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quarta-feira, 15 de março de 2017

Livro cataloga acervo de cemitérios mineiros

Uma introdução à arte tumular tendo como iconografia 23 cemitérios mineiros, de 13 cidades, com direito a alerta sobre a necessidade de preservação deles. Essa é a proposta do livro Cemitério de Minas – Cultura e arte, que será lançado hoje, no Museu de Artes e Oficios. 

O livro é organizado pela jornalista e historiadora Christina Lima, com pesquisa de Fabiano Lopes de Paula, fotos de Izabel Chumbinho, e textos, também, de Haroldo Felício, João Caixeta, Fernando Cabral e Ângelo Oswaldo de Araújo Santos, atual secretário de estado da Cultura.

“É um volume simples, sem a pretensão de ser livro de arte, que apresenta ao público um pouco da arte tumular e mostra a importância dos cemitérios de várias cidades de Minas Gerais”, explica o historiador e arqueólogo Fabiano Lopes de Paula, autor do texto de introdução ao livro.

O culto aos mortos e os cemitérios, sejam os mais simples ou sofisticados, observa o pesquisador, são um material rico para a compreensão da sociedade. “A morte e tudo que a cerca é um tema universal”, diz o historiador, para quem “visitar cemitérios é uma programação cultural”.

Lopes de Paula observa que “a arte funerária, desde a Antiguidade, traduz um desejo de todos, sejam ricos ou pobres, de ser eternizados. São, ainda, demonstrações de respeito e vontade de resguardar a memória”. Na decoração dos túmulos, revelam-se as convicções religiosas e até a situação financeira de quem fez a encomenda.

A decoração flutua ao sabor de modismos estéticos, adotando, no geral, o padrão vigente de quando as sepulturas foram construídas, como fica claro no uso de materiais (do mármore até o uso de flores de plástico) e nas formas arquitetônicas do túmulo.

Católicos valem-se de anjos (da saudade, da consolação, da anunciação), Nossas Senhoras, várias cenas da vida de Jesus, plantas (lírios, rosas, oliveira, ciprestes) para criar alegorias sobre passagens da vida terrena para a celestial.

Anglicanos, por não cultuar imagens, colocam sobre os túmulos apenas a cruz. Em todos os casos, o que se busca é a personalização ao máximo do morto. Com ferramentas alusivas à sua profissão (ramos de café, por exemplo, se cafeicultor), caligrafia, retrato, signos de filiação a grupos (como os maçons).

“Todo cemitério é histórico. Tem representações artísticas e é espelho da cidade onde está localizado”, afirma Lopes de Paula. O modelo que conhecemos hoje (fora da igreja e afastado dos centros urbanos por motivos sanitários) vem do século 19. Sendo comum, nos mais antigos, decorações com estéticas da época: o neoclássico (que com motivos greco-romanos apresentava o cidadão como herói) ou o romantismo. Essa, explica o pesquisador, revelada na tendência à representação da morte como mistério e de forma sedutora, inclusive com anjos em poses sensuais.


Restauração

O lançamento de Cemitérios de Minas faz parte da cerimônia de entrega ao Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte de 21 livros de óbitos, recuperados e restaurados pela instituição municipal e pelo Instituto Cultural Flávio Gutierrez. O Arquivo passa a guardar o material, que inclui documentos alusivos à construção da nova capital de Minas Gerais, distribuídos em Livros de Registros de Sepultamento, Livros de Protocolos de Processos, Livro de Arrecadação da Seção de Rendas Patrimoniais e Livro de Divisão de Patrimônio, cada um dele com, em média, 500 páginas.

Por Walter Sebastião

Fonte original da notícia: Portal UAI

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