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quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

O inteligente, o burro e o estúpido

 
Como diria um professor que tive na sétima série, existem três tipos de pessoas:
As inteligentes, que aprende com os erros das outras pessoas;
As burras, que aprendem com os próprios erros;
E as estúpidas, que não aprendem de jeito nenhum.
Inspirado no post publicado no FB de um colega, tomo a liberdade de fazer uma analogia dessa ideia, colocando países nos lugares das pessoas.

Assim, fica nítida a “burrice” do Japão (e também de outros países) ao investir pesadamente em um tipo de energia que acreditava ser segura e limpa, mas que a realidade acabou mostrando justamente o contrário: a nuclear. O país ignorou o erro de outra superpotência, a então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS, hoje, a Rússia), que em 1986 amargou o terrível acidente nuclear de Chernobil.

Vinte e cinco anos depois, devido às intempéries da natureza, a terra do sol nascente seria atingida por uma série de tsunamis, causando devastação e, pior, um acidente nuclear de grandes proporções. O episódio de Fukushima revela o perigo que esse tipo de energia representa para as pessoas e para o planeta.

É verdade que quase três anos depois dessa catástrofe, os problemas envolvendo vazamento de radiação ainda não estão resolvidos. A ferida continua aberta e sua cicatrização deve demorar ainda algum tempo. Mas o importante é que o Japão parece ter aprendido a lição. Seu governo criou um programa para encorajar e subsidiar a construção de novas usinas elétricas, contemplando outros tipos de energia, como a limpa e renovável solar. Fruto desse esforço foi a maior usina fotovoltaica do país, a Kagoshima Nanatsujima, com capacidade para abastecer 22 mil casas.

Aprender com o próprio erro pode até ser coisa de gente burra, mas seus efeitos são bastante positivos.

Usina fotovoltaica na AlemanhaPorém, é muito melhor e menos dolorido aprender com os erros dos outros, como fez a Alemanha. Influenciado pelo acidente de Fukushima e pelo eleitorado local, o país promete desligar todas suas usinas nucleares até 2022. Enquanto isso, investe pesado em novas fontes de energia e em eficiência energética.

Inteligente isso, né?

E o Brasil, qual postura irá tomar nessa esfera energética? Será inteligente o suficiente para aprender com os erros (e por que não também com os acertos?) dos outros? Vai investir em energias renováveis mais limpas?
Ou será que o país vai adotar uma postura mais “burra”? Se não dá para ser inteligente, tudo bem, a gente releva. Aprender com os próprios erros não é vergonha para ninguém. Só não dá para aceitar a estupidez e o encalhamento eterno na lama de interesses obscuros do poder e de certos setores da economia.

Mas a verdade é que o Brasil tem muito de estúpido. Afinal, o que explica a construção do maior complexo eólico da América Latina, instalado no Sudeste da Bahia, sem que seja possível gerar um único megawatt, já que não há uma linha de transmissão para levar aos consumidores a energia produzida ali? OK, isso será remediado em breve. Mas deixar um empreendimento desse porte empoeirando por dois anos no sertão nordestino, exigindo manutenção e consumindo dinheiro do contribuinte está até mesmo abaixo do nível da estupidez.

Ou será que entraremos de vez na era na energia abundante e barata do gás de folhelho, popularmente conhecido como gás de xisto, ameaçando nossas águas, biodiversidade e até nossas casas? Ou construiremos outras grandes hidrelétricas, destruindo rios, florestas e comunidades tradicionais? Sem contar as termelétricas a carvão. Poluentes que só elas, esse tipo de empreendimento vai crescendo em participação na matriz elétrica brasileira. Não é desse tipo de energia que o mundo quer se livrar?

Estúpido, né?

Fazenda eólica na BahiaA notícia boa dentro disso tudo é o leilão de energia renovável promovido pelo governo no fim de 2013. Na ocasião, foram negociados 29 empreendimentos eólicos nos estados da Bahia, Ceará, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Sul. Eles são suficientes para abastecer uma cidade de 1 milhão de habitantes e devem entrar em operação em 2016. Apesar da fotovoltaica também ter entrado no leilão, ninguém está apostando nela ainda. Deve ser pelo sol que nunca dá as caras por aqui, ou, talvez, pela falta de incentivo para esse tipo de energia economicamente cara. Barato é remediar externalidades de empreendimentos ambientalmente duvidosos, não é mesmo?

Bom, pelo menos o vento dá algum refresco nesse deserto de inteligência em que vivemos.

Fonte: Mercado Ético

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