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quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Estudo indica que matas ciliares ajudam a manter fertilizantes fora dos rios

Resultados preliminares de uma pesquisa realizada na Fazenda Tanguro (MT) indicam que fertilizantes usados na agricultura que caem em córregos podem impactar a qualidade da água nas propriedades e até fora delas, reforçando a necessidade de se recuperar e proteger matas ciliares. O estudo é conduzido por cientistas americanos em colaboração com o IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia).


Um experimento mostra que o nitrogênio, ao cair em um córrego, pode viajar até um quilômetro, com potencial de atingir rios maiores. O fósforo, por sua vez, é em grande parte absorvido localmente, o que estimula a produção de algas. Elas alteram a disponibilidade de oxigênio na água e modificam a cadeia alimentar do local.

“O ideal é que estes nutrientes agrícolas sejam processados antes de chegar na água, mas é preciso investigar as possibilidades”, explica a cientista KathiJo Jankowski, do Marine Biological Laboratory (MBL). “Se você consegue prever as consequências, é possível definir as melhores alternativas.”

O estudo começou no início de 2016 e uma nova rodada de experimentos e coleta de dados na fazenda foi feita em outubro. A boa notícia é que tanto o solo quanto a mata ciliar preservada servem como filtros desses fertilizantes. Na mesma Tanguro, estudos realizados desde 2008 mostram que esses elementos tendem a nem chegar na água, ficando estocados abaixo de dois metros de profundidade no solo agrícola.

“Os produtores devem maximizar a produtividade minimizando os impactos. Utilizamos os experimentos para identificar corretamente o ponto em que esse equilíbrio acontece”, afirma o co-autor da pesquisa, Christopher Neill, do Woods Hole Research Center (WHRC).

Dinheiro rio abaixo

Jankowski conta que, nos Estados Unidos, gasta-se milhões de dólares todo ano para melhorar a qualidade da água do Rio Mississipi, e que o Golfo do México apresenta zonas mortas (sem oxigênio), porque está saturado com nitrogênio e fósforo.

No Brasil, o Código Florestal prevê essa proteção na figura das APPs, ou áreas de preservação permanente. São trechos de vegetação situadas às margens de corpos d´água, como córregos ou nascentes, além de topos de morro e encostas, fundamentais para manter a segurança e a qualidade da água e dos ecossistemas ali existentes.

“As florestas ripárias, junto a um bom manejo, oferecem um caminho para evitar danos ecológicos associados à produção agrícola e mantêm a integridade de ambientes aquáticos”, afirma a pesquisadora Marcia Macedo, também do WHRC.

Ao sombrear o córrego, as árvores deixam cair folhas, insetos e galhos dentro da água, formando micro-habitats que são importantes para a vida aquática. Além disso, a vegetação regula a temperatura da água, pois barra a entrada excessiva de luz.

“O Brasil tem a oportunidade de manejar a paisagem de forma mais sustentável do que o resto do mundo. Imagina o quanto pode-se poupar por não precisar restaurar rios, apenas fazendo o manejo da forma mais adequada e protegendo as APPs”, diz Jankowski.

“É essencial conservar as florestas. Para isso a intensificação da produção pode ser um caminho. Ter APPs devidamente protegidas é bom para o ecossistema aquático, para os animais que utilizam como corredores ecológicos e para a produção de alimentos”, explica Neill.

Segundo o Instituto Internacional de Nutrição Vegetal, que congrega grandes empresas produtoras de fertilizantes do mundo, em 2015 o Brasil apresentou um consumo aparente de 3,64 milhões de toneladas de nitrogênio e 4,66 milhões de toneladas de fósforo.

Impacto no clima

Além da água, outro efeito do uso de fertilizantes sintéticos na agricultura é a emissão de gases do efeito estufa. Segundo o SEEG (www.seeg.eco.br), seu uso responde a emissão de 13,7 milhões de toneladas de CO2 equivalente em 2015.

Na Fazenda Tanguro, um estudo de 2013 concluiu que a quantidade de aduba­ção nitrogenada utilizada para a plantação de soja (80 qui­los por hectare) minimizou as emissões de N2O e maximizou a produção.



Fonte: EcoDebate

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