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terça-feira, 15 de julho de 2014

União Europeia propõe leis para promover a reciclagem de materiais e a economia circular

Escassez de recursos e poluição são fatores a favor da reciclagem e da economia circular. Mas, além de serem positivas para o meio ambiente, Tais práticas podem ser lucrativa para as empresas: um argumento forte.


A União Europeia quer que, até 2030, seus países-membros passem a reciclar 70% do lixo municipal e 80% de embalagens plásticas. A proposta também prevê que material reciclável deixe de ser enterrado em aterros sanitários até 2025, além de abranger metas para reduzir o desperdício de alimentos e o lixo marinho.

“A proteção ambiental pode impulsionar o desenvolvimento econômico, gerando crescimento e emprego”, declarou o comissário europeu de Ambiente, Janez Potočnik. Anteriormente ao anúncio, no início de junho, a economia circular, que prevê maior eficiência na criação de produtos e na reciclagem, já havia sido tema da Semana Verde, o encontro ambiental anual da UE, realizado em Bruxelas.

“Se não formos às raízes do comportamento econômico, de como consumimos, produzimos e vivemos, não acredito que, a longo prazo, possamos resolver a questão de como proteger o meio ambiente e viver nos limites do planeta”, disse Potočnik.

O comissário, cujo mandato termina este ano, ressaltou que os sistemas econômicos lineares, herdados do século 19, não são adequados ao século 21 das economias emergentes, com milhões de novos consumidores de classe média e mercados interconectados. “Se quisermos competir, precisamos tirar o máximo dos nossos recursos – e isso significa reciclar, colocando-os de volta no uso produtivo, e não enterrá-los em aterros sanitários, como lixo.”

Novos padrões de consumo

Segundo Heinz Leuenberger, diretor da iniciativa Indústria Verde, promovida pela Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Onudi), sozinha, a eficiência de recursos não vai resolver todos os problemas ambientais, mas já é um passo na direção certa.

Um estudo do Instituto McKinsey estima que em 2030 o benefício financeiro da eficiência de recursos chegará a 3 trilhões de dólares por ano, estando de 70% a 85% desse volume concentrado nos países em desenvolvimento. Para Leuenberger, há tempo demais a relação custo-benefício da eficiência de recursos vem sendo negligenciada.

“Estudos revelam que na Alemanha, um país com salários elevados, a mão de obra corresponde a cerca de 20% dos custos de produção, enquanto matéria-prima e energia ficam entre 45% e 55%, dependendo do setor. Ainda assim, quando se trata de reduzir custos de produção, a maioria dos executivos mira a mão de obra. Mas nós achamos que a eficiência de recursos é um aspecto-chave.”

Bas de Leeuw é diretor do Fórum Mundial de Recursos, baseado na Suíça, que conecta cientistas, políticos e ONGs com o fim de aprimorar a gestão de recursos naturais. Segundo ele, as tendências mundiais estão indo na direção errada: “Estamos superconsumindo, usando recursos demais, o que significa poluição demasiada e preços ascenentes. E pode também significar instabilidade crescente no mundo, pois os pobres é que são as vítimas.”

Leuenberger acrescenta que modificar os processos de produção é um aspecto central, mas os padrões de consumo do mundo industrializado também precisam mudar. “Se todos consumirem no mesmo nível das nações industriais, não haverá um mundo sustentável, mesmo se otimizarmos ao máximo. Não se pode convencer alguém no Vietnã a só comprar uma camiseta, ou uma bicicleta ao invés de um carro, quando se tem quatro carros e 50 camisetas.”

Políticas ambientais

As propostas da Comissão Europeia ainda precisam ser aprovadas pelo Conselho e o Parlamento Europeus, além de ser implementadas em combinação com as legislações existentes sobre lixo, aterros sanitários e embalagens. Porém tanto a UE quanto o da ONU enfatizam que a chave é convencer as empresas que eficiência de recursos faz sentido do ponto de vista econômico.

“Não acho que possamos esperar até que todos os países tenham políticas adequadas e todas as instituições governamentais estejam treinadas e equipadas para aplicar as leis ambientais ou de sustentabilidade. O que nós devemos, é tentar convencer as empresas a apostar em eficiência de recursos, em tecnologias mais ecologicamente corretas, pois elas podem lucrar produzindo de modo mais limpo e eficiente”, exorta Heinz Leuenberger, da Iniciativa Indústria Verde.

Para De Leeuw, contudo, a regulamentação governamental tem um papel decisivo em acelerar a transição para a economia circular. Iain Gulland, diretor da iniciativa Zero Waste Scotland, concorda. “É tudo uma questão de criar um mercado, persuadindo as pessoas a mudarem seu modelo de negócios e a desenvolver novos produtos. Elas não vão fazer isso em nível doméstico, mas o farão para um mercado mais amplo. Com essa agenda, nós criamos um novo mercado, e as empresas, pequenas e grandes, começarão a se adaptar.”

A Escócia defende na UE a ambiciosa meta de 60% de reciclagem até 2020 e 70% até 2025. Segundo Gulland, o setor público pode tomar a dianteira, ao implementar estratégias de aquisição sustentável. Essa abordagem conta com o apoio da TCO Certified, grupo sueco de origem sindical que opera um sistema de certificação – também promovido pela UE – para produtos de tecnologia de informação (TI) sustentáveis no setor público.

Niclas Rydell, diretor da TCO, defende que “a certificação pode ter grande impacto sobre todo um setor”. “O que tentamos fazer é minimizar os impactos ambientais e, ao mesmo tempo, aumentar a vida de um produto.”

Outro fator que impulsiona a eficiência de recursos e a economia circular é a escassez de matérias-primas, como os metais de terras raras, necessários à produção de produtos de TI. O fato de eles não serem encontrados na Europa e nos Estados Unidos, é mais um incentivo para que sejam usados mais economicamente, ressalta De Leeuw, do Fórum Mundial de Recursos: “Essa não é uma agenda ambiental, na realidade é uma agenda econômica e de segurança, que exige uma discussão internacional.”

Matéria de Irene Quaile, da Deutsche Welle, DW.DE

Fonte: EcoDebate

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