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terça-feira, 2 de maio de 2017

Banhado do Taim, artigo de Roberto Naime

A Estação Ecológica do Taim (ESEC Taim) foi criada pelo decreto 92.963 de 21 de julho de 1.978 e possui uma área original de 32.038 hectares, situando-se na estreita faixa de terra entre o oceano Atlântico e a lagoa Mirim no extremo sudeste do estado do Rio Grande do Sul.
É uma unidade de conservação de proteção integral da natureza, com cerca de 30% de sua área integrada no município de Rio Grande e aproximadamente 70% pertencente ao município de Santa Vitória do Palmar.

A área foi formada há cerca de 12 mil anos, quando as áreas oceânicas sofreram processos de regressão marinha, redesenhando a planície litorânea gaúcha. São então formadas extensas planícies de inundação que constituem os chamados “Banhados do Taim” caracterizados por fauna e flora muito singulares. Na transgressão marinha que acompanha o último episódio de glaciação, parte das águas permaneceram retidas na região, na forma de uma sucessão de lagoas, lagunas e banhados intercomunicados entre si e com o mar, responsáveis pelo delicado equilíbrio ecossistêmico do local.

Estas áreas são hegemonicamente caracterizadas pelos avanços e recuos marinhos. Os banhados do Taim apresentam diversificados ecossistemas representados por praias lagunares e marinhas, lagoas, pântanos, campos em baixios, cordões e campos de dunas de origem eólica,, potencializadas pela geografia plana e a disponibilidade de areias e siltes arenosos para o transporte eólico.

Este conjunto físico determina um peculiar equilíbrio entre espécies faunísticas e florísticas, inigualável em suas condições climáticas, análogo ao pantanal mato-grossense. A estação ecológica é atravessada em toda sua extensão pela BR 471 que se dirige para o Uruguai e é cercada em partes por esta estação, onde também é as duas laterais da rodovia são unidas por túneis que permitam a livre e segura movimentação faunística.

São catalogadas cerca de 30 espécies de mamíferos e cerca de 250 espécies de aves, com destaque para o joão-de-barro, biguá, maçarico-preto, garça-moura, ximango, martim-pescador e várias espécies de marrecas. Entre os animais de maior porte se destacam tartarugas, capivaras, que são as maiores beneficiárias dos túneis ao longo da rodovia, lontras e jacarés-de-papo-amarelo.

Além das mais de duas centenas de aves identificadas, sendo quase 30 de aves migratórias do hemisfério norte, foram identificados quase 60 espécies de répteis, pouco menos de 30 espécies de anfíbios, cerca de 40 tipos de mamíferos e mais de 50 variedades de peixes.

A flora é muito diversificada, apresentando espécimes de figueiras, corticeiras, orquídeas, bromélias, cactos e juncos. A grande quantidade de água-pés e outras enraizadas favorece a presença de capivaras, que a despeito de seu tamanho, exibem dificuldades de se alimentar de gramíneas com enraizamento profundo.

A estação ecológica do Taim protege um dos mais singulares ecossistemas do país, proporcionando meios para universidades e outras instituições realizarem seus estudos ecológicos. Predominam na área os ecossistemas de origem límnica e de planície marítima em quase 2/3 do total da área.

O Taim é parte importante de um sistema hidrológico que conecta as lagoas Mangueira e Mirim de forma natural e se liga a Lagoa dos Patos através do canal artificial de São Gonçalo, obra de intervenção antrópica, resultando num conjunto grandioso de grande interdependência. O Taim integra um sistema que patrocina atividades extrativistas, agropecuárias, agrícolas e de silvicultura, promovendo o sustento de populações. A frágil planície foi sempre ocupada por ações de pastoreio. A fragilidade decorre hegemonicamente do substrato arenoso dos terrenos da região, que armazena poucos nutrientes e reduzida quantidade de matéria orgânica. O que pode gerar desertificação a médio ou longo prazo.

Equivocadamente, ao final do século passado, a silvicultura foi incentivada na região com “benesses” fiscais, gerando a introdução de espécies exóticas, que aumentaram os impactos ambientais. Geralmente estas árvores eram grandes consumidoras de recursos hídricos, ocasionando e patrocinando maiores desequilíbrios, sendo a drenagem de áreas alagadiças para implantação de florestas, o maior dos impactos. Com a supressão brusca de alagamentos, grande quantidade de anfíbio, répteis e outros organismos foi drasticamente afetada.

O cultivo de arroz em partes da planície interligada, também causou muitos impactos pelo elevado consumo de água e pela dispersão causada em herbicidas e outros agrotóxicos utilizados nesta lavoura. A quantidade e qualidade da água do local é um elemento crucial para o equilíbrio ecossistêmico local e a manutenção dos ciclos de vida de várias espécies de aves, residentes ou migratórias e para espécies de répteis, peixes, mamíferos, anfíbios, insetos e diversos tipos de micro-organismos.

A denominação do banhado se origina pela fonética da fêmea de uma espécie de ave, pouco maior que uma galinha, chamada Tachã, cujos primeiros espécimes migraram dos territórios próximos do Uruguai. Enquanto o macho elabora um grito que se aproxima de “tahã” o alarido da fêmea equivale a uma fonética próxima a “tahim”.

A Estação Ecológica do Taim é estratégica para o equilíbrio ambiental de todo continente, sendo utilizada para alimentação e reprodução de aves do ambos os hemisférios. Aves de todo tipo procuram o Banhado do Taim, pois o lodo, o limo e as algas do banhado e de suas lagoas servem de alimentação para um caramujo denominado pomácea, que serve de alimento para várias espécies de aves, que se alimentam também de pequenos peixes. Existem mais de duas centenas de aves catalogadas na região.

A sensação de imensidão ou infinitude propiciada pela observação da extensiva planície de banhados e lagoas interligados que constitui a área da reserva, é uma experiência singular e inesquecível, além da percepção gerada pelo delicado e notável equilíbrio ecossistêmico do local.



Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.

Fonte: EcoDebate

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