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sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Abate humanizado ou o fim da escravidão animal?

Dezenas de ativistas invadiram, na madrugada do dia 18 de outubro de 2013, o laboratório do Instituto Royal elevaram vários animais que sofriam os conhecidos maus-tratos que quase sempre ocorrem nas pretensas pesquisas científicas. Subitamente, cresceu no Brasil o questionamento sobre o uso de animais sencientes nas pesquisas científicas e nas pesquisas cosméticas. As pessoas começaram a perceber os abusos que existem contra os animais, em nome de uma ciência egoisticamente antropocêntrica.


Tem crescido a percepção de que é grande o sofrimento dos animais nos laboratórios. Mas é ainda maior o sofrimento dos animais que são criados unicamente para satisfazer o apetite humano. Para alimentar 7,2 bilhões de habitantes, os abatedouros sacrificam cerca de 60 bilhões de animais terrestres todos os anos, segundo dados da FAO. Os mamíferos humanos são os maiores predadores do Planeta.

O ser humano consome, escraviza, maltrata e mata os animais de outras espécies para benefício próprio. Existem leis nacionais e internacionais contra o genocídio, mas não existe nada significativo em relação ao especismo e ao ecocídio. O especismo é a discriminação existente com base nas desigualdades entre as espécies. Ocorre, em geral, quando os seres racionais se consideram superiores aos demais seres vivos, inclusive, superiores aos seres sencientes não-racionais.

Existem pessoas progressistas que são contra o classismo, o sexismo, o escravismo, o racismo, o xenofobismo e o homofobismo, mas não se preocupam em combater o especismo. Há também aqueles que acreditam que se deve defender o direito de alguns animais domésticos – como o cão e o gato – mas ignoram os direitos dos bois, porcos, galinhas, coelhos, cabras, etc.

O ser humano, em geral, se considera superior aos demais animais porque possui um cérebro evoluído e porque desenvolveu a capacidade de falar, escrever, raciocinar e construir grandes obras materiais e imateriais. Assim, os animais racionais seriam superiores aos animais irracionais. A humanidade possuindo uma cultura desenvolvida, estaria acima da forças naturais, enquanto as outras espécies estariam presas às “leis” da natureza.

Mas quando uma pessoa inteligente é questionada sobre a matança de animais para o consumo humano geralmente ela diz que isto faz parte da “lei da selva” comum a todas as espécies (o que não é verdade). Muitas espécies de mamíferos são vegetarianos e não consomem carnes. O ser humano utiliza a inteligência para se colocar acima das outras espécies animais, mas utiliza seu instinto animal para justificar a caça selvagem, o consumo de carne e a escravidão animal.

Todavia, alguns humanos mais sensíveis falam em “carne feliz” e “abate humanizado” e defendem técnicas adequadas nos abatedouros para que o animal não tenha muito stress na hora da morte, evitando com isto que o PH da carne se mantenha alto e torne a carne escura, dura e seca. A ideia é que a vida e a morte do animal devem ser controladas para garantir a qualidade de sua carne após o abate, melhorando o apetite humano.

Evidentemente, estes conceitos de “carne feliz” e “abate humanizado” são, não apenas irônicos e cínicos, mas uma expressão dos interesses egocêntricos do antropocentrismo. Parece que a expressão “abate humanizado” quer dizer abate menos cruel. Indubitavelmente, reduzir o sofrimento animal é um passo importante, mas a solução definitiva passa pelo fim da escravidão e da matança animal.

Ao invés do “abate humanizado” (abate com menor sofrimento) seria mais coerente seguir os princípios do Veganismo, ou seja, viver sem explorar os animais. Os Vegans defendem o fim de qualquer uso de animais (e produtos derivados de animais) pelo ser homem, quer seja para alimentação, apropriação, trabalho, caça, vivissecção, confinamento ou outros usos que envolvam exploração ou violação dos direitos dos animais.
Humanizar o abate poderia ser uma proposta séria se conseguisse expandir as leis humanas contra o genocídio e em defesa da vida das demais espécies de animais sencientes da Mãe Terra, eliminando os crimes contra outras formas de vida.

O ser humano precisa respeitar os direitos dos animais tanto em relação às pesquisas, quanto em relação à criação e abate das demais espécies sencientes do mundo.

Referências:
Rafael Tonon. Pelos direitos dos animais. Revista Galileu. Reportagem / Dossiê.
http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,EMI340748-17773,00-PELOS+DIREITOS+DOS+ANIMAIS.html
ALVES, JED. Por um mundo mais selvagem!
http://www.ecodebate.com.br/2013/08/14/por-um-mundo-mais-selvagem-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
ALVES, JED. Erradicar o Ecocídio
http://www.ecodebate.com.br/2012/10/31/erradicar-o-ecocidio-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
ALVES, JED. Especismo e ecocídio: 100 milhões de tubarões mortos por ano
http://www.ecodebate.com.br/2012/11/07/especismo-e-ecocidio-100-milhoes-de-tubaroes-mortos-por-ano-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
ALVES, JED. Especismo e ecocídio: o massacre de elefantes e o comércio de marfim
http://www.ecodebate.com.br/2012/11/21/especismo-e-ecocidio-o-massacre-de-elefantes-e-o-comercio-de-marfim-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
ALVES, JED. Especismo e ecocídio: a ameaça de extinção dos rinocerontes
http://www.ecodebate.com.br/2012/11/28/especismo-e-ecocidio-a-ameaca-de-extincao-dos-rinocerontes-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
ALVES, JED. Especísmo e ecocídio: o sumiço das abelhas. EcoDebate, RJ, 18/09/2013
http://www.ecodebate.com.br/2013/09/18/especismo-e-ecocidio-o-sumico-das-abelhas-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
ALVES, JED. Enxame Humano? EcoDebate, RJ, 18/09/2013
http://www.ecodebate.com.br/2013/09/20/enxame-humano-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
ALVES, JED. Especismo e ecocídio: a extinção dos tigres. EcoDebate, RJ, 25/10/2013
http://www.ecodebate.com.br/2013/10/25/especismo-e-ecocidio-a-extincao-dos-tigres-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
* José Eustáquio Diniz Alves, colunista do Portal EcoDebate, Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal.

Fonte: EcoDebate

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