse é um problema que terá consequências no futuro, enquanto nossa mente só lida com ameaças imediatas”, afirmou.

Aron Belinky, do Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV-SP, expôs algumas informações e uma proposta: “Nas pesquisas, geralmente as pessoas declaram que tem pouco interesse em relação à sustentabilidade. Mas é interessante notar que elas desejam o que a sustentabilidade proporciona, que é maior qualidade de vida, melhor mobilidade, passar mais tempo com as pessoas que amam, por exemplo. Talvez tenhamos de parar de martelar a expressão ‘sustentabilidade’ e focar no que a sustentabilidade entrega, pois é isso que as pessoas desejam”.

Fonte: Mercado Ético

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