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quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Antigo campo de concentração vira cemitério de migrantes na Calábria

Local vai abrigar corpos de refugiados mortos em naufrágios no Mediterrâneo


TARSIA, Itália - Parte de um campo de concentração, o maior de 15 mantidos pelo fascista Benito Mussolini durante a Segunda Guerra, está sendo preparada para abrigar o primeiro cemitério internacional para refugiados mortos no Mediterrâneo. Hoje, os corpos resgatados são enterrados em mais de 70 locais, a maioria em cidades e vilarejos da costa da Sicília, além de Grécia e Turquia. Muitas sepulturas estão identificadas apenas por um número.

Drama. Refugiados desembarcam no porto de Augusta, na Sicília, Itália: mais de 86% das mortes no mar este ano ocorreram entre o Norte da África e a costa italiana, uma das rotas mais perigosas utilizadas na travessia mediterrâneaDesde a morte do menino Aylan, 4.376 morreram no Mediterrâneo

Vitória ficou dois anos na Líbia, como escrava sexual, para poder pagar a travessia com os dois filhos para a ItáliaMigrantes sofrem caminho de abusos até a nova vida na Europa

Ferramonti di Tarsia, um antigo campo de concentração nazista mantido por Benito Mussolini durante a Segunda Guerra, que terá parte do terreno transformada em cemitério para receber refugiados e migrantes mortos na travessia do Mediterrâneo 

Desembarque e o drama dos migrantes na chegada à Itália

“A maioria dos corpos encontrados no Mediterrâneo são enterrados sem identificação”, revelou relatório do Mediterranean Missing Project divulgado na semana passada, que mostra que as autoridades europeias estão despreparadas para lidar com a natureza e o volume da tragédia. A Itália só começou recentemente a fotografar os corpos e colher amostras de DNA, mas o trabalho é lento, e muitos, antes disso, foram enterrados sem identificação. Para os familiares, eles simplesmente desapareceram.

O projeto da prefeitura de Tarsia, na Calábria, prevê que os corpos não identificados também sejam sepultados no novo cemitério.

O Campo de Ferramonti di Tarsia, na região da Calábria, recebeu 3.800 judeus, entre 1940 e 1943, quase todos estrangeiros, capturados pelo regime nazista e deportados à Itália. Entre eles estavam 539 sobreviventes de um naufrágio, resgatados por um navio de guerra em 1940.

Pouco sobrou do campo, localizado em uma área rural ao longo do Rio Crati, distante seis quilômetros da cidade de apenas dois mil habitantes. Na margem do rio fica o cemitério local, onde estão enterrados, numa área reservada, os corpos dos judeus mortos no campo — o para refugiados ocupará o terreno vizinho.

— A ideia é que seja um cemitério inter-religioso — diz Franco Corbelli, ativista local idealizador do projeto, que inclui a reconstrução do campo.

Monia Martorando, que trabalha com a integração de refugiados na prefeitura de Tarsia, diz que a obra custará € 4,3 milhões (R$ 15,6 milhões), parte já financiada pelo governo regional. O restante está sendo negociado com governo central e a UE.

A construção de Ferramonti teve início uma semana antes da entrada da Itália na Segunda Guerra. A intenção era deportar prisioneiros para a Alemanha nazista. Maria Lavorato, que trabalha como voluntária, conta que, quando os alemães chegaram à cidade, o comandante do campo mandou hastear no local a bandeira amarela que indicava epidemia de tifo, salvando assim os prisioneiros de serem transferidos para Auschwitz. O campo foi liberado pelas forças britânicas em 1943. Cerca de mil judeus foram transferidos num navio para Nova York, e tiveram mais tarde permissão para ficar nos EUA. Eram os refugiados de então.

Fonte: Jornal O Globo

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