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sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Cemitério da Consolação instaura sindicância para apurar ossos jogados em lixo

Os ossos de um cadáver enterrado na década de 1990 no Cemitério da Consolação, na região central da capital paulista, foram jogados em uma caçamba de lixo após exumação do corpo no sábado, 7. Os restos mortais de um homem chamado Antonio Rocha, que foi sepultado no dia 19 de junho de 1996, foram encontrados por uma pessoa que trabalha no local e denunciou o caso à Polícia Civil.


Um boletim de ocorrência por vilipêndio a cadáver – que pode resultar em até três anos de prisão – foi registrado no 4º Distrito Policial (Consolação).

“Nunca vi isso acontecer”, disse à reportagem o delegado Eduardo Luís Ferreira, responsável pelo caso. Ele foi ao cemitério na segunda-feira, 9, após receber denúncia anônima de que um crânio estava jogado no meio do lixo em uma caçamba. Dois corpos tinham sido exumados naquele dia. Nestes casos, o procedimento padrão é catalogar os restos mortais, ensacá-los e depositá-los no mesmo local.

A administração disse à polícia que “desconhecia” o fato e instaurou uma sindicância para apurar o que aconteceu. A suspeita é que o descarte foi feito pelo próprio coveiro, que será ouvido pela polícia.

Para identificar de onde vieram os ossos, os policiais fizeram buscas nos assentos de exumação recentes, já que a caçamba de lixo tinha sido deixada no local quatro dias antes. Chegaram ao túmulo de Rocha depois de constatar que havia “pequenos pedaços de material que seria osso humano” na frente da sepultura e, no interior, um saco com parte dos ossos, mas sem o crânio. Os restos foram devolvidos à cova sem realização de perícia.

A exumação aconteceu, segundo o Serviço Funerário, a pedido da família. O procedimento só pode acontecer depois de três anos do sepultamento e é feito um registro com o nome do sepultado e do concessionário do túmulo, data de sepultamento, data de exumação e endereço do jazigo. Só após este procedimento é que a família define o destino dos restos mortais. A reportagem não conseguiu localizar familiares de Rocha.

Embora o delegado tenha afirmado que não haja histórico de outros episódios de descarte irregular de restos mortais, funcionários que atuam no entorno do cemitério ouvidos pela reportagem disseram que a prática já aconteceu outras vezes no ano passado.

A reportagem localizou o denunciante anônimo que passou as informações à Polícia Civil. “Jogam lixo em cima para disfarçar. Se buscarem nos túmulos, não vão achar mais nada”, disse. “Eu já vi outras vezes, mas antes não tinha celular para provar. Agora está fotografado.”

Furto

Durante visita ao cemitério, a reportagem flagrou dois moradores de rua sendo capturados pela Guarda Civil Metropolitana (GCM) depois de terem furtado duas peças de bronze no local e tentarem fugir. Sandro Nelson Beltrano de Oliveira, de 43 anos, e Vagner Melo Coelho, de 38, foram vistos em “atitude suspeita” pelos GCMs e, ao serem abordados, confessaram o crime.

Casos como este são comuns no local. “Eles vão levando assim, de pouquinho em pouquinho, de peça em peça. Se deixar eles roubam tudo”, disse um guarda civil que atendeu a ocorrência à reportagem.

Em julho do ano passado, a reportagem encontrou mais de 50 túmulos saqueados no cemitério. Entre os itens furtados estavam portas de jazigos, placas de identificação e adornos feitos de mármore, bronze ou cobre. A Prefeitura disse que estudaria a instalação de câmeras no local, mas o processo não avançou até agora.

O diretor do Movimento em Defesa do Cemitério da Consolação (MDCC), Francisco Machado, criticou a situação do cemitério. “Pedimos guarita com seguranças para inibir esse tipo de ação dos criminosos”, disse.

Ele lembra que o grupo já foi ao Ministério Público Estadual (MPE) para denunciar a falta de manutenção dos cemitérios da capital – um inquérito foi instaurado no ano passado.

Fonte: Revista Isto É

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