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quinta-feira, 25 de julho de 2013

Depressão, o mal do século, artigo de Montserrat Martins


Na área emocional, o mal do século XXI é a depressão, como a histeria foi o mal do século XIX. Sabe-se que a histeria era comum na era vitoriana, de repressão sexual, mas depois das mudanças culturais do século XX se tornou rara na Europa. Mas quais as causas da depressão, agora, como um fenômeno social? Qualquer transtorno tem causas biológicas, psicológicas e sociais. Entre os múltiplos fatores, no caso da depressão como o ‘mal do século’, destacam-se os sociológicos.

Como todos os transtornos, são mais frequentes na população de baixa renda, mas no caso da depressão não é só o estresse das dificuldades financeiras, são também as humilhações que as pessoas sofrem na vida cotidiana, no trabalho e no próprio convívio social. Faltam pesquisas sobre algumas questões específicas, mas é previsível por exemplo o efeito das propagandas de automóveis de último tipo e produtos de luxo na televisão sobre pessoas que jamais poderão adquirir esses bens. Muitos adolescentes internados na FASE praticaram algum roubo de carro não para revender, mas para dirigir e passar com ele na frente de garotas, como demonstração de status, de poder, para se sentirem ‘importantes’, validados por elas.

Outros fatores sociológicos vão além da condição econômica, atingem a todos os grupos. Estamos no século da sociedade de massas, das multidões, da anomia, da falta de identidade, diante da necessidade de adaptação às tendências mutantes dos grupos sociais. A própria difusão de drogas como o crack e a cocaína, de efeito euforizante, é um dos sintomas dessa era. O culto ao ‘celebritismo’ também, bater fotos com celebridades é uma forma de ser “alguém” – não importando que tipo de fama a pessoa tenha, porque o ‘celebritismo’ não requer valor intrínseco. Sendo que o mais almejado modo de atingir os “15 minutos de fama” é aparecer na TV, vem daí o sonho de milhões em ir para os BBBs da vida.

Nesse mundo massificado em que as pessoas medem o próprio valor por consumo e status, em detrimento das próprias qualidades humanas, aqueles cujo trabalho é atender aos outros passam a ser cada vez mais atingidos por estresse. É o caso da chamada “síndrome de burnout”, um tipo de depressão desenvolvida em decorrência da atividade profissional. São descritos em artigos sobre ‘burnout’ os modos como o estresse dos professores e dos enfermeiros se transforma em depressão, convivendo com frustrações e sofrimentos das populações que atendem.

Em escolas e hospitais é cada vez mais difícil trabalhar e o mesmo vale para o trabalho na rua, na área da segurança. Todos queremos “ter segurança”, não sermos roubados na rua, ao mesmo tempo em que reclamamos do despreparo dos policiais nos casos de abuso de poder. Também queremos que os adolescentes infratores quando saiam da FASE não ‘recaiam’ no mundo do crime e a expectativa para isso fica nos ombros da instituição. Nossos problemas sociais são grandes, graves e complexos, mas algumas categorias profissionais vem carregando nos ombros o peso das expectativas de resolver problemas de muito difícil solução – que não dependem só deles, mas em que eles são vistos como responsáveis.

Num mundo em que multidões se sentem amassadas pelo peso dos problemas, a alegria que alguns proporcionam com sua arte (jogadores de futebol, atores) fazem deles ídolos. Mas o século XXI também é o da diversidade e do respeito às diferenças – em que cada um e cada grupo tem próprios ídolos. Meus heróis são os que atendem às pessoas nas ruas, na FASE, no SUS e nas escolas, lutando contra o ‘mal do século’.

Montserrat Martins, Colunista do Portal EcoDebate, é Psiquiatra.

Fonte: EcoDebate

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