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terça-feira, 26 de novembro de 2013

Projeto viabiliza a produção de biogás a partir de dejetos suínos

Você sabia que apenas um porco pode produzir de cinco a oito quilos de dejetos por dia? É o equivalente ao que produzem dez humanos. Imagine agora uma criação com bem mais de 100 suínos… 
 
O dado é preocupante, se analisarmos do ponto de vista ecológico: onde e como descartar tantas toneladas de detritos animais? Pensando na questão, o engenheiro agrônomo Hugo Marcos Alves Fernandes, sócio proprietário da granja Irapuã, instalada na fazenda Descanso, no município de São José de Ubá, construiu com o irmão, Raul José Alves Fernandes, um biodigestor em sua propriedade. Para isso contou com recursos da FAPERJ, obtidos por meio do edital de Apoio à Inovação Tecnológica. Agora, em vez de se preocupar com o descarte desses dejetos, ele os transforma em energia limpa. É quase como um toque de Midas. “A matéria orgânica que alimenta os biodigestores tanto pode ser de resíduos vegetais, como restos de cultura, quanto dejetos animais e até mesmo os restos da atividade humana, como lixo doméstico. Inicialmente, vamos usar dejetos suínos”, afirma Hugo Fernandes.

Nos cinco hectares da granja Irapuã, são criados cerca de 800 porcos das raças Large White, que vale ao porco a alcunha de suíno light, por produzir carne com menos gordura, e Landrace. No espaço reservado aos suínos, de 1.600 metros quadrados, há oito galpões: um para reprodutores e um de creche; um para o crescimento dos suínos; dois reservados para os animais em gestação; um de maternidade, para os recém-nascidos; um último para os suínos que já estão quase em ponto de corte; e uma fábrica de ração. Em todos eles há canaletas que levam os dejetos diretamente para o biodigestor. Com 15 metros de comprimento, três de largura e cinco de profundidade, ele é confeccionado com uma lona especial impermeável. Assim que os detritos chegam àquele ambiente completamente abafado e sem oxigênio, bactérias anaeróbicas começam seu trabalho de fermentação. É um trabalho ininterrupto, 24 horas por dia. Ao final dos primeiros 15 dias, já há um acúmulo de gás metano – ou biogás – suficiente para tornar o processo contínuo.

O biodigestor é diretamente ligado a um gerador, onde o gás metano é convertido em energia, que, por sua vez, impulsionará o gerador para distribuir energia elétrica para a granja, tornando-a autossustentável. “Dessa forma, é possível ainda atender ao consumo da fazenda durante a noite quando cessam as atividades agrícolas. Podemos até direcionar o gerador para a rede de energia da Ampla, o que resulta em economia significativa no final do mês”, entusiasma-se. Como na granja, são gerados por dia cerca de 1.600 quilos de dejetos suínos, uma vez encaminhados ao biodigestor, eles produzem cerca de 441 metros cúbicos de biogás. Convertido em energia, gera 272.68 kW de eletricidade diária, o que equivale a 8.189.84 kW a cada mês.

“Para se ter uma ideia, antes da implantação do projeto, consumíamos em média 1.600 kW ao mês. Ao custo de R$ 0.3376 centavos por kW, isso resultava em uma despesa mensal de R$ 540. Repare como se perdia dinheiro. Isso é mais do que o suficiente para alimentar toda a granja, que bombeia diariamente 20 mil litros de água para os suínos e fabrica cerca de 30 toneladas de ração por mês.” Pelos planos do empreendedor, a energia inicialmente será utilizada para alimentar as lâmpadas que aquecem os leitões e para a moagem dos grãos que vão servir de ração para os animais. A ração é produzida por um triturador de grãos, acoplado a um misturador de uma tonelada, ambos acionados por um motor de 10 cavalos. Mais tarde, Hugo poderá ampliar essa utilização.

A reciclagem e os benefícios ao meio ambiente não param por aí. Depois de gerar energia, os dejetos, agora transformados em chorume, serão utilizados para fertirrigação – em outras palavras, como adubo líquido – para irrigar o terreno em que se produz capim para alimentar o gado leiteiro. “Aqui nada se desperdiça, tudo se aproveita”, orgulha-se o engenheiro. “Com atitudes simples e a ajuda da FAPERJ, transformamos uma atividade com potencial poluidor em uma alternativa ecologicamente correta, socialmente justa e economicamente viável “, finaliza.

Fonte: EcoDebate

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