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sábado, 25 de fevereiro de 2017

Declarada guerra ao plástico nos oceanos

A Organização das Nações Unidas (ONU) declara guerra aos plásticos que inundam os oceanos: mais de oito milhões de toneladas acabam em suas águas a cada ano, como se fosse despejado um caminhão desse material por minuto, o que causa estragos na vida marinha, na pesca e no turismo, e tem custo de aproximadamente US$ 8 bilhões.


O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), com sede em Nairóbi, capital do Quênia, lançou ontem uma campanha mundial para eliminar, até 2022, as principais fontes de contaminação marinha, como os microplásticos existentes em produtos cosméticos, e o desperdício de artigos descartados usados apenas uma vez.

Apresentada na Cúpula Mundial dos Oceanos, organizada pela revista The Economist, na cidade de Bali, na Indonésia, a campanha #MaresLimpos pede urgência aos governos no sentido de criarem políticas para reduzir o uso de plásticos, especialmente dirigidas à indústria, a fim de minimizar os envoltórios desse material e redesenhar suas embalagens, e aos consumidores para mudar seus hábitos de descarte, antes que haja um dano irreversível.

“Já é hora de encararmos o problema do plástico que arruína nossos oceanos”, ressaltou Erik Solheim, diretor executivo do Pnuma. “A poluição por plásticos navega pelas praias indonésias depositando-se no solo oceânico do Polo Norte, e regressa por meio da cadeia alimentar para se instalar em nossa mesa. Esperamos muito tempo e o problema piorou. Precisa acabar”, enfatizou.

No contexto da campanha serão anunciadas novas medidas ambiciosas dos países, mas também das empresas, para a eliminação dos microplásticos dos produtos de higiene pessoal, proibição ou taxação dos sacos plásticos com apenas um uso e redução drástica de outros artigos plásticos descartáveis. A iniciativa mundial procura sensibilizar os governos, a indústria e os consumidores para que reduzam urgentemente a produção e o abuso de plásticos, que contaminam os oceanos, atentam contra a vida marinha e ameaçam a saúde humana.

O Pnuma procura transformar todas as esferas: hábitos, práticas, padrões e políticas em todo o mundo, com o objetivo de reduzir radicalmente o lixo marinho, bem como suas consequências negativas. Dez países já se uniram à campanha: Bélgica, Costa Rica, França, Granada, Indonésia, Noruega, Panamá, Santa Lúcia, Serra Leoa e Uruguai. A Indonésia se comprometeu a diminuir seu lixo marinho em 70% até 2025, o Uruguai anunciou que este ano taxará os sacos plásticos descartáveis, e a Costa Rica tomará medidas para reduzi-los rapidamente por meio de uma melhor gestão dos resíduos e da educação.

“Proteger os mares e a vida marinha do plástico é uma questão urgente para a Noruega”, segundo o ministro de Clima e Meio Ambiente desse país, Vidar Helgesen. “O lixo marinho aumenta rapidamente os riscos para a vida marinha, a segurança dos mariscos e peixes, e afeta de forma negativa a vida das populações costeiras de todo o mundo. Os oceanos já não podem esperar”, destacou.

Por sua vez, a ministra de Habitação, Ordenamento Territorial e Meio Ambiente do Uruguai, Eneida de León declarou: “Nosso objetivo é desestimular o uso de sacos plásticos mediante regulamentações, oferecer alternativas aos trabalhadores do setor do lixo e desenvolver planos de educação sobre o impacto do uso dos sacos plásticos em nosso ambiente”.

No ritmo em que descartamos garrafas, sacos e copos plásticos, as estimativas revelam que até 2050 os oceanos terão mais plástico do que peixes e que aproximadamente 99% das aves marinhas terão consumido plástico. São esperados mais anúncios no contexto dessa campanha na Conferência sobre os Oceanos, que acontecerá na sede da ONU, em Nova York, entre os dias 5 e 9 de junho, bem como na Assembleia Geral da ONU para o Meio Ambiente, que acontecerá em Nairóbi no mês de dezembro.

Além dos oito milhões de toneladas de plástico lançados nos oceanos todos os anos, estes também sofrem sobrepesca, acidificação e elevação da temperatura da água devido à mudança climática. A ONU organizou uma reunião nos dias 15 e 16 deste mês em Nova York para preparar a Conferência de junho, no sentido de “contribuir para salvaguardar os oceanos e recuperar os problemas causados pelas atividades humanas”.

A ministra do Clima da Suécia, Isabela Lövin, afirmou em um vídeo postado no Twitter que a Conferência seria uma “oportunidade única na vida” para salvar os oceanos que sofrem um enorme estresse. Ela argumentou que “não precisamos negociar nada novo, só temos que agir para implantar o que já acordamos”, basicamente resumindo o sentimento da maioria da comunidade científica, ambientalistas e organizações da sociedade civil.

Lövin se referia à esperada “chamada à ação”, que surgirá da Conferência no que diz respeito à sobrepesca, à contaminação marinha e às circunstâncias especiais dos pequenos Estados insulares. No tocante ao objetivo de conseguir oceanos sustentáveis e preservar a vida debaixo da água, a ministra disse em entrevista à IPS que “o mundo avança em uma direção totalmente equivocada”.

“Se observarmos as tendências, vemos cada vez mais sobrepesca, cada vez mais contaminação, lixo plástico que chega aos oceanos, e também vemos o estresse que sofrem os oceanos por causa da mudança climática, da acidificação e do aquecimento da água e pela elevação do nível do mar. Tudo isso exerce uma tremenda pressão sobre nossos oceanos”, enfatizou a ministra.

Na reunião de Nova York, a ONU pediu compromissos voluntários para implantar o 14º dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), e, no dia 15 deste mês, lançou um registro de compromisso online, que já tem três compromissados: o governo da Suécia, o Pnuma e a organização não governamental Peaceboat. O site estará pronto ao final da Conferência, que começará em 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente, durante a qual também será celebrado o Dia Mundial dos Oceanos, três dias mais tarde.

Os compromissos voluntários “destacam a necessidade de ação e soluções urgentes”, pontuou o secretário-geral adjunto para Assuntos Econômicos e Sociais da ONU, Wu Hongbo, que será o secretário-geral da Conferência.

Fonte: Envolverde

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