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terça-feira, 22 de novembro de 2016

Crise civilizatória e sociologia ambiental, parte 1/6, artigo de Roberto Naime

BORINELLI (2007) destaca que desde os anos 70 do século passado, a sociologia ambiental vem procurando relacionar as causas da degradação e da crise ambiental com a estrutura institucional vigente nas sociedades ocidentais.


As vertentes norte-americanas e da modernização reflexiva da sociologia ambiental são analisadas.

Apesar das relativas diferenças na identificação das instituições responsáveis pela crise ambiental de cultura de consumo, economia, Estado e ciência e tecnologia. E na crença de reversão dessa crise, quase todas as correntes tendem a dar pouca atenção às relações de poder entre os sistemas político e econômico e à desigualdade social decorrente dessas relações.

A autopoiese sistêmica dominante necessita ser alterada. Pois hoje só o consumismo garante a manutenção dos círculos virtuosos da sociedade.

O aumento de consumo gera maiores tributos, maior capacidade de intervenção estatal, maior lucratividade organizacional e manutenção das taxas de geração de ocupação e renda.

No entanto, o consumismo precisa ser substituído pela idéia de satisfazer as necessidades dentro de ciclos.

Por isso se sabe que leis e normas e regimes políticos, não vão resolver os problemas, embora sejam relevantes.

O socialismo que ocorreu também incrementava crescimento contínuo, incompatível com o caráter finito dos recursos naturais.

A civilização humana determinará nova autopoiese sistêmica, na acepção livre das concepções de Niklas Luhmann e Ulrich Beck.

Que contemple a solução dos maiores problemas e contradições exibidas pelo atual arranjo de equilíbrio, o “sistema” vai acabar impondo uma nova metamorfose efetiva.

A obra dos sociólogos ambientais Frederick H. Buttel e David Goldblatt, sustenta as reflexões. A sociologia ambiental é uma área de especialização relativamente recente, fruto do desafio colocado pela emergência e reconhecimento social dos problemas ambientais nas sociedades contemporâneas. Ainda é um campo em processo de consolidação que enfrenta problemas inerentes à complexidade do tema ambiental e à própria constituição da sociologia como área de conhecimento.

A sociologia tem historicamente uma relação ambivalente com as ciências naturais e com a biologia, que se caracteriza por um movimento pendular de aproximação e de rejeição.

A sociologia ambiental se viu diante do desafio de compreender os fenômenos socioambientais partindo de uma disciplina que tendeu a negligenciar a consideração da dimensão biofísica da realidade e seu potencial como fator explicativo dos processos sociais (BUTTEL, 1992; LIMA e PORTILHO, 2001).

Valendo-se das mais diversas perspectivas disciplinares materialistas e construtivistas, a sociologia ambiental possa ser entendida como o esforço para compreender, nas relações entre sociedade e meio biofísico, as causas e as implicações sociais da degradação ambiental e as prováveis, e mesmo improváveis, condições para a resolução da crise ambiental.

A abordagem sociológica e antropológica alicerça movimentos da sociedade que propugnam alterações ideológicas como apanágios para a solução de problemas ambientais. Não ocorre encaminhamento de soluções, pois tanto vertentes socialistas como da livre iniciativa rezam pela cartilha de crescimento permanente como forma de incrementar círculos econômicos virtuosos.

No entanto, as mudanças podem começar logo, juntando as lutas singulares, os esforços diários, os processos de auto-organização e as reformas para retardar a crise, com uma visão centrada numa mudança de civilização e uma nova sociedade em harmonia com a natureza.

Não é preciso esperar catástrofe ecológica ou hecatombe civilizatória para determinar nova autopoiese sistêmica.

Os ecossistemas são formados por elementos orgânicos e inorgânicos: aglomerados de flora, fauna e microrganismos diversos, solo, água, formas geológicas e atmosfera. Eles existem em uma interligação dinâmica entre si. Esta ligação se dá por meio de cadeias alimentares, ciclos minerais e hidrológicos e pela circulação de energia.

Recorrendo a uma série de mecanismos homeostáticos, os ecossistemas podem alterar-se em torno de um ponto de equilíbrio dinâmico. Ao longo de milhares de anos, estas condições transformaram e foram transformadas pela atividade humana, que aprofunda os conhecimentos e o grau de intervenção sobre estes ciclos à medida que aprimorava os sistemas produtivos e os conhecimentos científicos e tecnológicos.

Em sua relação com o meio ambiente, as sociedades impõem exigências gerais como a provisão de recursos energéticos e de matérias-primas renováveis e não renováveis, como combustíveis fósseis e energia solar, ferro e madeira.

E certos sistemas essenciais para a vida, como a provisão de uma atmosfera respirável, o controle homeostático de certas pragas e doenças, uma certa estabilidade do clima e do ciclo hidrológico e a prestação de serviços ambientais ou ecossistêmicos, absorvendo a poluição, arrastando os resíduos pelas águas e fertilizando os solos, conforme GOLDBLATT, 1996.

A ruptura do equilíbrio de ecossistemas se mostrará em diversos momentos da história em diferentes graus de gravidade, extensão e causas, naturais ou sociais.

