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segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Refugiados sírios comem cães para evitar a inanição

A escassez de alimentos atingiu níveis extremos no acampamento para refugiados de Yarmuk, na capital síria. Líderes religiosos islâmicos emitiram uma “fatua” (decreto) permitindo matar e comer gatos, cães, ratos e macacos. “Há três meses que estamos sitiados. Não resta nada para comer. É nisso que nos converteram”, disse um morador de Yarmuk enquanto se preparava para matar seu cão para comê-lo com sua família. Os moradores recorrem a medidas desesperadas para impedir que seus filhos morram.


Jana Ahmad Hassan tem menos de três meses de vida, nasceu nesse acampamento e já apresenta desnutrição aguda. “Pelo amor de Deus. Tenho uma bebê que está morrendo de inanição”, implorou sua mãe, diante de um soldado em um posto de vigilância, quando pedia permissão para sair do acampamento em busca de comida. “Preciso de um pouco de leite para ela e comida para mim, ou morreremos as duas”, insistiu.

Mas foi brutalmente repelida. “Você pensa que é uma boa mãe? Se soubesse alguma coisa, não teria saído do acampamento e não a teria deixado sozinha na casa”, respondeu o soldado. A mulher voltou para casa de mãos vazias. Ela já não tem leite próprio para alimentar Jana e seu marido procura desesperadamente alimento para bebês, mas já não resta nada no sul da Síria. Além de Yarmuk, muitas outras áreas controladas pelos rebeldes sírios estão cercadas pelas forças do regime de Bashar al Assad e sofrem uma severa escassez de comida.

O Programa Mundial de Alimentos (PMA), da Organização das Nações Unidas (ONU), procura dar assistência a mais de 6,5 milhões de sírios antes do fim do ano. Os desafios que enfrenta são monumentais. A deteriorada situação humanitária em Yarmuk e outros acampamentos do sul, como Sabina e Sayeda Zeinab, originalmente instalado para palestinos, afetou as relações entre as autoridades e os órgãos encarregados de administrá-los, como a Agência das Nações Unidas para os Refugiados da Palestina no Oriente Próximo (UNRWA) e a Organização para a Libertação da Palestina (OLP).

Em meados de julho, moradores dos três acampamentos enviaram uma carta à OLP e à UNRWA pedindo que fizessem todos seus esforços para levantar o sítio. Também pediram à agência da ONU que, se não pudesse cumprir totalmente sua responsabilidade, apresentasse o caso na Assembleia Geral das Nações Unidas. Além disso, solicitaram que fosse dado à Cruz Vermelha Internacional pleno acesso aos acampamentos, e alertaram que havia um iminente estado de fome.

Os meses passaram e não houve mudanças significativas. Cada vez são maiores as áreas sitiadas no sul, com mais de meio milhão de civis encerrados, incluídas as dezenas de milhares de pessoas que residem no acampamento de Yarmuk. “Até há pouco tempo, era permitido às pessoas trazerem um pouco de comida. Agora fecharam o acampamento com postos de vigilância, e há um cerco total”, contou à IPS Abu Salma, da Comissão Beneficente para a Ajuda ao Povo Palestino.

Desde o começo de agosto, houve várias manifestações fora dos prédios da UNRWA, quando foi queimada uma bandeira da ONU. O descontentamento dos residentes se exacerbou pela propagada sensação de corrupção e negligência na UNRWA. “Tentamos fazer uma greve em protesto pelas práticas do diretor da agência, e ele nos enviou cartas ameaçando com demissão quem protestasse”, revelou um empregado da agência. Um diretor da UNRWA foi preso e acusado de corrupção.

A Comissão Beneficente entregou assistência em alguns acampamentos, mas também foi vítima de ataques das forças de Assad. A organização protestou dizendo que só tem fins humanitários e que não está vinculada a nenhum grupo político. Mas isso não deteve o regime. “Começaram a prender nossos funcionários, e detiveram nosso coordenador geral, Ali Shihabi. A situação vai de mal a pior nos acampamentos. A situação se converteu, de fato, em um assassinato coletivo”, alertou Abu Salma à IPS.

Fonte: Envolverde

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