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terça-feira, 11 de agosto de 2015

Obra da Usina Belo Monte já desalojou ao menos 203 mil animais silvestres

As obras dos reservatórios da Usina Hidrelétrica Belo Monte, na região do Xingu, no Pará, já deslocaram ao menos 203 mil animais silvestres de seus habitats de origem.  
O dado é da Norte Energia, responsável pelo afugentamento e reinserção dos animais em áreas de preservação ambiental. Cerca de 190 mil teriam voltado ao meio ambiente, segundo a empresa. Os animais que não apresentaram condições de serem reinseridos no ambiente por estarem machucados foram encaminhados para instituições como centros públicos de biologia, museus e zoológicos.

Grande parte dos animais deslocados são cobras, lagartos e sapos, mas também foram removidos ninhos de pássaros, abelhas e até orquídeas das árvores que serão cortadas. Os dois lagos que servirão de reservatórios de água para a hidrelétrica ficarão nesta área de 130 km2, que está sendo totalmente desmatada.

Vinte e três equipes formadas por biólogos e técnicos trabalham para, primeiro, afugentar os animais maiores como raposas-do-mato, macacos, ou onças. Depois, eles observam a fauna e flora do local para recolher os animais e enviar para centros de triagem. Lá, os animais são catalogados e os técnicos definem o local de soltura. Em geral, os animais são enviados para uma área de proteção ambiental próximo à Usina, que fica em Vitória do Xingu (PA).

O trabalho envolve, no total, 207 pessoas, desde as que vão a campo para recolher os animais até os que dão suporte ao catalogar os bichos. Segundo a empresa, o processo dura menos de 12 horas para que o animal tenha o mínimo de contato humano.

Mudança de habitat – A remoção ou afugentamento dos animais é criticada pelos especialistas em animais silvestres. “Um problema é o estado estressado e debilitado dos animais na hora da soltura. Outro problema é que, mudando os animais de lugar faz com que eles entram em competição com populações de animais já presentes na área de soltura. O que se vê é que a densidade de cada espécie declina rapidamente até aproximadamente os mesmos níveis de antes”, escreveu o cientista do INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) Philip Fearnside, que estuda o impacto da implantação das hidrelétricas na Amazônia.

A professora da Faculdade de Ciências Biológicas da UEPA (Universidade Estadual do Pará) Ana Lúcia Nunes Gutjahr concorda com a posição de Fearnside. “No local onde há uma fauna estabelecida, já há um equilíbrio com os serviços ecológicos necessários ao ecossistema. Os animais já estão comendo, caçando, sobrevivendo. Quando entra um grupo estranho, vai causar desequilíbrio, e não só com animais grandes. A disputa por substratos para se fazer ninho, ou a competição alimentar, gera um estresse muito grande para os animais e grande parte acaba morrendo”, afirma a professora.

“Quando se fala em resgate de fauna isso é muito relativo, é como se fosse uma resposta para a sociedade, mas na prática é como se fosse a onda migratória que está acontecendo na Europa. Gera um estresse e problemas na adaptação”, completa Ana Lúcia.

“Ao capturar um animal silvestre, ele corre o risco de morrer por causa do estresse. Outros ficam machucados e vão em desvantagem para o ambiente e podem acabar morrendo na disputa. Além disso, na fase de afugentamento, os animais são levados a invadir outras áreas, até urbanas, e quando encontram com o homem, o processo natural é que eles sejam abatidos. O ideal seria que obras desse porte não fossem feitas em áreas de natureza tão selvagem”, conclui a professora.

Outro lado – A Norte Energia enviou uma nota ao UOL em que afirma que “o resgate de fauna é, não só uma obrigação da Norte Energia exigida e aprovada pelos órgãos licenciadores do empreendimento, mas principalmente uma ação técnica para que os animais retornem aos seus ambientes de modo seguro e mantenham o ecossistema local funcionando. (…) Engana-se quem pensa que basta soltar o animal em qualquer lugar da floresta. (…) Comprovada a boa saúde do animal, ele é encaminhado às áreas de soltura, previamente estudadas, que apresentem condições adequadas a sua espécie. Os técnicos mapeiam esses lugares da floresta com aparelhos de geolocalização para evitar a superpopulação ou que os animais sejam soltos em áreas que não apresentem características favoráveis a sua ecologia. O processo dura menos de 12 horas para que o animal tenha o mínimo de contato humano”.

“É importante perceber ainda que a ação da empresa é acompanhada com todo o rigor pelos órgãos de fiscalização e de licenciamento ambiental, com monitoramento por meio de visitas técnicas e exigência de relatórios regulares sobre o resgate e a soltura dos animais aos locais adequados a cada uma das espécies. Ao invés de se apegar a crenças preconcebidas e inverdades sobre Belo Monte, os profissionais de imprensa precisam atentar às obrigações do empreendedor que vêm sendo cumpridas da melhor forma possível no intuito de mitigar possíveis impactos na região. Tanto que o próprio Ibama, em relatório, afirma que a empresa tem cumprido adequadamente 80% das chamadas condicionantes socioambientais, restando 15% com ajustes na realização e apenas 5% pendentes”, conclui a nota.

Fonte: UOL

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