O que se destaca nas sociedades industriais contemporâneas é a escala assombrosa de riscos e perigos ambientais fabricados a partir do próprio funcionamento normal destas sociedades em seus padrões de apropriação dos recursos naturais.

Este novo quadro vem nas últimas décadas ampliando e complexificando a ideia de problemas e crises ambientais, até alcançar a sociedade de risco de Ulrich Beck.

Assumindo que nem a utilização dos recursos naturais nem os resíduos decorrentes desta utilização são em si um problema ambiental, é possível concluir que a crise ambiental surge de uma contradição entre o ritmo dos ciclos bio-geo-químicos e o ritmo dos ciclos de produção humana com seus respectivos níveis de depredação e contaminação (TOMMASINO e FOLADORI, 2001).

São exemplos disso a contaminação em grande escala dos recursos hídricos e do solo, o aquecimento global, a devastação das florestas, a extinção de espécies animais e vegetais, entre outros.

Compreende-se as instituições como o conjunto especial ou específico de normas e relações que canalizam comportamentos a fim de atender necessidades físicas humanas, psicológicas e sociais tais como consumo, governo, proteção, união primordial e sentido humano, crença humana, socialização e aprendizagem.

Assim, como expõe BORINELLI (2007), os complexos institucionais mais específicos poderiam ser nominados de econômico, político, família, religioso e educacional, geralmente considerados pela sociologia os mais importantes (BUTTEL, 1997, p.40).

Embora autônomas e especializadas, estas esferas institucionais encontram-se inter-relacionadas. A natureza desta interação vem sendo objeto central da sociologia clássica, que busca definir quais instituições são as predominantes e como afetam ou modelam outras e os processos, condições ou fatores que determinam os padrões de influência ou dominância.
Uma das questões centrais nos principais debates e pesquisas da sociologia ambiental vem sendo a definição de quais instituições sociais vem exercendo o papel mais crucial em termos das relações do ambiente biofísico e mudanças ambientais, conforme BORINELLI (2007).

Desde o seu surgimento na década de 1970, o conhecimento produzido na sociologia ambiental tem, sob diversos arranjos e influências, tem se detido sobre os sistemas econômicos, políticos e culturais (BUTTEL, 1997).

Referências:

ACSELRAD, H. Justiça ambiental: ação coletiva e estratégias argumentativas. In: ACSELRAD, H.; HERCULANO, S.; PÁDUA, J. A. (Org.). Justiça Ambiental e Cidadania. Rio de Janeiro: Relume Dumará; Fundação Ford, 2004.

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BUTTEL, F. H. Sociologia ambiental, Qualidade Ambiental, e Qualidade de Vida: Algumas observações Teóricas. In. QUALIDADE de Vida e Riscos Ambientais. Selene C. Herculano, Marcelo Firpo de Souza Porto, Carlos Machado de Freitas (orgs). Niterói: EdUFF, 2000.

DUNLAP, R. E. The evolution of environmental sociology: a brief history and assessment of the American experience. In. REDCLIFT, M. & WOODGATE, G. (orgs.). The International Handbook of Environmental Sociology. UK: Edward Elgar, 1997.

DALY, H. (org.) Medio ambiente y desarrollo sostenible. Trotta Ed., Madrid, 1997.

GIDDENS, A . As Consequências da Modernidade. São Paulo: Ed Unesp, 1991.

GOLDBLATT, D. Social Theory and the Environment. London: Polity Press, 1996.

GUIVANT, J. S. A teoria da sociedade de risco de Ulrich Beck: entre o diagnóstico e a profecia. Estudos Sociedade e Agricultura, n. 16, abr. 2001, p. 95-112.

HANNIGAN, J. Environmental Sociology London: Routledge, 1997.

HAY, C. Environmental security and state legitimacy. Capitalism, Nature, Socialism, vol. 5 (1), mar. 1994, p. 83-97.

LASCH, S. Sistemas especialistas ou interpretação situada? Cultura e instituições no capitalismo desorganizado. In. GIDDENS, A, BECK, U., LASCH, S. Modernização Reflexiva: política, tradição e estética na ordem social moderna. São Paulo: UNESP, 1997.

LIMA, G. F. C. e PORTILHO, F. Sociologia Ambiental: formação, dilemas e perspectivas. Revista Teoria & Sociedade. UFMG. Belo Horizonte, n.7, jun. 2001, p. 241-276.

MARTÍNEZ ALIER, J. Da Economia Ecológica ao Ecologismo Popular. Blumenau, SC: Ed. FURB, 1998.

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O’DONNELL, G. Uma outra institucionalização. São Paulo, Lua Nova, n 37, 1996, p. 5-32.

SANTOS, B. S. Pela Mão de Alice: o social e o político na pós-modernidade. São Paulo: Cortez, 1995.

TOMMASINO, H. e FOLADORI, G. Certezas sobre la crisis ambiental. Ambiente & Sociedade, ano 4, n. 8, 1º sem. 2001, p. 49-68.

BORINELLI, Benilson, Instituições e Crise Ambiental: Contribuições da Sociologia Ambiental, Serviço Social em Revista, Volume 9 – Número 2, Jan/Jun 2007



Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.

Fonte: EcoDebate

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